Wednesday, January 28, 2009

Dos méritos da mente viva

Relata Confúcio nos seus Analectos:

O Mestre disse: "Merece ser um professor o homem que descobre o novo ao refrescar na sua mente aquilo que ele já conhece".

Onde fica clara a importância dada à capacidade criativa da mente. Note que nenhum grande juízo de valor foi feito sobre o algo "novo" que é descoberto... De modo que é a criação, em si, o que importa, a capacidade de ver coisas novas no que se apresenta como pronto.

Thursday, January 22, 2009

Tolerância

O Adrianismo, como já foi falado há duas semanas, é uma religião que admite apenas um adepto: eu! Não fique triste... Se está com inveja, crie sua própria religião.

O bom de ser uma religião com um único fiel é que a necessidade de ampla tolerância fica mais evidente... Ou é guerra contra todo o Mundo ou então vamos viver num ambiente de tolerância.

E se é pra haver uma tolerância assim tão ampla, sugiro até abandonar a palavra "tolerância", que tem uma conotação lá algo negativa (tolera-se algo pelo que se tem repulsa mas que não se deve evitar por completo, não é?). Assim, não acho que deve existir Tolerância Universal... Acho que deve existir algo mais que isso... No Adrianismo, prega-se a Admiração Universal...

E onde não existe a Admiração, ao invés de dar vazão aos impulsos interiores de rejeição e hostilidade, deve-se fazer um esforço de crescimento espiritual para descobrir quais os méritos escondidos naquilo que lhe é alheio. A Admiração é sempre possível.

Tuesday, January 20, 2009

O limite final...


Gosto da madrugada para várias coisas. Dentre tantas, gosto de ler no meio do silêncio sem fim da madrugada, eventualmente ao som de alguma das músicas da minha comprometedora mp3teca. E, pensando bem, acho que a madrugada gosta que eu me dê às leituras assim... Tanto é que vez ou outra me presenteia com maravilhosas surpresas. Não se deixem enganar pelo tom emotivo: não, não achei a poesia definitiva ou o conto derradeiro. Pelo menos não até agora. Achei mesmo foi uma preciosa coleção de comentários sobre um assunto de primeiríssima importância (desde que você já esteja devidamente abrigado, alimentado e saudável): os limites absolutos do conhecimento.

Em maio de 1994 um workshop foi realizado pelo Santa Fe Institute, com o tema Limits to Scientific Knowledge. Ao final do evento, os participantes concordaram que a conversa deveria continuar. Concordaram também em enviar, cada um, uma página com suas opiniões pessoais sobre o tema. O documento que reúne esses diversos comentários pode ser acessado nesse link. Adoraria comentar mais longamente, já agora, diversos pontos dos comentários. Mas depois de meia madrugada lendo, ocorre que me vem à mente essa ótima idéia: dormir um pouco. Boa noite!

Friday, January 16, 2009

Links da semana



CIÊNCIA:
Sinal cósmico de origem desconhecida
Seleção sexual e sentimentos


CURIOSIDADES:
Fantasma impede assalto na Malásia
O que aconteceu com os piratas da Somália?
A quantas anda o buraco do metrô

Conceitos de beleza

A essência de toda arte é ter prazer em dar prazer.
Mikhail Baryshnikov

Pense grandes pensamentos, mas viva as pequenas emoções.
H. Jackson Brown

The art of pleasing consists in being pleased.
William Hazlitt

Variety of mere nothings gives more pleasure than uniformity of something.
Jean Paul Richter
The essence of all art is to have pleasure in giving pleasure.

Frequentemente escuto opiniões críticas a diversos tipos de expressões artísticas... Textos, músicas, etc... O fenômeno que vou comentar aqui acontece em todas as áreas, mas tenho a impressão de que é mais pronunciado no meio musical... Você já ouviu comentários do tipo:

- Nossa, uma droga o solo daquele cara! Guitarrista mesmo é o Joe Satriani, Kiko Loureiro...

