Thursday, December 28, 2006

VOTOS DE FELIZ ANO NOVO!

Aê criançada! Muita alegria em 2007 e após... Comam pizza, hambúrger, risoles e mandioquinhas fritas, mas lembrem de balancear com alguma coisa sem graça também. Não percam os dias de jogatina, eles são o máximo!

Beijos e abraços!!!

Reflexões aleatórias de um fim de ano conturbado

Eu sei o que eu quero. Mais que isso, eu sei o que eu sinto. Ótimo, até aqui, maravilha... Sei distinguir entre dois eus quase antagônicos... Aquele mergulhado no imediato e um outro para quem o presente não existe. Falta um pouco de habilidade na hora de apartar a briga desses dois, que são sempre sérias. Mas, em contrapartida, me divirto consideravelmente vendo a zona que eles fazem.

Fui jogar fora umas coisas velhas e achei um caderno cheio de notas. Carregava o caderno comigo e escrevia as coisas mais estranhas que me ocorriam, que eu via, que eu ouvia.

Eu vejo as pessoas em volta de mim, as vejo mais do que parece. Talvez, tudo bem, eu ignore muitas coisas, meu olhar sobre as coisas é, afinal, fundamentalmente diferente. Mas se por um lado sou cego para coisas que todo mundo vê facilmente, vejo rápido, em detalhes, coisas que poucos vêm. O que faz de mim às vezes perspicaz, às vezes louco.

Pensamentos para 2007? Preciso de mais egoísmo. Do tipo bom. Acredito cada vez mais no poder de elevação espiritual do egoísmo. Egoísmo nos olhares, nas réplicas, nas atitudes... Não confundir egoísmo com filha-da-putagem é fundamental para entender esse comentário e sua importância. Eu sei o que eu quero é foi muitas vezes a falta desse tipo saudável de egoísmo que levou a hesitações estúpidas das quais agora quase me arrependo.

Pra cantar

Sempre bom conhecer mais detalhes né...

Então vai um Curso de fisiologia vocal.

Estou procurando mais coisa que preste a respeito, com aquecimentos, exercícios e afins... Mas é meio demorado achar algo que preste, nesse tema, na net...

Jornal sobre música

Achei umas coisas interessantes e vale deixar aqui o link para o Jornal Musical.

Para achar em sebos

O título é pra não deixar dúvidas de que é obra para integrar a sua coleção "Mamãe, quero ser nerd". Trata-se do livro "Geoquímica Recreativa", escrito pelo empolgado A. E. Fersman e publicado, em 1967, pela Editôra Fulgor Limitada. Apesar da nerdice do título, o livro é muito bom e bem escrito. Para quem quiser saber mais sobre pedras (ou aerolitos), ou materiais diversos, ou simplesmente não tiver absolutamente porra nenhuma pra fazer e estiver a fim de matar o tempo, é uma boa leitura.

Músicas

Uma trilha sonora imensa, própria para deixar ligada no trabalho, com muitas músicas fantásticas para os dias em que te tiram do sério (sim, várias das músicas são bem macabras). Procure pelo trabalho de Danny Elfman, o cara que faz trilha sonora pra tudo o que é filme (bom).

PROBLEMAS EXPERIMENTAIS PARA VALIDAÇÃO DE PERCEPÇÃO EXTRA-SENSORIAL

A proposta é um experimento simples. Entrevistador e entrevistado têm diante de si uma lista com um certo número de itens. Estes itens podem ser, digamos, uma lista de cores. O entrevistador então escolhe ao acaso uma das cores, concentra-se nela, ou mesmo imagina o entrevistado envolto por uma núvem da cor escolhida, e então este deverá dizer qual é a cor imaginada. Chamemos este de experimento do tipo I. Uma outra variante do experimento diz respeito a preencher inúmeros papéis, cada um com um nome distinto de uma cor, embaralhá-los e escolher então um ao acaso. O entrevistado deve dizer qual é a cor escrita no papel escolhido e então este é virado para comprovar a validade da adivinhação. Consideremos aqui que este é o experimento do tipo II.

A hipótese que está sendo testada aqui é a de que é possível a transmissão de informação diretamente de uma mente a outra, ou talvez de um espírito a outro (assumindo aqui também a hipótese de que esta informação não estaria contida apenas em um substrato material). Entretanto, segundo algumas das explicações propostas para o caso em que tal hipótese se mostrasse correta, a realização deste experimento torna-se extremamente complexa.

Uma destas explicações que mais procura estar de acordo com o estado atual da física diz respeito à problemática do colapso da função de onda. Em resumo, a física moderna não trata de cada partícula que compõe o mundo material como se esta fosse uma bolinha de bilhar. Ao invés disso, cada partícula é descrita por uma função que nos diz qual sua probabilidade de ser encontrada em determinada região do espaço. Assim, na mecânica quântica, não faz sentido nos perguntarmos se um elétron está na posição número cinco sobre um eixo orientado, por exemplo. Faz sentido apenas nos perguntarmos qual a probabilidade de que ele esteja entre as posições quatro e meio e cinco e meio, por exemplo. A cada observação, um fenômeno diferente será observado, obedecendo estas leis de probabilidade, mas a predição exata de um dado fenômeno específico torna-se uma impossibilidade.

A partir deste que é um fato consagrado da forma pela qual a mecânica quântica descreve o mundo atualmente, e passando por inúmeros exercícios de especulação, propõe-se que o pensamento, a mente humana ou a consciência humana, chamem como quiser, teria o poder de controlar o colapso de onda e afetar as escolhas aleatórias que a natureza faz ao construir o segundo seguinte.

Esta explicação é coerente com o experimento do tipo II, em que uma cor é escolhida ao acaso dentre os papéis porém não se observa qual é a cor realmente escolhida. Portanto, até que efetivamente o papel seja virado e a cor exposta aos observadores presentes, pode-se assumir que a função de onda que descreve todo o complexo conjunto físico dos papéis não esteja ainda colapsada e esteja, portanto, aberta a este suposto controle externo.

Já o experimento do tipo I não se relaciona diretamente a esta teoria pois, uma vez pensada uma cor pelo entrevistador, esta realidade física (uma informação criada e contida no cérebro do entrevistador) é imediatamente observada por ele próprio, em sua consciência. Assim, não há função de onda não colapsada nesta história. Ainda assim, é um experimento interessante pois, desde que a aleatoriedade nas escolhas das cores seja minimamente garantida, possibilitaria verificar a transmissão de informações sem um intermédio físico concreto.

Algumas dificuldades se impõe, entretanto, para a realização de um experimento que parece simples. Segundo a própria proposta (em especial no que diz respeito ao experimento II), as atividades mentais dos participantes tem o poder de influenciar o resultado final, como por meio do controle do colapso da função de onda. ora, isso significa que o observador não é mais um simples observador, ele é também parte das causas do fenômeno observado. Nestas condições, é plenamente possível argumentar em que um experimento tenha sido fadado ao insucesso precidamente porque ao menos um dos participantes não acreditava devidamente na possibilidade de êxito.

No caso do experimento I, a dificuldade viria de algum bloqueio que o entrevistador imporia às suas transmissões mentais ao entrevistado, a um possível desejo interior de que este errasse a maioria das respostas fazendo portanto com que informação errada, ou nenhuma informação, fosse transmitida no final das contas.

Exploremos as conseqüências dessas divagações. Em primeiro lugar, tem-se então que, ao olhar clássico da ciência, não temos nenhum experimento verdadeiramente merecedor deste título em curso aqui. Isso porque, para que algo possa ser considerado um experimento, ele deve se referir diretamente a alguma hipótese testável e diretamente relacionada aos seus resultados. Caso, porém, estes resultados dependam de condições incontroláveis no experimento, ou caso um mesmo resultado admita diferentes explicações (por exemplo, uma distribuição puramente estatística no resultado das adivinhações pode ser interpretada tanto como inexistência da transmissão telepática de informações como simples bloqueio mental oriundo do entrevistador ou mesmo incapacidade do entrevistado, não resolvendo o problema de decidir sobre a própria existência das transmissões telepáticas). Neste sentido, deve-se buscar imaginar que tipo de experimento seria capaz de dar conta destas limitações.

Em segundo lugar, abre-se o problema filosófico, que pode ter desdobramentos práticos na forma em que a mecânica quântica é conduzida em laboratório, de como a ciência deve armar seu arsenal experimental para os casos em que o observador, invariavelmente, tem participação no fenômeno.

A busca da relação direta com o mundo material parece ser sempre a saída mais segura. Supondo casos de 90% ou mesmo 100% de sucesso no caso do experimento I, teríamos como concorrentes as hipóteses de que a telepatia realmente funcionou e também a hipótese de que, simplesmente, o entrevistador está mentindo ou foi condicionado a pensar que o experimento funcionou por alguma peça que sua mente pregou em si própria.

Já no caso do experimetno II, com o papel escolhido disposto separadamente sobre a mesa para a observação de quantos quiserem observar os resultados, poderia ser sempre inconclusivo para provar a inexistência da telepatia nos casos de insucesso, devido a concorrência com explicações que apelam ao bloqueio mental por parte do entrevistador, porém forneceriam entusiasmantes argumentos em favor da existência da telepatia caso realmente os resultados desviassem sensivelmente das previsões estatísticas. A conclusão aqui é a de que este tipo de experimento, embora fosse capaz de provar a existência da telepatia, não seria capaz de provar sua inexistência caso seja este o fato. Assim, imaginando um mundo em que por séculos e séculos diversos cientistas se reúnem para desenvolver variantes deste processo, sem obtenção de sucesso, o que deveria ser admitido como resultado?

Fica em aberta a hipótese de fenômenos que se manifestam para os que acreditam. Supondo que não se trate de um caso de loucura, mas que realmente exista algo assim na natureza, algo que não se manifesta de forma uniforme a todos os seres mas que está, antes, condicionada pelo estado do sujeito, o que acontece com a ciência? Afinal, um dos pilares fundamentais da ciência, se não o principal absoluto, é a hipótese de que existem um conjunto homogêneo de leis por todo o universo, que regem de forma homogênea o comportamento de toda e qualquer partícula. Mas se algum ser consegue influenciar o colapso da função de onda, então para este indivíduo a distribuição de probabilidades do fenômeno final foi alterada. O que significa não só que a função de onda colapsou, mas que colapsou de forma controlada e que, portanto, implicaria em uma alteração mesmo de suas probabilidades, ao menos em termos empíricos (uma moeda tem 50% de chance de apresentar cada resultado, cara ou coroa. Porém se a experiência mostrasse uma moeda que, em mil lançamentos, apresentou novecentos resultados cara contra apenas cem resultados coroa, embora os cálculos teóricos implicassem em 50% de chance para a moeda, seríamos forçados a admitir que alguma coisa, mesmo que desconhecida, alterou a distribuição de probabilidades original). Esta observação final pode ser considerada como externa ao texto, pois é um arumento em contrário à explicação da telepatia pelo colapso de onda como algo coerente com a mecânica quântica atual.

Menos noites frias

Sim sim, é mais uma reportagem sobre aquecimento global. Clique aqui para ver a reportagem. Em breve vai se tornar viável abrir um caderno só sobre o assunto nos jornais. Você compra o jornal e escolhe o que quer ler... O caderno principal, o caderno economia, mundo, carros ou aquecimento global. Assim fica mais prático.

Nessa última notícia, o que me chamou a atenção foi a seguinte informação:

"O número de noites muito frias diminuiu 76% e o de noites quentes aumentou cerca de 72%."

Isso afeta profundamente nosso modo de viver. Noites frias são definitivamente melhores que noites quentes. O mundo vai ficar, antes de inabitável, extremamente apático.

Já há algumas semanas tem sido comum eu dormir de janela aberta e sem camiseta, coisa que nunca havia sido meu costume. Gosto de dormir, em geral, com mais cobertores que o necessário.

Saturday, December 23, 2006

Vida moderna...

Achei no New York Times uma reportagem que eu achei que nem fosse ler... Mas, no meio da inutilidade da manhã, por que não né?! "Perguntas que casais deveriam fazer antes de casar". Uma listinha com quinze perguntas, todas supostamente muito importantes para o sucesso da futura família.

Havia lá no meio questões sempre delicadas e importantes, que traduzem uma profunda necessidade de intimidade e conhecimento mútuo no casal. Já discutimos nossas expectativas sobre ter filhos e, em caso de os querer, como dividiríamos as responsabilidades? Podemos discutir abertamente nossos anseios sexuais, nossas preferências e nossos medos?

