Monday, November 20, 2006

V de Veja o filme!

Assista V de Vingança, um filme muito bom tanto para distrair um pouco como para jogar um pouco de lenha na fogueira em reflexões tanto sobre o presente quanto sobre o passado recente desta sociedade em que as massas, sendo cada vez mais massas (em termos de volume mesmo), criam o substrato ideal para a consolidação da idéia e da imagem como não só produtos da realidade, não só como criadoras da realidade, mas também como constante transporte da realidade de uma configuração a outra, como seu altar de conflito, como seu ringue de santificação.


Alguns ótimos comentários sobre o filme, caçados por aí:

"Mas para um filme interessado em passar uma mensagem claramente revolucionária, não teria sido sensato manter bem definidas as fronteiras entre caos e anarquia? Quem vê o filme não julgará que basta o caos para derrubar um regime fascista, o bombardeamento de uns edifícios simbólicos para se iniciar uma nova era de paz e fraternidade? É nessa direcção que se revelam as maiores falhas de V for Vendetta e o tornam um produto inferior à grande linha de cinema distópico. Existe uma revolução, mas não existe uma reflexão sobre as consequências dessa revolução, apenas uma visão naïve de que os fachos devem ser eliminados, de modo a permitir que a liberdade prevaleça.", em http://www.epicapt.com/2006/04/06/resenha-v-de-vinganca/, uma resenha bem crítica que termina com a fria observação de que o filme "não acrescenta nada de novo ao que já tinha vindo a ser escrito e feito anteriormente, com muito maior brilhantismo. Mas será talvez a obra que tenha capturado, com maior impacto, uma mistura de bom entretenimento com assuntos que exigem uma maior consciência e reflexão da parte do público.".

O jornalista Chico Fireman comenta em seu blog que "Eu finalmente tinha entendido o terrorismo embora ainda não conseguisse concordar com ele ou aprová-lo, embora minha opinião sobre ele continuasse a mesma. O texto de Moore é muito competente ao dar consistência à lógica do pensamento de V. " Veja em http://filmesdochico.blogspot.com/2006/04/v-de-vingana.html

Lendo esses comentários todos e refletindo um pouco preguiçosamente sobre o filme (afinal gente, é domingo e eu sou um humano preguiçoso), vai ficando difícil deixar de lembrar das aulas de Antropologia ainda nos tempos de FFLCH. "Alteridade, a compreensão da realidade do outro como único meio de entender a própria realidade". Basicamente, em dois semestres, isso era tudo de útil que o professor Kabenguele repetia de bom. Mas, agora que o tempo já passou e que esses dois semestres são comprimidos na lembrança tanto quanto se queira, some o tédio e fica a admiração pela pertinência. É muito fácil aceitar a morte do inimigo. A destruição do território alheio em função de uma causa própria. Também é fácil de aceitar... Agora... e se o inimigo fosse um dos nossos? E se descobríssimos ser a própria violência que "nos protege" aquela que devemos combater? Ou se o inimigo estivesse em nossa própria casa, de forma que as mortes todas que acontecessem jorrassem sangue em nossos jardins? O 11 de setembro fez com que automaticamente entendêsse-mos pro vítimas os milhares de civis mortos... Mas se, num raciocínio bem simplista porém buscando salientar extremos... Estivesse ocorrendo naquela manhã, no World Trade Center, uma reunião com toda a AlQaeda, Bin Laden, e incluíssimos ainda Saddam Hussein e quem sabe alguns figurões chineses, e se ao invés de aviões sequestrados tivéssemos civis kamikazes lançando-se contra os prédios, seriam eles então automaticamente convertidos em heróis ao invés de vítimas, e todos os milhares de mortos pelo simples azar de estar no prédio ou nas redondezas no horário, vivariam eles heróis de guerra? Mortos por uma causa? Pode parecer absurdo, uma coisa sem sentido, mas o próximo passo nesse raciocínio de vasculhar extremos é colocar o inimigo num lugar ainda mais próximo: na pele de um aliado. Na do próprio governo, quem sabe. E se isso acontecer? E se, no cenário mundial, forem os nossos líderes os grandes vilões, os grandes criminosos? Quando vamos perceber? E o que vale a pena fazer para mudar a realidade?

Outros links interessantes:
http://adorocinema.cidadeinternet.com.br/colunas/renato-martins/v-de-vinganca.asp http://www.rabisco.com.br/77/s.htm

[Em inglês]: http://www.comicon.com/thebeat/2006/03/a_for_alan_pt_1_the_alan_moore.html#more

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