(se não gostou dos nomes acima, troque pelos que você considera "realmente" bons).

- Cara... não vi nada de mais nessa música aí... Tudo simples, eu poderia ter feito bem mais que isso! (comentário típico de quem estudou música por muito tempo e toca muito bem algum instrumento)

- Ah meu, para com isso! Isso não é nada elaborado, é uma porcaria! Banda X, artista Y, Sei-Lá-Quem Z são muito melhores! (comentário típico de quem "tem cultura e erudição" e está acima da arte mundana...)

Escuto essas críticas todas e não tenho autoridade para dizer que essas pessoas estão "erradas"... Mas como minha tendência estética mais à flor da pele é a de criticar somente os críticos, e mais nada, vamos lá...

Algo elaborado demais, como uma música muito difícil de ser tocada, que exige anos de prática em um determinado instrumento, que só um punhado de virtuoses no mundo consegue executar... é necessariamente algo belo? Algo simples, que, uma vez feito, qualquer criança consegue rapidamente aprender a tocar, é inerentemente "inferior"? Creio que trata-se aqui de uma simplificação grotesca da realidade, ou ao menos de um fechar de olhos que priva um número grande de espectadores do mundo de espetáculos realmente maravilhosos. Defendo que o grande mérito artístico está em encontrar a beleza na simplicidade. Você pode ver uma música e pensar: "é muito simples, posso tocá-la já, de ouvido!". E talvez seja o caso... Mas se ela for BELA... então quem a escreveu é realmente um gênio... É preciso treinamento e prática para fazer coisas elaboradas. Mas é preciso um golpe de mestre para esculpir beleza em idéias simples...

Outro ponto de minhas concepções estéticas em que normalmente estou em discordância com a maioria das pessoas em minha volta é o seguinte: nada obriga à apreciação da arte de forma "ranqueada", hierarquizada de acordo com referências mundiais. A arte é um veículo para experiências de felicidade ou de exacerbação de perspectivas emocionais... Diminuir a suscetibilidade às manifestações artísticas apenas para criar uma imagem de "elevada erudição e elevado gosto estético" é então não mais que uma forma muito eficiente de deixar a própria vida muito sem graça às custas de uma imagem que só vai ser valorizada por outros chatos à altura. Beethoven, Mozart, e tantos outros, escreveram obras fenomenais, sublimes... Mas não é por conta da magnitude do feito desses que não vou me divertir até não poder mais com um batuque improvisado no vagão de trem, na volta pra casa (coisa que aconteceu semanas atrás)...

Críticas à arte, a qualquer forma de arte, dizem respeito à qualidade do trabalho artístico em si, enquanto tal... Mas na medida em que a função da arte é a promoção de alguma espécie de estado subjetivo, é profundamente reveladora a completa desconexão entre a arte em si, e a experiência subjetiva dela derivada. Arte elaborada e elevada pode levar a experiências deploráveis e medíocres, ao mesmo tempo que arte "medíocre e deplorável", sob a ótica de critérios esclarecidos e objetivos, pode levar aos mais invejáveis extremos emocionais.

Entre uma elevada erudição cheia de conceitos clássicos e hábil na arte de uma avaliação precisa e aguda dos detalhes da arte, e uma experiência emocional intensa frente ao prazer da expressão artística, fico com essa última, sem hesitar nem um pouco!

Não se iludam... Não estou defendendo a baderna sobre eventos organizados... Estou defendendo que a avaliação da complexidade é algo separado da avaliação da qualidade, e que esta última deve ter como foco principal o resultado final, que é a emoção humana (própria e dos outros ao redor). Paralelamente, estou defendendo que fechar os olhos a um enorme número de expressões artísticas existentes por aí por uma pretensa preferência a algo "superior" não traz benefício algum, apenas limita substancialmente as oportunidades viáveis para uma boa dose de divertimento e reduzem, portanto, as chances de uma vida feliz. Muito estudo e preparo pode levar a resultados assombrosos... Mas não é um simples acaso o fato de que as pessoas ligadas aos maiores feitos da criatividade humana compartilhavam um traço comum: eram apaixonadas pelo que faziam!