E, no meio dessas questões todas, hierarquizada como tão fundamental como todas as outras, a sintomática pergunta:

Vai haver uma TV no quarto?

E fico aqui me perguntando quantos casais teriam falhado, primordialmente, por um descompasso especificamente em torno desta última questão, de uns tempos pra cá...

Wednesday, December 20, 2006

Educação e os professores

http://www.estadao.com.br/educacao/noticias/2006/dez/19/376.htm

Eu ia comentar. Mas tô sem dormir e são 4 da manhã. Não sei se consigo comentários úteis nessas condições, então prefiro ficar quieto.

Sunday, December 17, 2006

Buzinas Desintegradoras

Alguma vez você já esteve num trânsito completamente caótico e parado, onde mal e mal sobra espaço para as motos ensandecidas aventurarem-se por entre retrovisores a não mais que trinta quilômetros por hora (embora um ou outro Chuck Norris dos guidões consiga fazê-lo a sessenta enquanto concentra-se pacientemente em sua palavra cruzada sobre o tanque de gasolina...), e ouviu então aquele som inconfundível de um buzinasso ensandecido?

Pois bem, se achava que essa buzina significava "sai da frente" e não via o menor sentido nisso pois não havia absolutamente a menor possibilidade de alguém se mexer, saiba que não é nada disso.

O Blog do Axel, que irá concorrer ao prêmio de Melhor Blog de Informações Públicas Aeatórias assim que o prêmio for criado, esclarece o fenômeno aqui em primeira mão.

Tratam-se das buzinas desintegradoras. Sim, isso mesmo. Você aperta a buzina, e um som infernal e perfeitamente sintonizado para ressoar com a estrutura molecular do veículo adiante o desintegra, e então você pode avançar mais um espaço e repetir o processo. Mas, é claro, você nunca viu nenhum carro desintegrando porque moramos em um território de terceiro mundo, onde as únicas coisas globais que realmente funcionam são o aquecimento global, o analfabetismo, as novelas e a sempre saudável máfia asiática do que quer que seja.

Aliás, a DHT Inc® (Desintegrating-Horn Technologies) tem registrado um recorde de reclamações sobre o produto. Porém, como segundo os acordos internacionais as empresas estrangeiras não são obrigadas a oferecer um serviço de qualidade superior a aquele previamente existente no país, o departamento de Telemarketing da DHT não passa nenhuma das reclamações adiantes e ainda presenteia-nos com versões eletrônicas estragadas e monocromáticas de grandes clássicos da música. Aliás,
  • telemarketing
  • é feito para mesmo para enlouquecer.

    Bom, fica a dica desse mercado inexplorado: caso você descubra como concertar as buzinas desintegradoras importadas presentes em nosso trânsito, pode até pensar em algum lobby junto aos órgãos públicos para obrigar o concerto do equipamento durante o licenciamento dos veículos, não só monopolizando o mercado mas obrigando democraticamente que todos pagem pelo serviço.

    Correr

    É difícil de explicar. Mas correr, andar por aí, ir longe a pé ou de bicicleta... São coisas de que preciso. Sinto muita falta disso quando nos períodos mais chatos a faculdade engole meu tempo e impede que isso aconteça, e me sinto muito bem quando finalmente consigo colocar a prática em dia. Revigorado.

    Há muitos comentários possíveis sobre os benefícios físicos do exercício, embora haja um bom número de razões contrária a essa prática em uma cidade poluída como São Paulo, próximo a rodovidas, etc... Mas isso compõe apenas parte da brincadeira.

    São as cenas. É incrível como o cenário muda quando você vai a pé. Parece que ele explode em detalhes. As casas ganham profundidade, detalhes nos jardins... Há tempo para comprimentar as pessoas com um breve sorriso quando olhares eventualmente se cruzam... Não é só uma questão de velocidade, pois mesmo andando devagar de carro, duvido que a experiência se reproduza nesta condição.

    E quanto aos lugares onde normalmente passamos apenas de carro, quando finalmente os atingimos a pé, muda algo no sentimento que temos com relação ao espaço ao nosso redor.

    Passo por bairros não muito apresentáveis, próximo a uma esquina dois vizinhos conversam sobre a insegurança da região. Vou seguindo pelas vielas, travessinhas... Ninguém nas ruas perigosas. Como diria um amigo meu, "aqui não tem nenhum assaltante não, eles não saem na rua com medo de serem roubados!". Crime mesmo é que as pessoas fiquem em suas casas sempre ou só saiam se puderem de algum modo continuar fechadas num certo espaço. É isso. Carro é isolamento sobre rodas, e a maior humilhação daqueles que dependem dos ônibus não é em si o desconforto da lotação, mas a privação deste espaço particular em que o contato com os outros é licitamente revogado. Crentes de que a modernidade de algum modo lhes diz respeito também, essas pessoas não se intimidam com as limitações da condição e criam o isolamento dos corpos colados.

    Será que correr de tudo isso é só meu isolamento? Que meu sentimento de que ver tantos desses lugares diferentes e sentir a conexão entre esses ambientes ao mesmo tempo contíguos e distantes é apenas minha mentira pessoal para legitimar meu tipo de isolamento preferido?

    Não é uma pergunta fácil, mas creio que gastar muito tempo investigando aqui uma resposta seria um sintoma de que a verdade pende para o lado que me desagrada. Vou ficando por aqui então, e talvez vá correr mais um pouco hoje.

    Thursday, December 14, 2006

    No semáforo

    [Entre o motorista, que vai baixando o vidro da janela, e o pedinte que se aproxima mostrando um papel protegido por um plástico velho]

    - Opa! Será que o senhor não poderia me arrumar um trocado? É que eu sou ex-presidiário e estou precisando inteirar minha passagem pra Cuiabá.

    - Cuiabá?! Nossa!

    - É, bem longe!

    - Mas, por que você foi perso?

    - Tráfico, mas tô nessa mais não...

    [O motorista abaixa-se e vai procurando algum dinheiro em sua carteira, até encontrar uma moeda de um real]

    - Tó, toma aqui!

    - Deus lhe abençoe, muito obrigado mesmo viu!

    - Opa, tamo aí!

    [O semáforo se abre e então segue-se a conversa entre o motorista e o passageiro]

    - O que ele falou que fez?

    - Era traficante, foi preso.

    - Nossa! E você deu um real pra ele?

    - Dei! Não viu ele falando que ia pra Cuiabá?

    - E aí?

    - Que saia da cidade né, se eu tivesse mais dinheiro na hora, dava mais!

    Mais um grande mamífero extinto

    A notícia é do Estadão, em http://www.estadao.com.br/ciencia/noticias/2006/dez/13/226.htm.

    Wednesday, December 13, 2006

    Ciência avançada

    http://www.estadao.com.br/educacao/noticias/2006/dez/13/289.htm
    A manchete é: "Olimpíada de Ciências termina em fiasco no Brasil".

    Fiasco? A catástrofe organizacional desta Olimpíada de Ciência é a aula que todos os futuros cientistas e pensadores precisam. O conhecimento introjetado de que, a parte tudo o que se conheça e domine, o realizar das coisas passa e continuará passando pela disposição irracional da sociedade circundante. É essa irracionalidade que deve ser dominada. Dominar pedras, pêndulos, elétrons ou ondas é até que fácil. Quero ver controlar pessoas.

    Tuesday, December 12, 2006

    Modus Operandi

    Qualquer um que se disponha a ler um livro chamado "Geoquímica Recreativa" deve estar preparado para coisas inusitadas. Por hora me detenho na seguinte frase, que aparece logo nas primeiras páginas:

    "Não se pode esquecer que, na história da ciência, os métodos novos têm mais importância do que as novas teorias."

    A frase é, no mínimo, chocante à primeira vista. Mas há por trás dela uma inquietante verdade.

    Sunday, December 10, 2006

    Talk Show

    - Nossa, que coisa . . . Por que é que eu não me apaixonei por você, hein?

    - Porque você é meio burra, convenhamos . . .

    Esclarecimento importante

    - Cara, lá é um lugar tão chique que o prato custa uns cem reais, só pra você ter uma idéia.

    - Nossa!

    - É! E com comida em cima é ainda mais caro!

    Hot news!

    O aquecimento global está aí. É tão concreto como a corrupção no governo brasileiro, a ineficiência das dietas do tipo "faça você mesmo" e a tosquice das propagandas que terminam com um sempre fantástico "ligue agora e receba inteiramente grátis esse brinde super inútil!". O aquecimento global é até mais concreto e mais perturbador que a depressão psicológica provocada por exposições continuadas a programas como A Praça É Nossa ou Zorra Total. Mas, diferentemente de todos esses exemplos, é algo que não afeta apenas os seres aprisionados a um determinado estilo de vida humana. Conseguimos, finalmente, desenvolver algo que envolve, sem distinção, todos os humanos, não importando de que lado da ciranda capitalista estejam brincando. Não importando idade, sexo ou falta dele, time preferido ou mania peculiar para uma manhã de domingo. Aliás, verdade seja dita, não importa nem se você é humano ou não. Tanto faz se você é um animal, uma ave, um fungo, uma rocha ou um mega blogo de gelo boiando por aí. Sua cota no aquecimento global está garantida. É um grande triunfo da humanidade, creio. Temos que nos orgulhar do aquecimento global, e deveria existir um dia dedicado a ele; ONG's deveriam desde já ser criadas para preservar, em detalhes, a memória deste mais magnífico feito de todos. O aquecimento global é, afinal, a primeira criação realmente democrática já alcançada pela humanidade. É o primeiro item produzido pelo mundo ocidental a se tornar, no mais belo dos sentidos, um produto genuinamente global. Os críticos menos otimistas poderiam contrapor algum caráter ditatorial nessa democratização, afinal para os sapinhos úmidos das montanhas do Panamá, assim como para vários outros seres que não estavam muito nem aí, nenhuma opinião foi pedida e nenhum direito de rejeição oferecido. Mas é assim o curso da humanidade: inventamos as coisas, e numa primeira rodada sua aplicação é meio desastrosa, desengonçada, atribulada. Depois é que vamos aprendendo a fazer direito. É claro que o aquecimento global ainda tem muito por evoluir, mas se em décadas recentes carecíamos do surgimento de um novo mito humano (com avião, espaçonave, computador e laser, televisão, videogame e comida delivery todos já inventados e dominados, o que forneceria um novo horizonte?), é hora de comemorarmos a conquista do mundo. Essa casa é nossa e a estamos deixando um lugar mais quentinho. Aconchegante, não?

    Notícias recentes sobre o maior Holo....... (holocausto envolve só humanos)..... notícias recentes sobre esse grande Biocausto:

    Calor no outono ameaça deixar a Europa sem neve no inverno
    http://www.estadao.com.br/ciencia/noticias/2006/dez/08/284.htm

    Vast African Lake Levels Dropping Fast
    http://www.nytimes.com/aponline/world/AP-Warmer-World-African-Lakes.html?_r=1&oref=slogin

    Geleiras na China diminuem 7% ao ano
    http://www.estadao.com.br/ciencia/noticias/2006/mai/02/165.htm

    Aquecimento global enfraquece ventos no Pacífico
    http://www.estadao.com.br/ciencia/noticias/2006/mai/03/145.htm

    Corais do Caribe sofrem devastação recorde
    http://www.estadao.com.br/ciencia/noticias/2006/mar/31/194.htm

    Aquecimento global ameaça a Ilha de Marajó
    http://www.estadao.com.br/ciencia/noticias/2006/abr/11/147.htm

    Study on Phytoplankton
    http://www.nytimes.com/2006/12/07/science/07brfs-WARM.html

    Global Warming Unstoppable for 100 Years, Study Says
    http://news.nationalgeographic.com/news/2005/03/0317_050317_warming.html

    Um livro recomendado para reflexões sobre o futuro dessa merda toda:
    "O Fim da Evolução"
    de Peter Ward

