Monday, September 25, 2006

Certo ou errado?

As coisas vão acontecendo e fica sempre essa tentação muito, muito humana, de querer encontrar algum julgamento de valor escondido aqui e ali nos acasos que correm soltos. Algumas coisas eu gostaria mudar, mudar muito. E fica essa dúvida: é por conveniência, egoísmo, ou por alguma razão maior? Há algo de errado se for por puro egoísmo?! Mas outras... Outras acontecem e reforçam essa certeza de que alguma justiça há por aí. Alegrias alheias tão bonitas de se ver que invadem um pouco de nossas alegrias escondidas também.

Wednesday, September 20, 2006

For further investigation. . .

Friday, September 15, 2006

Mas é tão óbvio!

Deus inventou a insônia por causa dos luares.

Thursday, September 14, 2006

Um bom lugar para se viver

O semáforo se fecha.

- Ô tio, leva um chiclete aí?!

A cabeça dentro do carro acena que não.

Segue o menino adiante.

A cabeça dentro do carro observa pelo retrovisor.

O menino volta.

- Ô garoto!

- Vai levá um?

- Me diga, você estuda?

- Estudo, tô na sexta série.

- E mora aonde?

- Lá pro lado de Guaianazes...

- É bem longe... Então, e o que você quer ser quando crescer?

- Eu queria ser bombeiro.

- Então promete pra mim que vai estudar sempre e não vai desistir? Se vocâ não desistir, vai conseguir ser bombeiro, garanto!

E a mão se estende janela afora com um real.

- Prometo. Toma.

Entrega-se a caixa de chiclete.

- Não vou levar o chiclete não, pode ficar.

Esta cidade apresenta um ótimo custo de vida. Compra-se nas ruas, por um real, paz de espírito e uma alforria da realidade.

Wednesday, September 13, 2006

=D

Mais um motivo para você ir atrás do livro de Paul Auster que mencionei no post de baixo:

"Meu pai é obcecado por seu nariz, escravizado por ele. Na sua cabeça, Deus criou o nariz como uma brincadeira e esqueceu dele na correria para criar o mundo antes de domingo, seu dia de folga. Meu pai e Deus têm muita coisa em comum: Deus tem o destino de todas as vidas sobre seus ombros, papai tem renite alérgica. Para papai, isso dá um empate."

Tuesday, September 12, 2006

Edith Riemer

Ela ganhou, aos treze anos, uma bicicleta. Perdeu os pais em um campo de concentração e foi parar na Inglaterra. Acabou achando a bicicleta, mas não podia andar nela pois os ingleses não gostavam de ver aquela bicicleta alemã desfilando por aí.

A história, contada pela própria Riemer, não ocupa nem quatro páginas do livro de Paul Auster, "Achei que meu pai fosse deus". É da Companhia das Letras, e contém inúmeras histórias que ouvintes de uma rádio enviavam para serem lidas no ar. O autor do livro é o próprio radialista, que selecionou as melhores dentre umas quatro mil e montou o livro.

Eu estava achando o livro simplesmente curioso e divertido até chegar a história da bicicleta. Eu amo bicicletas. E também acho história um assunto interessante. E me divirto ao ver amostras da estupidez humana. E amo ser humano e ficar comparando minhas estupidezas com as dos outros.

Tá recomendada a leitura.

Sunday, September 10, 2006

Outros sonhos

Chico Buarque

Sonhei que o fogo gelou
Sonhei que a neve fervia
Sonhei que ela corava quando me via
Sonhei que ao meio-dia

Havia intenso luar
E o povo se embebecia
Se empetecava João
Se emperequetava Maria

Doentes do coração
Dançavam na enfermaria
E a beleza não fenecia

Belo e senero era o som
Que lá no morro se ouvia
Eu sei que o sono era bom
Porque ela sorria, até quando chovia

Guris inertes do chão
Falavam de astronomia
E me juravam o diabo
Que Deus existia