Thursday, January 15, 2009

Da beleza das coisas

O peregrino sabe que todas as coisas materiais são neutras, nem boas e nem más. E sabe que não existe bom e mal absoluto, mas sim apenas a alegria e tristeza interior e a alegria e tristeza do outro. O peregrino, diante das coisas, sabe escolher os usos e leituras que levam à alegria e ao bem.

Monday, January 12, 2009

Entendendo as micaretas


Ano novo, tags novos, como já vocês já veem percebendo(vêem? ... não não... apenas veem...). Aliás... Estou ainda totalmente por fora das novas normas do Português (Portugues? Sei lá!) Vou ter que estudar isso com calma... e até lá, continuo gramaticalmente ilhado em meados de 2008, periodo confortável em que minhas tremas reinavam tranqüilas! Sem mais delongas, o tag da vez: "Fichamentos", onde vou tagarelando um pouco sobre minhas leituras da semana.

E nesta semana retomei a leitura de uma das seis edições da revista Tempo Social que tenho, impressas, em minha coleção. (Quem quiser acessar as edições digitais, basta procurar aqui no SciElo) Li o interessantíssimo artigo de Benoit Gaudin, entitulado: "Da mi-carême ao carnabeach - história da(s) micareta(s)".

Se você pensa que as micaretas são festas modernas, que surgiram espontaneamente depois que você fez 14 anos e seu pai começou a deixar você viajar pra Porto Seguro com o pessoal do colégio, engana-se! A gênese das micaretas volta na história até o tempo em que as relações culturais Brasil-Europa ainda eram muito mais estreitas do que atualmente (talvez seja mais apropriado dizer que eram muito mais unilaterais), e a abolição da escravidão ainda estava por vir.

No final do século XIX, comemorações carnavalescas ainda eram basicamente festas à moda européia, voltadas à elite da sociedade. A abolição da escravidão finalmente permitiu que um forte componente da cultura africana fosse inserido nessas festas, tanto no âmbito musical como na vestuária e mesmo nos costumes festivos. O termo que iria evoluir para a versão atual vem de "mi-carême", do francês, que significa "meia-quaresma". Em 1914, já num processo de abrasileiração, a mi-carême passou a ser encarada como um "carnaval fora de época".

Interessante é que nessa mesma época o carnaval de Salvador vinha entrando numa fase de maré baixa, muito desanimada, em boa parte devido à "repressão policial contra as formas culturais e religiosas de origem africana". A própria mi-carême fora transferida para um domingo posterior à Páscoa, para evitar problemas com a igreja, e com isso também "perdeu o sabor, ameaçando morrer".

Como então a micareta renasceu? Se forças culturais e inércias sociais são forças inegáveis a balizar o curso da história, o renascimento das micaretas vem nos lembrar do papel imprescindível do acaso, da aleatoriedade mesmo, na definição de uma história particular dentre todas as histórias possíveis... Explico! Na década de 30 do século XX as grandes cidades polarizavam as festas carnavalescas. Feira de Santana, localizada ao lado de Salvador, era praticamente esvaziada na época do carnaval devido às "migrações festivas". Quem realmente queria aproveitar o carnaval abandonava a cidade e se dirigia a Salvador.

[...] em 1937, uma chuva diluviana impediu que o carnaval fosse comemorado normalmente e os foliões feirenses, inconformados e frustrados, decidiram postergar os festejos momescos, realizando-os algumas semanas depois da data convencional. O sucesso do primeiro "carnaval fora de época" feirense que surgiu dessa decisão foi tal, que a festa se repetiu nos anos seguintes e tornou-se a mais animada do ano, eclipsando o próprio carnaval que, a partir de então, deixou totalmente de ser celebrado.