    Holocausto

    Há um texto, se não me engano de Theodor Adorno, chamado "Educação após Auschwitz". É, salvo pela devida ordenação cronológica das autorias, uma ótima resposta à polêmica levantada pelo presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad. A reportagem de interesse está no link abaixo (espero!):

    http://www.estadao.com.br/ultimas/mundo/noticias/2006/dez/09/48.htm

    Monday, December 04, 2006

    PT-NYJ

    Check pré-vôo. Seis litros e meio de óleo, o mínimo indicado para um Tupi. Completamos com mais um litro. Cabine preparada, cintos passados. Fonia. Tudo em ordem com a fonia. Chamar o solo Marte. Aguardar autorização para táxi. Cabeceira 30. "Operamos sem flape aqui". Tudo bem, sem flape então. Segura no freio, potência máxima, observa indicações.... Libera freio... Na corrida vou me re-familiarizando com o controle direcional. Cinquenta e cinco nós, leve alívio no manche. Sessenta e cinco, tira do chão com suavidade, e um pedalzinho para corrigir o vento e manter o eixo. As casas à frente vão se aproximando mais do que eu gostaria. "Tá, pode dar um dentinho de flape...", não era só eu incomodado com aquela subida. Aproamos a posição "pedágio", e ao cruzar seu través comunicamos ao controle nossa intenção de prosseguir para toque e arremetida. O pouso foi bom, apesar de eu ter deixado o "yankee jouliet" pular um pouco e subir pelo menos um metro e meio novamente. O importante é que briguei contra meu próprio erro e corrigi o pouso sem maiores problemas e sem a intervenção do instrutor. Potência a pleno, flapes recolhidos, observando a velocidade indicada até retomar os sessenta e cinco nós... No ar novamente. O pouso de volta em Marte foi um tanto quanto melhor. Devido a um Seneca um tanto quanto perdido e a um Citation II que vinha chegando sei lá eu de onde, mas bem rápido, fomos solicitados pela torre a fazer uma aproximação mais rápida. Pouco depois de cruzar o través da trinta, motor cortado, e aproximação no planeio mesmo, observando a velocidade. Vou buscando o alinhamento na final, um pequeno motorzinho na curta final (sabia que poderíamos ter atrasado um pouco os flapes...), e dessa vez um arredondamento mais tranquilo, deixando flutuar até que o avião mesmo resolvesse pousar, sem a mesma briga de Jundiaí. Depois de três anos longe do Paulistinha, uma coisa é certa... Escolher fazer a fase inicial do curso no P-56 foi a melhor das escolhas, afinal o que me sobrou de pé e mão atrofiados depois de todo esse tempo ainda foi mais que o suficiente para cuidar bem do Tupi nessa retomada relâmpago.

    Sunday, December 03, 2006

    Ponderações alheias

    "O neurótico constrói um castelo no ar. O psicótico mora nele. O psiquiatra cobra o aluguel." (Jerome Lawrence)

    "É bom saber que se eu for suficientemente estranho a sociedade vai me aceitar e tomar conta de mim." (Ashleigh Brilliant)

    "O homem de bom senso jamais comete uma loucura de pouca importância." (Goethe)

    "O louco quando dá conta de seu desequilíbrio, fica absolutamente bom." (Autor desconhecido)

    "O que me faz rir não é a nossa loucura, é a nossa sabedoria." (Michel de Montaigne)

    "Por que será que, quando falamos com Deus, dizem que estamos rezando, e quando Deus fala conosco dizem que somos esquizofrênicos?" (Autor desconhecido)

    "Ira brevis insania"

    "Libri quosdam ad scientiam, quosdam ad insaniam deduxere."

    Cartesianalisando

    Daí dividimos as origens dos problemas em duas linhagens principais, com a conveniência de que elas podem ser interpretadas tanto de uma perspectiva física (e, portanto, econômica) como de um ponto de vista mais sociológico ou até psicológico:

    - a síndrome da transferência de responsabilidade

    - a crise da alocação de recursos

    Saturday, December 02, 2006

    Metaphisics

    And then we have all become so blind that we no longer believe in walls.

    Tuesday, November 28, 2006

    Rascunho às pressas, meio jogado

    Em uma das memoráveis passagens do livro "O Homem - uma introdução à antropologia", Ralph Linton mostra magestralmente como a sociedade moderna é caracterizada antes por um complexo agregado de vários desenvolvimentos culturais independentes que pela capacidade de produzir rapidamente um grande desenvolvimento inédito para a solução de um problema. Explico: em seu livro, Linton mostra como o cenário material da vida moderna, desde nossos travesseiros, camas, até nossas roupas, as idéias de desenho de nossas cidades, nossas casas, nossa alimentação e etc, surgiram inicialmente longe do que se pode entender como "civilização ocidental" sendo, porém incorporadas a esta ao longo do tempo de tal forma a hoje constituir nossa realidade como se esta fosse um quadro único e maciço ao invés de um mosaico onde os encaixes foram lapidados ao longo do tempo. Seguindo mais ou menos o mesmo raciocínio, porém de forma mais lúdica, o programa Conexões 3, exibido tempos atrás no Discovery Channel, mostrava como uma série aparentemente incoerente de eventos, pessoas e acasos se conectava culminando em alguma invenção importante ou em algum evento histórico relevante. Pretendo aqui fazer uma breve revisão do conteúdo visto nas aulas de geologia e prospecção do petróleo, buscando dar à dissertação este mesmo enfoque: tentarei, neste curto espaço de tempo disponível para a prova, agregar informações históricas e casuais que tanto culminam com a viabilização da exploração comercial do petróleo e gás em larga escala como também, na outra ponta deste processo histórico, modifica a sociedade de acordo com os caprichos da natureza.

    Enquanto escrevo este texto e tento expandir alguma pesquisa, utilizo um teclado plástico e olho para um monitor de cristal líquido composto também por materiais sintéticos. Em meu pulso, um relógio com pulseira de borracha. A mesa é revestida com fórmica e a tinta que dá cor às paredes deste ambiente utiliza-se de inúmeros hidrocarbonetos. O petróleo e sua indústria estão em toda a parte, e embora o emprego como fonte de energia seja uma de suas mais essenciais e intensivas aplicações, o alcance de seus derivados em nossa vida vai muito além. Faça esse exercício: olhe ao seu redor e elimine deste cenário tudo aquilo que depende do petróleo para existir. Poucos são os ambientes que resistiriam bem a este exercício mental. Isso sem falar no número de eventos de ordem política e mesmo militar que habitam quer seja nossa história ou nosso presente que estão também intimamente ligados ao petróleo. Mas como a humanidade pôde desenvolver esta "petroleocracia"?

    A resposta a esta pergunta é uma descrição quase caótica de um íntimo casamento entre aleatoriedades das mais diversas espécies com esforços de mentes brilhantes em busca de respostas específicas. É a convergência deste borbulhar de interação entre abstração e exploração, entre o acaso e a necessidade. Será uma viagem rápida. Rápida porém vertiginosa.

    O surgimento do petróleo. Em contraposição à chamada teoria inorgânica, a teoria orgânica conta com o surgimento da vida para a formação de sedimentos que seriam pouco a pouco engolidos pela dinâmica geológica dos oceanos e processados por diversos agentes ambientais até sua transformação em petróleo. Não é de se estranhar, portanto, que o petróleo não esteja disponível em grandes “cavernas-tanque” escondidas, mas sim embrenhado em rochas porosas em regiões dos mais diversos formatos. Além disso, sua formação inicial foi dispersa, porém as intensas movimentações das entranhas terrestres cuidou para que logo este petróleo recém-formado fosse expulso para regiões mais altas. No caminho de fuga muitas vezes o óleo negro encontrou a superfície terrestre. Graças a esse sucesso rumo ao topo da crosta terrestre, os antigos puderam conhecer o petróleo e empregá-lo em construções nas antigas cidades de Ardericca e Zacynthus, como conta Heródoto e Diodórus Siculos. Mais precisamente, empregava-se uma espécie de piche para a impermeabilização de estradas, e o uso como fonte de iluminação também já era conhecido.

    Muitas vezes, porém, no caminho à superfície o óleo acabava encontrando alguma espécie de armadilha. Estas formaram-se devido à constante mutação da crosta terrestre ser devido a violentas forças que empurram as placas tectônicas umas contra as outras. Assim, camadas que originalmente seriam horizontais e dispostas umas sobre as outras tornam-se enrugadas e, eventualmente, chegam a quebrar em diversos pontos deslocando-se relativamente umas às outras.

    Este processo seria incompreensível até que a geologia quebrasse a idéia de que a Terra é um planeta estático e imutável. Devemos muito deste entendimento à coragem e dedicação de geólogos como William Smith, que reconheceu a repetição de padrões nas camadas sedimentares em diversas das minas de carvão nas quais trabalhou. E também à genialidade de estudiosos como o alemão Alfred Wegener, que teorizou a idéia da deriva continental permitindo que a geologia se aventurasse em uma busca de conhecimento que mais tarde permitiria um mapeamento detalhado de grandes regiões da crosta e da reconstrução de sua conturbada história.

    Acontece que, uma vez preso nestas armadilhas, o petróleo estará escondido de qualquer observador pouco preparado. Ainda assim, por improvável que seja, já no século quatro poços de petróleo com até 243 metros de profundidade eram perfurados em solo chinês. Esses poços eram perfurados próximos a regiões de afloramento do petróleo. Tratava-se, portanto, de regiões em que as armadilhas haviam “falhado”, de certa forma, em sua missão de esconder e preservar este tesouro de nossa história geológica.

    Futuramente, com a criação dos motores de combustão interna e com os novos usos que gradualmente se descobriam para infinitos processamentos possíveis sobre os hidrocarbonetos, forças sociais e econômicas convergiram no sentido de fornecer à indústria do petróleo o estado da arte das tecnologias disponíveis para exploração e extração dos reservatórios.

    A geologia une-se então cada vez mais à física em sua empreitada de reconstruir a história da crosta terrestre. Com o passar do tempo, vai ganhando poderosos aliados, como a eletrônica e a tecnologia espacial, que permitem diversas formas de enxergar o subsolo terrestre, quer seja por meio dos ecos de ondas de choques artificialmente produzidas por explosões ou fortes impactos... Ou então a minuciosa capacidade de enxergar, com precisão, pequenas mudanças no campo gravitacional e magnético da superfície terrestre, inferindo detalhes sobre sua constituição interior. Estas tecnologias podem ser empregadas a partir de veículos terrestres, marítimos, aéreos, ou mesmo espaciais, ampliando enormemente o poder de visão dos estrategistas do petróleo.

    E se por um lado a humanidade esforça-se por dominar o petróleo, o sucesso nesta conquista traduz-se em dependência e a dependência aparece como força dialética a permitir que, em contrapartida, o petróleo domine também a história da humanidade. Não é de se estranhar, portanto, que a região do Oriente Médio, onde estão as maiores reservas conhecidas de petróleo em todo o mundo, abrigue também as maiores tensões militares dos últimos tempos. Observa-se também a importância que o petróleo teve em todas as guerras do último século, como único combustível capaz de mover tropas e equipamentos com impacto suficiente para determinar o curso dos acontecimentos. O domínio das fontes petrolíferas utilizadas pelo inimigo é sempre um dos objetivos centrais de qualquer estrategista.

    Ao mesmo tempo que esta acentuada importância pressiona um rápido avanço nas tecnologias de extração e pesquisas geológicas, mostra que o domínio destas informações e recursos passa a ser também um assunto cada vez mais importante. O conhecimento da história da crosta terrestre permite prever com maior chance de acerto a localização de reservas petrolíferas significativas. O domínio de diversas tecnologias permite a exploração cada vez mais exaustiva destes recursos, com o emprego de idéias ousadas como a de poços horizontais, plataformas flutuantes suportando quilômetros de risers sobre lâminas d’água de mais de dois quilômetros...

    O petróleo vai assim produzindo um mundo cada vez mais capaz de sustentar o desenvolvimento científico e tecnológico que viabiliza a exploração de mais e mais petróleo, em um delicado equilíbrio dinâmico de mutualismo que só poderá ser eventualmente quebrado por fatores externos (mas nem por isso independentes), de ordem econômica, ambiental ou política.

    Saturday, November 25, 2006

    Falando mal de quem só fala mal

    Estive lendo ainda há pouco um artigo de Maria de Fátima de Paula, na revista Tempo Social, e ontem andei folheando o artigo de José Marcelino de Rezende Pinto, na revista Educação & Sociedade. O primeiro entitula-se "O Processo de modernização da universidade", enquanto o segundo "O acesso à educação superior no Brasil". Os artigos são interessantes e informativos, em especial o artigo de Rezende Pinto, cheio de estatísticas sobre as universidades brasileiras de algumas décadas até aqui. Ao ler os trabalhos, porém, deparei-me com um certo pessimismo que incomoda.

    O capitalismo está a solta, é um vilão a ser combatido. Está corroendo o livre pensamento e submetendo o pacifico caminhar da ciência às torturas invensíveis das invisíveis e monstruosas forças do mercado.