De mão de mão o ladrão,
Relógios distribuía
E a policia já não batia

De noite raiava o sol
Que todo mundo aplaudia
Maconha só se comprava na tabacaria
Drogas na drogaria

Um passarinho espanhol
Cantava esta melodia
E com sotaque esta letra
De sua autoria

Sonhei que o fogo gelou
Sonhei que a neve fervia
E por sonhar o impossível
Ah, sonhei que tu me querias

Monday, September 04, 2006

United 93

Gastei o tempo como pude, pois comprei o ingresso cedo demais. Fui andar pela Paulista, mas estava muito frio. Voltei e experimentei uma novidade meio estranha: pizza de strogonoff. Pedi que a outra metade fosse de margueritta, para compensar eventuais surpresas desagradáveis, mas no fim a pizza agradou. Depois continuei a leitura do Annual Review sobre "environmental values". Estava lendo mais precisamente a discussão sobre altruísmo quando chegou a hora do filme, e agora estou para continuar a leitura. Nada mais apropriado.

Durkheim classificaria os suicidas que protagonizaram os seqüêstros de 11 de setembro como sendo do tipo "altruístas", ou seja, eles livram-se da própria vida por força de uma estrutura social externa que se sobrepõe a todos os impulsos pessoais de manutenção da vida. É uma patologia social perigosa (soaria academicismo exagerado falar isso antes do fatídico dia 11), até porque envolve indivíduos sem nenhuma "anomalia", não é um tipo de loucura. Pelo contrário: compõe-se precisamente de um excesso de coerência com a estrutura social vigente.

Tá bom, falo um pouco sobre o filme, explicitamente: é muito bom. Realista. Eu fiz uma lista pequenas de momentos "hollywoodianescos", no mau sentido, mas só os mais chatões ficariam implicando com estes detalhes. É um filme como eu diria que tem que ser os principais filmes sobre o 11 de setembro (bem como outros filmes históricos documentando atrocidades do homem contra o homem): mostrar a coisa como ela deve ter se passado mesmo, sem mais nem menos.

Um pensamento que me é recorrente sobre essa história dos atentados é sobre a recorrente crítica de que "o sistema de defesa americano falhou". Não, eu não fico criticando ou tirando sarro dos americanos como muita gente por aí. E também nada de ficar achando que o sistema de defesa deles é algo como se vê nos filmes em que americanos vencem alienígenas. É fato eles não estavam preparados para o que aconteceu. Mas também é admirável a estrutura tecnológica que, sim, os norte-americanos têm instalada para controle do espaço aéreo e possível intervenção (interceptação de alvo por caças ou mesmo mísseis). Mas nesse contexto todo, o que me interessa é ver como as ações, sempre, invariavelmente, passam por pessoas. Em um dado momento, os militares tiveram autorização para abater aviões sequestrados. A ordem não foi passada adiante pelo receio de que, no meio de toda a confusão, aeronaves não-sequestradas fossem acidentalmente abatidas.

Computadores. Radares. Jatos supersônicos. Mísseis nucleares. Satélites. Rede integrada de informações.

E por trás de tudo, a guerra entre bom-senso, equívocos e as piores das intenções.

A guerra mais séria vivida pelo mundo é a guera das decisões.

Saturday, September 02, 2006

Bêbado

O álcool.... o álcool tem um quê de previsibilidade que me causa incômodo e até uma certa repulsa. Eu jamais admitirei depois de tê-las dito, mas sei de todas as palavras e pensamentos proibidos que tenho e que tentarão fugir a público impelidos pelo álcool. Aos outros será um efeito criativo e surpreendente. Para mim continuará a mesma monotonia. Preciso então de um outro vício, pois este não me serve.

O inesperado. Aquilo que é vivo de uma vida organicamente autônoma. Isso sim. O expontâneo. Já parou para pensar no quão complicado é conquistar o expontâneo? Não se trata de uma negociação... de um jogo ou de uma troca. Conquistar o expontâneo é quase uma contradição, mas ainda assim possível. Está no limite entre os sonhos mais justos e as sujeiras mais possíveis.

Quero mais um copo.