Em 1949 outro evento marcante: "dois eletrotécnicos e músicos de Salvador, Osmar Macedo e Antônio Adolfo do Nascimento (o Dodô), inventaram o que mais tarde seria o trio elétrico: em 1949, ainda não se falava de trio mas sim de dupla elétrica, pois os dois se apresentavam sós, tocando num carro aberto (um velho Ford Fobica de 1929), com suas guitarras baianas (também invenção deles) ligadas na bateria do carro."


Daí pra frente a coisa toda foi evoluindo de forma razoavelmente orgânica... A "dupla elétrica" evoluiu para trio elétrico, o carro foi substituído por caminhão, o termo "trio elétrico" passou a ser confundido mais com o caminhão em si do que com os artistas musicais que se apresentavam sobre ele... Inicialmente, as apresentações eram abertas, ocorriam pelas ruas, e eram custeadas pelas prefeituras das cidades e também por empresas de bebida, porém os trios elétricos foram ficando cada vez mais caros, até que evoluíram para eventos fechados, que permitiam cobrar diretamente dos "foliões" uma taxa determinada.

Curiosidade: "O abadá só foi criado em 1992, e sua criação é reivindicada pelo bloco de trio Eva".

Concluindo... Gostei muito de ler esse artigo, em primeiro lugar porque sua profundidade analítica faz saltar aos olhos a importância do que posso chamar de perspectiva histórica, ou seja, a ampliação de olhar gerada pela consideração da história de um fenômeno, ao invés da simples apreciação fria de seu aspecto atual. Pude ver ao longo do artigo como as forças presentes no substrato cultural baiano escorreram ao longo da história, com seu curso sofrendo desvios por força do acaso ou do conflito com outras forças também presentes, levando pequenos eventos isolados a compor o que hoje pode ser considerado uma grande instituição, uma organização estabelecida. Assim, paralelamente, essa perspectiva história nos abre os olhos para a dimensão escondida de eventos que hoje nos parecem pequenos, isolados e insignificantes, mas que guardam em si um potencial inimaginável para estruturar algo maior no futuro.

Em segundo lugar, a leitura do artigo foi interessante por constituir um exemplo claro de fenômeno de emergência, entendendo aqui emergir no sentido de surgir. Os atores que compõe o fenômeno como um todo não estão planejando toda a seqüência histórica que suas ações localizadas, microscópicas, os fará descrever. Embora exista uma lógica inteligível no processo de crescimento do fenômeno "micareta", principalmente em sua profissionalização a partir dos anos 50 com o advento do trio-elétrico, salta-me claramente aos olhos uma espécie deirracionalidade subjacente de seus agentes ao longo das décadas.

REFERÊNCIA: GAUDIN, Benoit. Da mi-carême ao carnabeach - história da(s) micareta(s). Tempo Social; Rev. Sociol. USP, S. Paulo, 12(1):47-68, maio de 2000.

Thursday, January 08, 2009

Surge uma nova religião


Já tem muitas religiões no mundo, eu sei. Mas nenhuma me agrada por completo, de modo que vou fazer a minha própria.

E como todas as religiões enfrentam problemas devido ao excesso de fiéis, minha religião admitirá apenas um adepto, não mais! Finalmente, como obviamente esse único adepto serei eu mesmo, nada mais apropriado que chamar essa nova religião de Adrianismo.

Que fique bem claro... Não é Narcisismo, é Adrianismo! Não é Egocentrismo... É Adrianismo!

De tempos em tempos, surgirão aqui os aforismos, paródias, mandamentos e parábolas do Adrianismo... Toda religião precisa dos seus, não é?! Até lá!

Sunday, January 04, 2009

Escoamento laminar



O vídeo mostra de uma forma muito interessante a natureza do escoamento laminar, em baixos números de Reynolds. Queria saber se é fácil reproduzir com qualquer fluido (água...), ou se requer algo especial... pois não parece ser uma experiência complicada de fazer...

A sugestão do vídeo foi do Paulinho, via Orkut.