    O incômodo acontece não por eu discordar de que a universidade deva ser um reduto de formação e desenvolvimento de mentes críticas, mas sim por eu acreditar, e sinto mesmo que esta é a realidade desejável, que uma postura crítica não deve implicar em uma postura de criticar. Antes que eu permita nos perdermos na confusão das ambiguidades, explico: espero que criticar seja sempre a atitude de tecer novas interpretações, imaginar novas teses e testar todas essas idéias num constante confronto com a realidade, sem medo de chegar a qualquer conclusão que for.

    Mas quando criticar assume o sentido de levantar vozes em contrário, difundir o sentimento de que a atual realidade é quase o pior dos mundos e que, sem a fuga completa para um outro mundo, não há a menor esperança de melhora, então acredito que a crítica perdeu sua liberdade de pensamento para o grande vilão do desencantamento do mundo.

    Talvez, quem sabe, um socialismo devidamente realizado constitua um sistema infinitamente melhor que o capitalismo para todos os possíveis envolvidos. Ou ainda, por que não, exista um terceiro sistema que se constitua em algo muito melhor do que o melhor dos socialismos já sonhados ou dos capitalimos já fingidos. Mas estas questões, embora válidas e merecedoras de reflexão, não impedem por nenhum caminho lógico que se coloque também em pauta indagações sobre como tornar melhor o mundo atual assumindo como dadas suas principais características de funcionamento. Isto é, assumindo que, sim, este é um mundo capitalista e que a sociedade está organizada em consumidores de serviços e bens e em provedores dos mesmos. E que o equilíbrio entre estes diferentes grupos, quer seja um equilíbrio tendencioso ou não, é um equilíbrio dinâmico cuja manutenção envolve um místico fluxo da tal entitade monetária.

    Mais ainda! Contra o pessimismo dos autores que mencionei e de muitos outros, pergunto ainda se o mal funcionamento de um determinado sistema pode ser aceito como prova irrefutável de que a própria idéia do sistema é inviável. Todos aqueles que já tentaram controlar a natureza em suas formas brutas mais básicas em pouco tempo descobriram o quão falsa é essa conclusão. Sim, há inúmeras possibilidades no manejo da realidade. Coisas soltas no ar caem, e você pode tentar deixar uma pedra flutuando bem à sua frente por quantas vezes e de quantas maneiras quiser que não logrará sucesso. A não ser que passe a manejar também outras características da realidade (como criar um campo magnético na região e garantir que a tal pedra tenha metal suficiente preso a ela), o objetivo jamais será alcançado e a idéia inicial é inválida. Há porém inúmeros exemplos em contrário. A história da aviação, a invenção da lâmpada, a conquista espacial... Caso algum dos fracassos iniciais das tentativas de vôo, ou de domínio da eletricidade, ou da criação da luz, ou da realização de viagens espaciais (para ficarmos apenas nos exemplos mais básicos) tivessem sido interpretados por todos como um definitivo atestado de impossibilidade, então certamente viveríamos num mundo onde seríamos muito mais submissos às forças da natureza do que somos hoje.

    E quando pensamos em como criar um mundo melhor, quandopensamos em como desejaríamos que certas instituições sociais funcionassem, não estamos também querendo produzir algum tipo de mudança na natureza externa que se nos apresenta? Porém, diferentemente de uma pedra, ou de um avião, a natureza dos mecanismos sociais é muito mais complexa no sentido de que é extremamente difícil antevermos com precisão como ela responderá a um dado conjunto de inputs. Esses inputs, quer sejam na forma de leis, de músicas, de livros, de manifestações visuais ou de coerção física benéfica ou não, interagem sempre com um conjunto tão volumoso e complexamente intrincado de dispositivos que antever com precisão a saída do sistema talvez seja um problema que sempre irá demandar mais tempo para ser calculado do que o próprio tempo que o fenômeno em si demanda para se manifestar, inviabilizando dessa forma qualquer tentativa de previsão ainda que um dia pudéssemos ter um modelo perfeito.

    No mesmo sentido em que aqueles que desacreditavam a possbilidade do vôo pelo fracasso das primeiras tentativas colocavam-se como submisso às limitações da natureza, talvez não exista nenhuma espécie social mais submissa às forças coercitivas do capitalimos que os sociólogos e alguns outros de seus colegas humanistas. Isso porque eles se apressam sempre em sublinhar o quão falhas e problemáticas são as estruturas sociais instaladas no capitalismo, e concluem sempre instantaneamente que esta falha explica-se pelo substrato do tal sistema ser justamente o capitalismo ao invés de outro sistema qualquer, que raramente sobra tempo para questionamentos concretizáveis sobre como solucionar as falhas percebidas e colocar o sistema para funcionar sem que todo o resto do maquinário social precise ser desmontado e remontado. Não se trata de aceitar o mundo como ele é e deixar de lado toda a vocação crítica que ferve nas veias de um livre pensador. Trata-se antes da sensatez de aceitar que existem diferentes formas de se abordar um mesmo problema e que encontrar um meio de dar um pequeno passo em direção a um cenário ideal é muito melhor do que ficar para sempre à deriva por não saber como saltar diretamente ao destino.

    Wednesday, November 22, 2006

    Recomendo

    A todos os acadêmicos, engenheiros em especial e, para além dos muros da universidade, aos gestores da atividade científica, o artigo "Não há pior inimigo do conhecimento que a terra firme", escrito por Renato Janine Ribeiro. Onde encontrar? No número 1 do volume 11 da revista Tempo Social, revista de sociologia da USP. é de maio de 1999 e o ISSN é 0103-2070. Vai, procure, leia.

    Tuesday, November 21, 2006

    Nas páginas a tinta Parker

    "... não fomos feitos para executar a perfeição dos princípios, apenas para apreciá-las."

    Do vô do Jabor

    "Olha lá. Um sujeito fingindo de mendigo para esconder que realmente é...!"

    "Cuidado Arnaldinho, pois nada é só bom..."

    Monday, November 20, 2006

    V de Veja o filme!

    Assista V de Vingança, um filme muito bom tanto para distrair um pouco como para jogar um pouco de lenha na fogueira em reflexões tanto sobre o presente quanto sobre o passado recente desta sociedade em que as massas, sendo cada vez mais massas (em termos de volume mesmo), criam o substrato ideal para a consolidação da idéia e da imagem como não só produtos da realidade, não só como criadoras da realidade, mas também como constante transporte da realidade de uma configuração a outra, como seu altar de conflito, como seu ringue de santificação.


    Alguns ótimos comentários sobre o filme, caçados por aí:

    "Mas para um filme interessado em passar uma mensagem claramente revolucionária, não teria sido sensato manter bem definidas as fronteiras entre caos e anarquia? Quem vê o filme não julgará que basta o caos para derrubar um regime fascista, o bombardeamento de uns edifícios simbólicos para se iniciar uma nova era de paz e fraternidade? É nessa direcção que se revelam as maiores falhas de V for Vendetta e o tornam um produto inferior à grande linha de cinema distópico. Existe uma revolução, mas não existe uma reflexão sobre as consequências dessa revolução, apenas uma visão naïve de que os fachos devem ser eliminados, de modo a permitir que a liberdade prevaleça.", em http://www.epicapt.com/2006/04/06/resenha-v-de-vinganca/, uma resenha bem crítica que termina com a fria observação de que o filme "não acrescenta nada de novo ao que já tinha vindo a ser escrito e feito anteriormente, com muito maior brilhantismo. Mas será talvez a obra que tenha capturado, com maior impacto, uma mistura de bom entretenimento com assuntos que exigem uma maior consciência e reflexão da parte do público.".

    O jornalista Chico Fireman comenta em seu blog que "Eu finalmente tinha entendido o terrorismo embora ainda não conseguisse concordar com ele ou aprová-lo, embora minha opinião sobre ele continuasse a mesma. O texto de Moore é muito competente ao dar consistência à lógica do pensamento de V. " Veja em http://filmesdochico.blogspot.com/2006/04/v-de-vingana.html

    Lendo esses comentários todos e refletindo um pouco preguiçosamente sobre o filme (afinal gente, é domingo e eu sou um humano preguiçoso), vai ficando difícil deixar de lembrar das aulas de Antropologia ainda nos tempos de FFLCH. "Alteridade, a compreensão da realidade do outro como único meio de entender a própria realidade". Basicamente, em dois semestres, isso era tudo de útil que o professor Kabenguele repetia de bom. Mas, agora que o tempo já passou e que esses dois semestres são comprimidos na lembrança tanto quanto se queira, some o tédio e fica a admiração pela pertinência. É muito fácil aceitar a morte do inimigo. A destruição do território alheio em função de uma causa própria. Também é fácil de aceitar... Agora... e se o inimigo fosse um dos nossos? E se descobríssimos ser a própria violência que "nos protege" aquela que devemos combater? Ou se o inimigo estivesse em nossa própria casa, de forma que as mortes todas que acontecessem jorrassem sangue em nossos jardins? O 11 de setembro fez com que automaticamente entendêsse-mos pro vítimas os milhares de civis mortos... Mas se, num raciocínio bem simplista porém buscando salientar extremos... Estivesse ocorrendo naquela manhã, no World Trade Center, uma reunião com toda a AlQaeda, Bin Laden, e incluíssimos ainda Saddam Hussein e quem sabe alguns figurões chineses, e se ao invés de aviões sequestrados tivéssemos civis kamikazes lançando-se contra os prédios, seriam eles então automaticamente convertidos em heróis ao invés de vítimas, e todos os milhares de mortos pelo simples azar de estar no prédio ou nas redondezas no horário, vivariam eles heróis de guerra? Mortos por uma causa? Pode parecer absurdo, uma coisa sem sentido, mas o próximo passo nesse raciocínio de vasculhar extremos é colocar o inimigo num lugar ainda mais próximo: na pele de um aliado. Na do próprio governo, quem sabe. E se isso acontecer? E se, no cenário mundial, forem os nossos líderes os grandes vilões, os grandes criminosos? Quando vamos perceber? E o que vale a pena fazer para mudar a realidade?

    Outros links interessantes:
    http://adorocinema.cidadeinternet.com.br/colunas/renato-martins/v-de-vinganca.asp http://www.rabisco.com.br/77/s.htm

    [Em inglês]: http://www.comicon.com/thebeat/2006/03/a_for_alan_pt_1_the_alan_moore.html#more

    Sunday, November 19, 2006

    Argumentos veementes!

    "Condoleezza Rice e Kofi Annan não chegaram onde chegaram graças a alguma cota! Eles estudaram mesmo!" - Titia às vezes sabe se expressar muito bem.

    Bomba de entropia!

    Olha só que visão legal das coisas... gostei tanto que é impossível não reproduzir aqui:

    "Entropy is a property of matter and energy, and an open system can exchange entropy in the form of matter and energy between itself and its surroundings. Hence it is a mistake to hold a direct analogy between chaos and high entropy. Thermal energy input to the earth is made through the greenhouse effect of the atmosphere and sunlight in a ratio of 2:1, which would heat the earth to 31°C instead of the actual average of 15°C, were it not for air convection and water evaporation on the Earth's surface. The warm, light air and water vapor generated on the Earth's surface rise and undergo an adiabatic expansion because of the decrease in atmospheric pressure at the upper atmosphere with the result that the temperature falls to -23°C; the water vapor condenses into cloud, rain and snow. The entropy change of this process is equal to the difference between its increase at the earth surface (DSb = DQ/Tb, Tb = 288°K; DQ is the latent heat of water evaporation) and its decrease at the upper atmosphere (-DSa = -DQ/Ta. Ta=250°K); Tb greater than Ta, hence DSb - DSa is less than zero. The heat released through water condensation (-DQ) is dispersed outside of the Earth. Thus, the net entropy change of the earth is negative, the excess entropy being discarded into outer space, contributing to the total entropy increase of the universe. The low entropy in the form of condensed water is returned to the Earth's surface by precipitation. So the entropy of the Earth may continue to decrease by virtue of water circulation. This low entropy of water drives photosynthesis, using CO2 and sunlight as auxiliary raw material, and is transformed into the low entropy of the organic world. Hence, the Earth has been able to support organic evolution throughout its history!"

    [...]


    "...Earth is a 'magnificent ice-producing' machine constantly being fed low entropy in the form of water precipitation. As long as the water cycle remains intact, Earth can be sustained in a low entropy state... We should define the desired future as the Water Age, as it has always been on Earth, at least until the very recent past.... The Sun is primarily a sourse of thermal pollution, because most of its energy is not used by photosynthesis, while the low entropy of water is fully utilized by the Earth, which is nothing like a space ship because it can discard entropy to the outside."

    A ênfase nos fluxos de entropia, a relação com a dinâmica e a existência da vida na Terra, e as perspectivas ambientalistas contidas neste trecho tornam-no uma peça rara. Uma literatura de baixa entropia no meio de tantas manifestações pobres de insight.
    Onde eu encontrei o texto? Como uma citação logo na introdução do fantástico compêndio de artigos organizado por F. Eugene Yates e entitulado Self-Organizing systems - the emergence of order.

    Considerações de uma manhã chuvosa

    Falta um pouco... Um pouco daquela loucura especial... Loucura misto de cegueira com inconseqüência. Loucura incapaz de ver qualquer ridículo na felicidade. A sandice, até aqui, está sendo um mal negócio.

    Tuesday, November 14, 2006

    Percepção

    - Não cara, é fantástico! Fantástico! Os caras do Mith Busters fizeram um experimento para ver se uma palha consegue atravessar uma bananeira! Algo assim, é incrível! Construiram um canhão de ar comprimido que lança a palha a mais de quinhentos quilômetros por hora!

    - Caramba!

    - É! E eles também fizeram uma vez um teste com uma betoneira, cheia de concreto, e colocaram, sei lá.. uns quatrocentos quilos de dinamite lá dentro. Afastaram-se a mais de um quilômetro depois... Cara, não sobrou nada! Só uma mancha preta no chão. Imagina?! Você transformar uma betoneira numa mancha preta no chão?

    - Por isso não me espanta se o mundo acabar um dia, a gente faz por merecer... Imagina quantos recursos não são alocados pra se explodir uma betoneira e divulgar isso mundo afora... Ou para arremessar uma palha a quinhentos quilômetros por hora... Dane-se a fome na Etiópia ou das criancinhas no farol, ou o aquecimento global, ou o analfabetismo... Primeiro é melhor ver como a betoneira explode...]

    - É, ... Você falando assim, me dá uma vontade de... de... de me matar...

    Monday, November 06, 2006

    A Ciência da Frustração...

    Surge um problema. Será que existe alguma solução? Você começa a pensar e... em pouco tempo, junta umas cinco ou seis idéias diferentes. Descarta as mais complicadas, melhora as que pareciam mais simples. Muito bem. Agora torne isso algo apresentável para poder convencer os outros. Alguns desenhos, um roteiro. Uma estimativa de custo, quem sabe. As pessoas lêm seus planos, fazem sugestão de melhorias... Você atualiza as sugestões em seu documento, e termina com uma idéia que não poderia ter surgido naquele primeiro momento, de tão detalhada que está. Tudo foi pensado, tudo foi considerado. Agora é concretizar os planos... E então... Um pequeno parafuso... Uma peça que desliza mais do que devia... A natureza é teimosa, como é teimosa... Lembro das aulas de introdução à engenharia. Quer dizer... não de todas! As aulas eram meio chatas e inúteis. Mas uma frase do meu professor eu gravei: "o engenheiro deve, antes de mais nada, aprender a conviver com a frustração!". Caramba...

    Friday, October 27, 2006

    Segunda lei da termodinâmica - for dummies

    Na natureza, toda gostosa um dia irá necessariamente se tornar uma baranga, mas nunca nenhuma baranga poderá tornar-se uma gostosa.

    Monday, October 23, 2006

    Bons livros (de vários assuntos)

    Vamos lá, com calma...

    • Sobre guerras e operações de guerra. Qualquer livro de Tom Clancy. Há os de ficção e os de não-ficção. Descrição de como é fazer parte da força aérea, da marinha, de como é estar em um porta-aviões... Narrativa de operações na Guerra do Golfo... Muito completo, a obra desse tal de Clancy é bem extensa.
    • Se o assunto for engenharia de controle... então esqueça o Ogata. Vá atrás do "Engenharia de Sistemas de Controle"de Norman S. Nise. Bem melhor, bem melhor mesmo! Não sei porque continuam usando o Ogata nos cursos de engenharia...
    • Ainda em engenharia, se estivermos falando de elementos finitos, então há duas excelentes opções em português e de autores brasileiros. Método dos Elementos Finitos - Primeiros Passos, que Aloísio Ernesto Assan lançou pela editora Unicamp, e Introdução ao Método dos Elementos Finitos, de Antônio da Silva Castro Sobrinho, que sai pela Editora Ciência Moderna.
    • Sem deixar as exatas totalmente de lado, mas partindo para um assunto totalmente abrangente também no meio das biológicas e também das humanas (até das exotéricas se apelarmos um pouco, mas deixemos esse campo de lado), vai aqui a dica do meu último grande achado: Chance, Luck and Statistics, de Horace C. Levinson, pela editora Dover. Não, não é um livro de estatísticas como esses cheios de fórmulas, números, exercícios... É um livro cheio de histórias, explicações... Não é feito pra você enganar seu professor fingindo que sabe estatística, é feito pra você realmente aprender estatística, e não precisamos nos desesperar com um monte de calculeira pra isso...
    • Finalmente, pensei em sugerir algum do Paulo Coelho, só pra não perder a piada. Mas considerando nos detalhes, não estou assim tão de bom humor. Até a próxima.

    Thursday, October 19, 2006

    Suzi

    Certas coisas acontecem com pessoas ao nosso redor e nos lembram dos fatos que nós mesmos vivemos, em outra época, outras circunstâncias, mas ainda assim similares. Tive a Suzi ao meu lado nos anos mais importantes da minha vida até agora. Na época que moldou o que sou no que há de melhor em mim. Não era uma companhia como a das pessoas que preenchem nossas vidas mas sempre com muitos detalhes e detalhes e detalhes... Nem como a companhia de um "simples bicho de estimação". Era uma companhia sempre presente, viva, humana, mas ao mesmo tempo pura. Quase tão simples e sincera em suas intenções e reações como as coisas. E nem por isso menos viva.

    Eu falava com ela. Já estranhei os donos que falavam isso de seus animais, por isso nem vou me atrever a explicar. Mas sim, eu falava com ela. Minha tia vivia tentando colocar a Suzi pra fora de casa e ela vivia se escondendo, relutando, tentando entrar escondida e efetivamente entrando sorrateiramente de algum jeito. Sabia reconhecer o som dos passos da minha tia e prontamente saia do campo de visão entrando debaixo da cama, atrás do sofá, atrás de alguém confiável. E no entando... Quando eu ficava na sala vendo TV madrugada adentro ela ficava sentada ao meu lado, por vezes com o focinho apoiado em minha perna. Finalmente chegava a hora de ir dormir. E onde estava aquela Suzi tão pronta a fugir da porta do quintal e se esconder em qualquer canto? Era outra. Era a Suzi que conversava comigo, que sabia que chegara a hora de dormir. Ela ia sozinha até a porta do quintal e ficava esperando que eu abrisse.

    Os passeios pela rua, ou as poucas viagens que consegui fazer com ela... A felicidade dela quando eu voltava de alguma viagem, ficava muito tempo longe... Aprendi muito com a Suzi sobre a forma mais pura de afeto que pode existir.

    Agora a Suzi está longe. Mas a Suzi vai estar sempre bem perto.

    Monday, October 16, 2006

    Palestras

    O dia não começou de forma lá muito regular. Fui para uma reunião já marcada há dias. Esperei. Esperei. Oito da manhã, conforme combinado. Nada. Esperei, esperei. Oito e meia. Nada ainda. Fora cancelada. Tudo bem, vou para a Poli depois de ter perdido a primeira aula em troco de uma reunião que não aconteceu. Vejo cartazes de palestras referentes ao centenário dos aviões brasileiros. Presença prevista de personalidades como um especialista em túneis de vento, um entusiasta da história dos aviões brasileiros e nada mais nada menos que Marcos Pontes, o astronauta brasileiro (o primeiro!).

    Muitos são os destaques que mereceriam menção aqui, mas não farei justiça a todos. Então, para não ser injusto com esse ou aquele, serei injusto com todos exceto um: o astronauta brasileiro. Marcos Pontes é, antes de tudo, uma personalidade carismática. Tudo bem que muitos colocariam aqui, em primeiro lugar, a capacitação técnica e o profissionalismo que avolumam seu histórico profissional. Mas bastam alguns minutos iniciais de palestra, e mesmo o "olá" inicial para os mais atentos, para que se evidencie que o carisma é o grande propulsor desta personalidade que se lançou do Brasil ao mundo e conquistou o espaço.

    Sunday, October 08, 2006

    Summercrime

    De uns tempos para cá eu já não confio muito nas frases bonitas que penso. E quando uma boa deixa aparece para uma avaliação mais profunda, concluo é que não confio nem um pouco. Tanto é que não arrisco escrevê-las nem mais em algum caderno escondido que fique jogado em algum canto para ninguém ver. Escrevo em lugar nenhum. Espero que elas sumam logo. De conclusões certas e confiáveis sei só que me falta egoísmo e frieza. Querer para mim antes de querer para os outros e capacidade de ignorar certas percepções que se impõe como se estivessem sob o único holofote do universo. Não quero desenvolver essas qualidades a extremos que me transformariam nas pessoas que mais odiei até hoje. Mas começo a achar que preciso de um pouco. Se o melhor de mim é o que mais me corrói, não posso continuar achando que é o melhor, ainda que todos os outros achem. Que se fodam os artistas mais altos e suas idéias seculares. Que se fodam as pessoas alegres e seus sorrisos, ou as tristes e suas tristezas. Não incomodo as pessoas com meus assuntos desconhecidos. Espero em breve não me incomodar mais também com meus assuntos desconhecidos. Não sei porque poupar os outros mais que a mim mesmo. O dia vai acabar de novo e meu quarto vai continuar bagunçado. Isso deveria soar importante. Não arrumei tempo para fazer um curso de bateria, e as batidas não têm evoluído muito de uns dois anos para cá. Isso deveria soar meio triste. Quero ter vontade de ouvir Summertime gritando junto pra ver se fico mais rouco que a Janis, e de ficar bêbado já antes de ouvir a música inteira pela primeira vez. Depois eu vou para o meu quarto escolher, dentre todos que tenho, o pertence que mais amo. E vou queimá-lo, tentando sentir no cheiro da fumaça alguma impressão de que às vezes posso ser maior que meus amores. Caio na cama e acordo dia seguinte de ressaca, triste pelo pertence que virou fumaça. É um plano. É uma história.

    Tuesday, October 03, 2006

    Atribuições

    "Faça o que você estiver mais a fim de fazer, é isso o que eu quero que você faça."

    Não é que funciona?!

    Sunday, October 01, 2006

    Intimidade indecente

    Nos meios dos palavrões iniciais, das menções diretas ao sexo e os mecanismos que o viabilizam, sempre nos termos mais apropriados, indecente mesmo nesta peça é a perspectiva de uma vida inteira em que os amores se repelem.

    Monday, September 25, 2006

    Certo ou errado?

    As coisas vão acontecendo e fica sempre essa tentação muito, muito humana, de querer encontrar algum julgamento de valor escondido aqui e ali nos acasos que correm soltos. Algumas coisas eu gostaria mudar, mudar muito. E fica essa dúvida: é por conveniência, egoísmo, ou por alguma razão maior? Há algo de errado se for por puro egoísmo?! Mas outras... Outras acontecem e reforçam essa certeza de que alguma justiça há por aí. Alegrias alheias tão bonitas de se ver que invadem um pouco de nossas alegrias escondidas também.

    Wednesday, September 20, 2006

    For further investigation. . .

    Friday, September 15, 2006

    Mas é tão óbvio!

    Deus inventou a insônia por causa dos luares.

    Thursday, September 14, 2006

    Um bom lugar para se viver

    O semáforo se fecha.

    - Ô tio, leva um chiclete aí?!

    A cabeça dentro do carro acena que não.

    Segue o menino adiante.

    A cabeça dentro do carro observa pelo retrovisor.

    O menino volta.

    - Ô garoto!

    - Vai levá um?

    - Me diga, você estuda?

    - Estudo, tô na sexta série.

    - E mora aonde?

    - Lá pro lado de Guaianazes...

    - É bem longe... Então, e o que você quer ser quando crescer?

    - Eu queria ser bombeiro.

    - Então promete pra mim que vai estudar sempre e não vai desistir? Se vocâ não desistir, vai conseguir ser bombeiro, garanto!

    E a mão se estende janela afora com um real.

    - Prometo. Toma.

    Entrega-se a caixa de chiclete.

    - Não vou levar o chiclete não, pode ficar.

    Esta cidade apresenta um ótimo custo de vida. Compra-se nas ruas, por um real, paz de espírito e uma alforria da realidade.

    Wednesday, September 13, 2006

    =D

    Mais um motivo para você ir atrás do livro de Paul Auster que mencionei no post de baixo:

    "Meu pai é obcecado por seu nariz, escravizado por ele. Na sua cabeça, Deus criou o nariz como uma brincadeira e esqueceu dele na correria para criar o mundo antes de domingo, seu dia de folga. Meu pai e Deus têm muita coisa em comum: Deus tem o destino de todas as vidas sobre seus ombros, papai tem renite alérgica. Para papai, isso dá um empate."

    Tuesday, September 12, 2006

    Edith Riemer

    Ela ganhou, aos treze anos, uma bicicleta. Perdeu os pais em um campo de concentração e foi parar na Inglaterra. Acabou achando a bicicleta, mas não podia andar nela pois os ingleses não gostavam de ver aquela bicicleta alemã desfilando por aí.

    A história, contada pela própria Riemer, não ocupa nem quatro páginas do livro de Paul Auster, "Achei que meu pai fosse deus". É da Companhia das Letras, e contém inúmeras histórias que ouvintes de uma rádio enviavam para serem lidas no ar. O autor do livro é o próprio radialista, que selecionou as melhores dentre umas quatro mil e montou o livro.

    Eu estava achando o livro simplesmente curioso e divertido até chegar a história da bicicleta. Eu amo bicicletas. E também acho história um assunto interessante. E me divirto ao ver amostras da estupidez humana. E amo ser humano e ficar comparando minhas estupidezas com as dos outros.

    Tá recomendada a leitura.

    Sunday, September 10, 2006

    Outros sonhos

    Chico Buarque

    Sonhei que o fogo gelou
    Sonhei que a neve fervia
    Sonhei que ela corava quando me via
    Sonhei que ao meio-dia

    Havia intenso luar
    E o povo se embebecia
    Se empetecava João
    Se emperequetava Maria

    Doentes do coração
    Dançavam na enfermaria
    E a beleza não fenecia

    Belo e senero era o som
    Que lá no morro se ouvia
    Eu sei que o sono era bom
    Porque ela sorria, até quando chovia

    Guris inertes do chão
    Falavam de astronomia
    E me juravam o diabo
    Que Deus existia

    De mão de mão o ladrão,
    Relógios distribuía
    E a policia já não batia

    De noite raiava o sol
    Que todo mundo aplaudia
    Maconha só se comprava na tabacaria
    Drogas na drogaria

    Um passarinho espanhol
    Cantava esta melodia
    E com sotaque esta letra
    De sua autoria

    Sonhei que o fogo gelou
    Sonhei que a neve fervia
    E por sonhar o impossível
    Ah, sonhei que tu me querias

    Monday, September 04, 2006

    United 93

    Gastei o tempo como pude, pois comprei o ingresso cedo demais. Fui andar pela Paulista, mas estava muito frio. Voltei e experimentei uma novidade meio estranha: pizza de strogonoff. Pedi que a outra metade fosse de margueritta, para compensar eventuais surpresas desagradáveis, mas no fim a pizza agradou. Depois continuei a leitura do Annual Review sobre "environmental values". Estava lendo mais precisamente a discussão sobre altruísmo quando chegou a hora do filme, e agora estou para continuar a leitura. Nada mais apropriado.

    Durkheim classificaria os suicidas que protagonizaram os seqüêstros de 11 de setembro como sendo do tipo "altruístas", ou seja, eles livram-se da própria vida por força de uma estrutura social externa que se sobrepõe a todos os impulsos pessoais de manutenção da vida. É uma patologia social perigosa (soaria academicismo exagerado falar isso antes do fatídico dia 11), até porque envolve indivíduos sem nenhuma "anomalia", não é um tipo de loucura. Pelo contrário: compõe-se precisamente de um excesso de coerência com a estrutura social vigente.

    Tá bom, falo um pouco sobre o filme, explicitamente: é muito bom. Realista. Eu fiz uma lista pequenas de momentos "hollywoodianescos", no mau sentido, mas só os mais chatões ficariam implicando com estes detalhes. É um filme como eu diria que tem que ser os principais filmes sobre o 11 de setembro (bem como outros filmes históricos documentando atrocidades do homem contra o homem): mostrar a coisa como ela deve ter se passado mesmo, sem mais nem menos.

    Um pensamento que me é recorrente sobre essa história dos atentados é sobre a recorrente crítica de que "o sistema de defesa americano falhou". Não, eu não fico criticando ou tirando sarro dos americanos como muita gente por aí. E também nada de ficar achando que o sistema de defesa deles é algo como se vê nos filmes em que americanos vencem alienígenas. É fato eles não estavam preparados para o que aconteceu. Mas também é admirável a estrutura tecnológica que, sim, os norte-americanos têm instalada para controle do espaço aéreo e possível intervenção (interceptação de alvo por caças ou mesmo mísseis). Mas nesse contexto todo, o que me interessa é ver como as ações, sempre, invariavelmente, passam por pessoas. Em um dado momento, os militares tiveram autorização para abater aviões sequestrados. A ordem não foi passada adiante pelo receio de que, no meio de toda a confusão, aeronaves não-sequestradas fossem acidentalmente abatidas.

    Computadores. Radares. Jatos supersônicos. Mísseis nucleares. Satélites. Rede integrada de informações.

    E por trás de tudo, a guerra entre bom-senso, equívocos e as piores das intenções.

    A guerra mais séria vivida pelo mundo é a guera das decisões.

    Saturday, September 02, 2006

    Bêbado

    O álcool.... o álcool tem um quê de previsibilidade que me causa incômodo e até uma certa repulsa. Eu jamais admitirei depois de tê-las dito, mas sei de todas as palavras e pensamentos proibidos que tenho e que tentarão fugir a público impelidos pelo álcool. Aos outros será um efeito criativo e surpreendente. Para mim continuará a mesma monotonia. Preciso então de um outro vício, pois este não me serve.

    O inesperado. Aquilo que é vivo de uma vida organicamente autônoma. Isso sim. O expontâneo. Já parou para pensar no quão complicado é conquistar o expontâneo? Não se trata de uma negociação... de um jogo ou de uma troca. Conquistar o expontâneo é quase uma contradição, mas ainda assim possível. Está no limite entre os sonhos mais justos e as sujeiras mais possíveis.

    Quero mais um copo.

    Wednesday, August 30, 2006

    Até nunca mais

    Eu estava subindo o último lance de escadas, já olhando para a sala de leituras tentando descobrir qual seria o lugar vago esperando por mim. Ela vinha no sentido oposto, distraída, até que me viu. E ficou olhando nos meus olhos, e eu nos olhos dela, de uma maneira rara de acontecer entre pessoas desconhecidas. Segundos se passaram, e conforme andávamos, não paramos de nos olhar.

    - A gente se conhece?

    - Talvez, parece né...

    Mas quem seria? Conversamos sobre nossos colégios, cursinhos, enfim... Nada. E naquela confusão de histórias desconexas, um tchau. Um adeus.

    Wednesday, August 23, 2006

    João Rodrigues

    Chega. Não aguento mais os pobres. Pobres e outros miseráveis de espécies quaisquer. Os sujos. Quero que sumam. Não me importa para onde vão. Não me importa que continuem pobres. Sinto muito, ou melhor, não sinto nada, se eles continuarem pobres, imundos, doentes e bêbados. Só me incomoda quando chegam perto. Na janela do carro pedindo dinheiro. Nas calçadas pedindo comida. Nas praças procurando conversa ou nos trens vendendo qualquer lixo. Sou a favor dos programas que pregam fome zero e ajuda isso ou aquilo porque aí fica bem claro que é responsabilidade dos outros cuidar dessa gente nojenta, doente. Eu quero que o mundo seja feliz, rico, saudável e limpo, mas isso não quer dizer que eu queira ver limpar os sujos, curar os doentes ou enriquecer os pobres. Isso dá trabalho, custa tempo e dinheiro. Parte desse tempo e dinheiro são meus e me deu trabalho demais conquistá-los para que tomem gratitamente de mim. Se eles simplesmente sumissem, o mundo já não estaria melhor? Tudo bem, temos que respeitar os direitos humanos e não podemos cometer atrocidades que possam vir a se voltar contra nós mesmos... concordo. Eu também quero ter minha consciência limpa pra viver em paz. Então não precisamos sumir com os pobres, apenas afastá-los. Por que eles vêm falar comigo? Que o governo mate a fome deles, que da minha fartura não quero que levem nem um pedaço. Eu tive a decência de manter minhas mãos limpas para merecê-la, de me perfumar antes de sair de casa e de acreditar que a vida tinha jeito. Se eles cairam no vício, no desencanto, na desesperança, estão tendo a fome e o frio que lhes é meritório, e não quero ousar tirar-lhes essa tão difícil conquista. Eu também tenho pessoas ao meu redor que eu poderia decidir abandonar por me sentir inferior, ou por achar que não me amam o suficiente. Também poderia acordar e decidir que nada vai levar a um futuro que valha a pena e que a única coisa com algum valor são os delírios guardados no fundo de um sujo copo de pinga barata. Mas não. Acordo todas as manhãs e, com algum trabalho, acho razões para tirar a sujeira debaixo das unhas e deixar o álcool somente para quando houver mulheres e piadas por perto. Se os sujos das ruas não acham essas razões, não sou eu quem vai dizer-lhes onde encontrá-las. Talvez esse desânimo seja genético e eles tenham todos uma propensão a desistir da vida. Então é melhor mesmo que morram ou pelo menos se tornem completamente inválidos antes de conseguir se reproduzir, assim talvez em umas duas ou três gerações estejamos todos mais limpos e podendo nos preocupar com outros problemas. Mas volto a insistir: é só eles estarem longe que eu já não me incomodo. Pago para que outros apertem as mãos dos pobres e lhes dêem sopa quente, desde que eu tenha a certeza de que nenhum deles venha tentar me cumprimentar. Prefiro ser roubado aos milhões pelas pessoas limpas e bem vestidas de Brasília do que às migalhas por essa gente com remela no olho e sujeira de asfalto no buraco das roupas.

    Eu penso assim e você também pensa exatamente assim, não é? Não? Seja sincero... Se você não pensa assim, então porque você age como se pensasse assim? Enquanto não nos dispusermos a agir de uma forma mais humana, que tal ao menos termos coragem de expor às claras nossos pensamentos e termos coragem de assumir essa sujeira escondida debaixo de nossas roupas limpas e peles perfumadas? Ou então, quem sabe, poderíamos agir de outra forma...

    Compensa...

    Muito, muito trabalho. Mas compensa. Depois de meses investindo em uma questão que em inúmeros momentos parecia completamente perdida, ter em mãos um enorme calhamaço de resultados consistentes, apresentando apenas problemas menores, a sensação não pode ser outra: compensa. O conhecimento acumulado com o trabalho envolve tanto aspectos teóricos como, principalmente, aspectos práticos da realização dos trabalhos. Estou cansado. Vou dormir.

    Tuesday, August 22, 2006

    Inefáveis pensamentos

    Eu escrevo um post enorme falando que as palavras originam tudo, e aí aparece no MSN essa amiga com o nick "inefável". Fiquei curioso sobre a palavra e logo descobri: inefável é o "que não se pode nomear ou descrever em razão de sua natureza, força, beleza; indizível, indescritível". Poxa vida... eu defendendo que as palavras criam tudo, e surge essa palavra pra falar sozinha de tudo o que não é palavreável!?!

    Achei que haviam descoberto um abismo lógico nas idéias que rascunhei alguns posts abaixo. Mas depois, pensando melhor, vi que a própria palavra inefável soluciona o mistério que criou. As coisas todas inefáveis, afinal, ao menos uma palavra recebem. Essa palavrinha engraçada está no fim do mundo das palavras já.

    Em resumo: as coisas inefáveis não são inefáveis pois diz-se delas que são inefáveis.

    Sunday, August 20, 2006

    El dia que me quieras


    • Vídeo no YouTube com a música, cantada por Sara Montiel. Procure por "SARA MONTIEL - EL DIA QUE ME QUIERAS".

    • E, por fim, a letra da música:

    Acaricia mi ensueño
    el suave murmullo
    de tu suspirar.
    Como ríe la vida
    si tus ojos negros
    me quieren mirar.
    Y si es mío el amparo
    de tu risa leve
    que es como un cantar,
    ella aquieta mi herida,
    todo, todo se olvida.

    El día que me quieras
    la rosa que engalana,
    se vestirá de fiesta
    con su mejor color.
    Y al viento las campanas
    dirán que ya eres mía,
    y locas las fontanas
    se contarán su amor.

    La noche que me quieras
    desde el azul del cielo,
    las estrellas celosas
    nos mirarán pasar.
    Y un rayo misterioso
    hará nido en tu pelo,
    luciernagas curiosas que verán
    que eres mi consuelo.

    El día que me quieras
    no habrá más que armonía.
    Será clara la aurora
    y alegre el manantial.
    Traerá quieta la brisa
    rumor de melodía.
    Y nos darán las fuentes
    su canto de cristal.

    El día que me quieras
    endulzará sus cuerdas
    el pájaro cantor.
    Florecerá la vida
    no existirá el dolor.

    La noche que me quieras
    ...

    Velha ordem na Terra

    "Rebaixado ou confirmado como planeta, Plutão não mudará seu penoso curso, que leva 250 anos dos nossos anos para completar uma volta em torno do Sol. Xena continuará sua vida sombria de bola de gelo. Mas a definição do que eles são ou deixam de ser tem o potencial de provocar uma certa bagunça nas fantasias, nas crenças, nos símbolos, nos sonhos, nos medos, nos risos e nas lágrimas dos homens." [Roberto Pompeu de Toledo, no Ensaio da Veja ed. nº1970]

    Pois é. Um grupo de cientistas se reunirá em Praga para discutir sobre isso... Palavras. Chamar ou não pedregulhos gigantes e redondos por "planetas"? E a observação de que, qualquer nome que for, eles continuarão fazendo as mesmas coisas que fazem, sendo por trás das palavras as mesmas coisas que, em silêncio mudo, sempre foram.

    O encontro em Praga é um dentre tantos todos os fenômenos que, bem observados, indicam uma coisa só: são as palavras. No fundo, os astrônomos não estão preocupados com os planetas, mas com as palavras que associam a eles. Não querem trabalhar para entender os céus, mas precisam loucamente de todos os debates possíveis para construir um grande castelo de palavras em seus imaginários. E não são só os astrônomos. São todos. Todos.

    Dentre as palavras, é claro, os substantivos desempenham esse papel religioso fundamental: substancializam. Constroem o mundo do lado de dentro, o lado que importa. E aí nasce o mundo, afinal só enxergamos das palavras pra dentro. Não é assim, afinal?

    Não é verdade que a realidade física manifesta, quer seja de planetas, quarks, muons, olhares, contratos, dinheiros ou projéteis, pouco importa? Afinal, "ter" não é em momento algum da história a posse física atual, mas sim a ameaça futura de retaliações e agressões contra os que ousarem transgredir a posse substancializada pela palavra "meu". E assim também das palavras fazem-se as guerras, os sucessos, os amores, os fracassos. Quão pobre de substância é a matéria sem sua palavra, a ofensa de olhares e imagens se impalavreável... Quão inexistente...

    Mas e quanto a esses momentos em que nos colocamos no alto de uma grande paisagem e experimentamos as sensações todas do contemplar, de ouvir o vento, de entender a tarde? São só momentos em que o ser busca se des-substancializar, deixar de ser. São minutos em que se é pra si. Existências desaparecidas pra nunca ninguém saber. E, com efeito, o que fica são apenas as palavras divulgáveis e a todos inteligíveis do que muito se queria ter em segredo.

    Um alquimista tentou purificar de todo a complexa substância amor apenas o que fosse sentimento. Julgou pelos antigos princípios de sua ciência que teria assim a maior parte das substâncias envolvidas, mas estava enganado. Terminou com um vidro vazio. Porque essa coisa cheia de sentimentos e só que ele esperava encontrar não é amor. Amor são palavras e atos. São exterioridades apropriáveis, e nunca manifestações invisíveis ou categorizáveis por palavras dúbias. As poesias e declarações não são fruto do amor. São seu alicerce. E é essa a ordem das coisas que se manifesta também em outras substâncias jamais tão bem exploradas pelos alquimistas.

    Os substantivos inventaram o homem. Que criou Deus como sua sonhada imagem mas com semelhante dissimulação. E Deus criou o Universo, descançou no sétimo dia. E teria ido para a praia no oitavo, não fosse o desestímulo dos congestionamentos.

    Para destruir a humanidade, destrua primeiro as palavras, que imediatamente as engrenagens esquecerão o que é girar e os canhões desconhecerão qualquer sentido de mirar ou atirar. E não importa que de então em diante pouco sobrará neste planeta. O que é, afinal, um planeta?

    You Tube!

    Algumas palavras-chave de hoje:

    • freak
    • loneliness (embora dê muito trabalho filtrar as inúmeras músicas que aparecem aqui.... não estava procurando músicas)
    • Tapa na pantera (não confunda com tapa na lagartixa, não tem nada a ver)
    • Carlos Gardel (sim, tem vídeos dele lá)
    • El Perseguidor (Julio Cortázar)
    • São Paulo
    • Kazebre
    • Charlie Parker & Dizzy Gillespie

    Saturday, August 19, 2006

    El dia que me quieras

    Muito boa a peça, que está em cartaz no "Galpão do Folias", ali bem do lado da estação Santa Cecília do metrô. A sinopse:

    "Escrita em 1979, a comédia do venezuelano Ignácio Cabrujas já ganhou várias montagens no Brasil. A atual, traduzida por Antônio Mercado, está sob responsabilidade da companhia paulistana Folias. A peça sintetiza uma época de esperanças frustradas a partir da visita do cantor Carlos Gardel à casa de uma família tradicional. Enquanto suas irmãs tentam manter o glamour dos áureos tempos, Maria Luísa deseja vender a casa para aventurar-se pelo mundo com o noivo comunista. Três músicos (piano, violino e percussão) acompanham o elenco em seis canções, entre elas Cuesta Abajo e Por una Cabeza, além do clássico que dá nome ao espetáculo. Direção de Marco Antonio Rodrigues."

    Vale comentar também do teatro. Você entra, e percebe que está cruzando o palco. A platéia fica do lado oposto. Então, enquanto você está sentado assistindo a peça, vê atrás do palco a porta que dá para a rua. E a porta era efetivamente utilizada como porta da casa que estava sendo encenada. É claro que os desavisados que passavam pela rua no momento tinham reações das mais engraçadas. E não pude deixar de fazer o comentário à minha amiga: "Caramba, quantos figurantes, hein?!"

    Destaques: Elvira, a expressiva tiazona pulso firme (endurecido pela vida); a angelical violinista que tudo observa... ah, todos estavam muito bons! Eu gostei.

    Thursday, August 17, 2006

    Vivo

    Hoje foi um dia.... movimentado, no melhor dos sentidos. As coisas aconteceram. Foi um dia em que eu dormi, descansei. Foi um dia em que trabalhei. Errei, persegui os erros e os encontrei. Resolvi. Não sozinho, tive ajuda, e das mais valiosas. Foi um dia em que ajudei também. Foi um dia em que segui a agenda, segui os planos que fiz ontem à noite com o travesseiro. Foi um dia em que rompi de última hora com os planos para participar, sem maiores cerimônias, de um almoço com os amigos. Foi um dia em que encontrei, de surpresa, pessoas muito queridas. Foi um dia em que fui ofendido, com uma azedura dura no olhar e na voz. Foi um dia em que relevei. Foi um dia em que ofendi, em que vi a paciência ir embora rápido. Foi um dia em que as horas passaram depressa. Foi um dia com diversas janelas de calmaria. Foi um dia em que comi bem. Foi um dia com conversas inusitadas, aleatórias, fora de hora. Foi um dia em que vi pessoas ao meu redor crescerem. Li bastante. Coloquei alguns escritos em dia também. Criei. Considerei, pensei, senti. Há dias que cabem na vida como uma luva.

    De um ontem de mim...

    "Talvez não somos tão grandes como pensamos. Daí que guardar assuntos dentro de nós faz com que pareçam maiores do que realmente são."

    Em um caderno bem velho.

    O sentido da vida . . .

    . . . são os outros.

    Wednesday, August 16, 2006

    Repertório

    Vou precisar de mais de um CD, provavelmente... Quanto tempo será que demora pra chegar?

    1. Cecília
    2. Beatriz
    3. Luiza
    4. Metal contra as nuvens
    5. Dream a little dream of me
    6. Vento no litoral
    7. No frontiers
    8. Foolish games
    9. Near you always
    10. You were meant for me
    11. Olê olá
    12. Teresinha
    13. Valsinha
    14. Quem te viu, quem te vê
    15. Marcha da quarta-feira de cinzas
    16. Perfeição
    17. Solitary shell
    18. About to crash
    19. Losing time
    20. Hell's Kitchen
    21. Take away my pain
    22. Another day
    23. Millenium sun
    24. Rebirth
    25. No pain for the dead
    26. Late redemption

    O pior de mim...

    Fico ponderando às vezes... No quanto as coisas nunca ditas podem se configurar como verdades intransponíveis ainda que nunca de fato venham a interagir com o mundo. Será? Esses abismos pessoais, o quão reais são? O quão mergulháveis? Quão perigosos?

    "Quando se fecha em si, buscando sua realidade interior isolado do mundo, o que o indivíduo encontra? Nada. Descobre um verdadeiro vazio. Perde-se sem referência." Palavras de uma longínqua aula de Sociologia I. Na época eu era muito mais engenheiro do que sou hoje, e não entendi nada. Para mim era tudo conversa de humanista, "viagem" de palavras bonitas mas sem sentido prático. Engraçado é que hoje sou muito mais humanista do que jamais fui, ainda que com um restrito repertório de leituras por conta do tempo que preciso ficar calculando programando ou não-dormindo no curso de engenharia. Hoje eu aproveitaria muito mais uma aula do Prof. Glauco Arbix. Riria mais, é verdade, das metáforas sem fim que usavam, começando com risotos, tudo o que é tipo de comida. Mas as entenderia melhor, também.

    Estou divagando. O post é para discutir um pouco do "pior de mim". Dessas manobras que fiz tendo como vítimas pessoas por quem cultivei ódio, desprezo e, por fim, pior de tudo, indiferença. A manobra em si foi uma catástrofe (ainda bem).

    Mas a pergunta que fica boiando na minha cabeça é: o quanto eu me fiz pior com tudo isso? O quanto foi covardia? O quanto foi coragem?

    Deveriam histórias assim nunca serem contadas, nem ao menos tangenciadas como as tangencio agora, ou deveriam ser um dia ditas completas e sem cortes a todos?

    Pois às vezes sinto que de perto ninguém é plano. E que todo mundo tem seus infinitos inalcançáveis. Por que eu deveria me incomodar em não alcançar os meus?

    Boas entrevistas

    Vídeos com entrevistas bem interessantes com autores de excelentes livros (da linhagem "chata" de minha estante, vou logo avisando...):
    http://video.google.com/videoplay?docid=-3133438412578691486&q=steven+pinker

    Monday, August 14, 2006

    Who's correct?

    "When they are alone they want to be with others, and when they are with others they want to be alone. After all, human beings are like that."
    Gertrude Stein

    "Loneliness is the poverty of self; solitude is the richness of self."
    May Sarton

    "Do not allow yourself to be imprisoned by any affection. Keep your solitude. The day, if it ever comes, when you are given true affection there will be no opposition between interior solitude and friendship, quite the reverse. It is even by this infallible sign that you will recognize it."
    Simone Weil

    "To fear love is to fear life, and those who fear life are already three parts dead."
    Bertrand Russell

    Procurando links sobre evolução?

    Então seus problemas acabaram! Uma lista enorme encontra-se em:

    http://members.aol.com/jorolat/evolinks.html

    Vale a visita.

    Sunday, August 13, 2006

    Mandamentos do Cyrillo

    Quando estiver viajando pelo mundo, onde quer que seja, lembre-se:

    • Tenha cara-de-pau, estique o dedo e seja o que Deus quiser!
    • Pense positivo e esteja preparado para uma grande roubada.
    • Olhe nos olhos da pessoa e sorria! Impossível não dar certo.
    • Faça amizade com funcionários de marinas e iates clubes.
    • Cite nossos craques de futebol: "Pelê, Ronaldô, Romariô". Brasileiro sempre é bem recebido.

    Mais uma insolúvel!

    Minha irmãzinha:

    - Nossa, como eu sou egocêntrica!

    Tentei ajudar:

    - Calma! Por que diz isso?

    - Porque sou a pessoa mais egocêntrica que eu conheço!

    Num momento de desespero, dei um fora insolúvel:

    -Não é verdade! Você só precisa reparar mais nas pessoas ao seu redor ao invés de só olhar pra você!

    Empresas verdes, bem verdinhas!

    A reportagem especial da Newsweek desta semana explica "como grandes empresas aprenderam a amar o meio-ambiente". Muito simples, muito. Frases marcantes da reportagem:

    "I don't have anything against helping the environment," says Thorsen. "But the main driver for us is profit." [Thorsen é o CEO de uma empresa de energia solar, que muito tem feito pelo meio-ambiente]

    slogam da General Eletric: "Green is green," referindo-se às "verdinhas", os dólares...

    O final da reportagem: "Making money is great. And if you can save the world at the sime time, so much better". É bem curioso, essa frase jamais apareceria na ordem invertida: "Ajudar o meio-ambiente é ótimo. E se você conseguir ganhar dinheiro ao mesmo tempo, tanto melhor!" Esta última estrutura é ideologicamente preferível, mas apresenta problemas intransponíveis de viabilidade, ao passo que a primeira soa num primeiro momento como se proferida por um vilão daquele velho desenho "Capitão Planeta", embora no mundo de hoje só esse vilão tenha capacidade de angariar recursos para a manutenção do verde. E das verdinhas.

    Cordel

    Gostei. O vocalista é um viagem total no palco, e eu fico me perguntando se aquela fumaça toda era mesmo gêlo seco (claro que não!). Ibirapuera total. Praça da paz. Paaaazzzzzzzzz.......!!!!!!!

    Saturday, August 12, 2006

    Considerações

    Cada vez mais um aspecto do behaviorismo, ao menos, me parece mais e mais plausível: o que importa mesmo é a aparência externa das coisas. Universos internos, habitat teórico da verdadeira natureza e repositório de toda a ética que mereça ser chamada como tal, são intrinsicamente inacessíveis. Não que eu queira que seja assim, nem defenderia que este é o melhor dos mundos. Mas numa descrição muito objetiva das coisas que pude observar (nãoi me refiro apenas a ontem, não tomem o post abaixo como referência disto aqui!), venho concluindo com mais e mais força que o mundo é assim mesmo: uma interação fervilhante de aparências internas onde os universos internos pouco importam.

    Tenho algumas dúvidas restando sobre esta constatação, mas talvez seja mais uma relutância consequente da minha pouquíssima simpatia pela tese que me vejo forçado a defender que uma real falta de base para sustentá-la. De tempos em tempos, quando se tem acesso a detalhes dos universos internos que se escondem por trás das histórias, gosto de compará-los ao que vai efetivamente ocorrendo na "vida lá fora".

    É difícil não se flagrar consternado e perturbado diante das constatações de tão profundos contrastes.

    E em determinados momentos em que a música permite, o horizonte vai longe e o vento é calmo sobre uma paisagem ao mesmo tempo caótica e serena, concluo que sou exatamente assim também, não importando o quão épicos são meus esforços para a construção de uma coerência impecável. Sinto-me por alguns instantes aliviado por saber que em mim, ao menos, há essa preocupação com a coerência, e já no instante seguinte torna-se tudo muito claro: de que isso importa, afinal?

    Fora de fase

    Eu não! Eu não fiquei bêbado ontem, muito embora eu recorra a uma imitação das mais competentes deste estado pitoresco, de modo a me tornar dentre eles mais um "igual" e não ser naturalmente ostracizado por um dos mais básicos dos instintos. Mas por tudo o que vi, ouvi, pensei e ponderei... Nesta sóbria manhã não me resta nada além de encher um grande copo de conhaque e mandá-lo garganta abaixo!

    Friday, August 11, 2006

    É bem simples, na verdade.

    É só não me pedir. É só não me aparecer com essas demandas indevidas, de coisas que terão muito mais valor e me trarão muito mais prazer se puderem ter esse caráter de entrega voluntária preponderando sobre a sensação de "atendendo a pedidos". Tão simples...

    E é claro que há dessas pessoas por aí que parecem saber disso por instinto, por programação genética. E é sempre um prazer estar com elas.

    Thursday, August 10, 2006

    Feliz dia dos pais.

    Sim sim, para o seu pai, para o meu pai, e para os pais de milhares de presidiários que serão soltos esses dias das penitenciárias do Estado de São Paulo.

    Não vai ser por falta de opção!

    Ainda não sabe quem escolher para Deputado Federal? Seus problemas acabaram! Anote esse número: 1470! Frank Aguiar! O menino quente dos teclados vai levar um pouco de ritmo ao governo e tentar acertar o passo no planalto...

    Promessa é divida...

    Prometi à uma amiga um dia escrever e filmar a história da vida dela, num filme desses bem bonitos em que, ao final, ela aparece em pessoa, velhinha, comprovando a veradicidade de tudo o que foi mostrado. Pensei em chamar a Audrey Tautou para atriz principal, mas até lá talvez ela já esteja meio velhinha. Mas terá que ser alguém, no mínimo, do mesmo quilate.

    Improvisando....

    Essa coisa de improvisar é complicada. Você tem que criar algo no vazio, mas não se pode perder a coerência da peça como um todo. Você tem que estar atento a você, mais do que nunca, mas não se pode esperar algum sucesso disso se você ignorar o restante por completo.

    Wednesday, August 09, 2006

    Não é possível!

    Como é que pode eu ser alguém que escreve tanto e tanto e tanto, em tudo o que é canto, e sempre ter tanto que ficou por contar? Acho que é um imediatismo muito grande, falacioso e sofismático eu apelar para o sono. Até porque, ninguém, nem eu, teria tanto sono assim... Um dia eu explico, um dia eu explico....

    Tuesday, August 08, 2006

    Sempre, sempre a velha pergunta sem resposta...

    Mas como causar pode seu favor nos corações humanos amizade....????

    Como?

    Um polignárito

    Alvaro García Linera é um polignárito, se é que existe a palavra polignárito. Se a palavra não existe, deveria ser considerada desde já inventada e aplicável a pessoas que, como Linera, apresentam títulos tão variados quanto os de vice-presidente (da Bolívia), matemático e sociólogo.

    Nota: gnaritas (do latin), significa conhecimento. Gnarus significa expert, familirizado com, etc...

    Nicollò Machiavelli

    E depois dos frangos lá do post abaixo, pesquisando rapidinho, achei essas aqui do Maquiavel:

    "Os preconceitos têm mais raízes do que os princípios."

    "Os homens quando não são forçados a lutar por necessidade, lutam por ambição."

    "O homem que tenta ser bom o tempo todo está fadado à ruína entre os inúmeros outros que não são bons."

    "O desejo de conquistar é algo de extraordinário e natural, e aqueles que se entregam a tal desejo quando possuem os meios para realizá-lo são antes louvados que censurados."

    "Todos vêem aquilo que pareces, poucos sentem o que és."

    "O homem esquece mais facilmente a morte do pai do que a perda do patrimônio"

    À parte esta e aquela distinção fundamental, ocorre-me agora que Maquiavel e Nietzsche deveriam ter sido postos pela história em lados opostos de uma mesma mesa de bar. O mundo teria um bom punhado a mais de boas histórias para contar...

    O Frango...

    Isso aqui não é de minha autoria. Roubei da comunidade orkuteana "Aforismos Ridículos". Como o anônimo que postou lá também não parece ser o autor, creio tratar-se por livre e espontânea pirataria de algo de domínio público. Trata-se de um material requintado e fino. Aproveite e depois estude, com paciência, cada um dos nomes que aparecem aí. Muito informativo!

    PERGUNTA: Por que o frango cruzou a estrada?

    Algumas respostas:

    PROFESSORA PRIMARIA: Porque queria chegar do outro lado da estrada.

    CRIANÇA: Porque sim.

    FHC: Por que ele atravessou a estrada, não vem ao caso. O importante é que, com o Plano Real, o povo está comendo mais frango.

    ACM: Estava tentando fugir, mas já tenho um dossiê pronto, comprovando que aquele frango pertence a Jorge Amado. Quem o pegar vai ter que se ver comigo.

    CAETANO VELOSO: O frango é amaro, é lindo, uma coisa assim amara. Ele atravessou, atravessa e atravessará a estrada porque Narciso, filho de Canô, quisera comê-lo, ou não!

    DORIVAL CAYMMI: Eu acho (pausa)... - Amália, vai lá vê pronde vai esse frango pra mim, minha filha, que o moço aqui tá querendo sabê...

    CARLA PEREZ: Porque queria se juntar aos outros mamíferos.

    SURFISTA: O bicho atravessou, cara... Bicho manêro, aí. Demaaaaais...Issah...

    PORTA-VOZ DA OTAN: Era um frango??! Iiiihhhh...

    MARTIN LUTHER KING: Eu tive um sonho. Vi um mundo no qual todos os frangos serão livres para cruzar a estrada sem que sejam questionados seus motivos.

    MAQUIAVEL: A quem importa o porquê? Estabelecido o fim de cruzar a estrada, é irrelevante discutir os meios que utilizou para isso.

    FREUD: A preocupação com o fato de o frango ter cruzado a estrada é um sintoma de sua insegurança sexual.

    ALBANI: Porque estava feliz.

    PLATÃO: Porque buscava alcançar o Bem.

    ARISTÓTELES: É da natureza dos frangos cruzar a estrada.

    NELSON RODRIGUES: Porque viu sua cunhada, uma galinha sedutora, do outro lado.

    MARX: O atual estágio das forças produtivas exigia uma nova classe de frangos, capazes de cruzar a estrada.

    MOISÉS: Uma voz vinda do céu bradou ao frango: "Cruza a estrada!" E o frango cruzou a estrada e todos se regozijaram.

    ALMIR KLINK: Para ir onde nenhum frango jamais esteve.

    DARWIN: Ao longo de grandes períodos de tempo, os frangos têm sido selecionados naturalmente, de modo que, agora, têm uma predisposição genética a cruzar estradas.

    EINSTEIN: Se o frango cruzou a estrada ou a estrada se moveu sob o frango, depende do ponto de vista. Tudo é relativo.

    HEMINGWAY: "To die. Alone. In the rain."

    GEORGE ORWELL: Para fugir da ditadura dos porcos.

    SARTRE: Trata-se de mera fatalidade. A existência do frango está em sua liberdade de cruzar a estrada.

    MACONHEIRO: Foi uma viagem...

    PINOCHET: El se fué, pero tengo muchos penachos de el en mi mano!

    FEMINISTAS: Para humilhar a franga, num gesto exibicionista, tipicamente machista, tentando, além disso, convencê-la de que, enquanto franga, jamais terá habilidade suficiente para cruzar a estrada.

    PDT: Para protestar contra as perdas internacionais promovidas por esse governo neoliberal e entreguista, e apoiar a renúncia de FHC, já ! Fora FHC!

    MALUF: Não tenho nada a ver com isso. Pergunte ao Pitta.

    NIETZSCHE: Ele deseja superar a sua condição de frango, para tornar-se um superfrango.

    CHE GUEVARA: Hay que cruzar la carretera, pero sin jamás perder la ternura.

    BLAISE PASCAL: Quem sabe? O coração do frango tem razões que a própria razão desconhece.

    SÓCRATES: Tudo que sei é que nada sei.

    PARMÊNIDES: O frango não atravessou a estrada porque não podia mover-se. O movimento não existe.
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    NOTAS MINHAS: Não gostei, em particular, da frase do Maquiavel. Está uma porcaria e vou reformulá-la:

    MAQUIAVEL: Porque encontrou um meio de fazê-lo, qualquer que seja.

    E poderiam ter incluído:

    NEWTON: Porque, ao empurrar a estrada para trás, esta impôs ao Frango uma reação de igual intensidade, porém em sentido contrário.

    SEU MADRUGA: Para fugir das bofetadas da velha coroca...

    CHUCK-NORRIS: Porque eu mandei. Algum problema? Ah bom, melhor assim...

    PAI DO JOÃO: Ah! Puta que o paril! Ele já atravessou é?! Cadê esse frango hein? Puta que o paril!

    HELOÍSA HELENA: Porque nesse país esses Frangos acreditam que indo para o outro lado da estrada estão fazendo algum bem para o povo, mas são uns caras-de-pau! Tenho nojo deles! Mas respeito que tenham ido pra lá. Só espero que não me matem!