Monday, September 04, 2006

United 93

Gastei o tempo como pude, pois comprei o ingresso cedo demais. Fui andar pela Paulista, mas estava muito frio. Voltei e experimentei uma novidade meio estranha: pizza de strogonoff. Pedi que a outra metade fosse de margueritta, para compensar eventuais surpresas desagradáveis, mas no fim a pizza agradou. Depois continuei a leitura do Annual Review sobre "environmental values". Estava lendo mais precisamente a discussão sobre altruísmo quando chegou a hora do filme, e agora estou para continuar a leitura. Nada mais apropriado.

Durkheim classificaria os suicidas que protagonizaram os seqüêstros de 11 de setembro como sendo do tipo "altruístas", ou seja, eles livram-se da própria vida por força de uma estrutura social externa que se sobrepõe a todos os impulsos pessoais de manutenção da vida. É uma patologia social perigosa (soaria academicismo exagerado falar isso antes do fatídico dia 11), até porque envolve indivíduos sem nenhuma "anomalia", não é um tipo de loucura. Pelo contrário: compõe-se precisamente de um excesso de coerência com a estrutura social vigente.

Tá bom, falo um pouco sobre o filme, explicitamente: é muito bom. Realista. Eu fiz uma lista pequenas de momentos "hollywoodianescos", no mau sentido, mas só os mais chatões ficariam implicando com estes detalhes. É um filme como eu diria que tem que ser os principais filmes sobre o 11 de setembro (bem como outros filmes históricos documentando atrocidades do homem contra o homem): mostrar a coisa como ela deve ter se passado mesmo, sem mais nem menos.

Um pensamento que me é recorrente sobre essa história dos atentados é sobre a recorrente crítica de que "o sistema de defesa americano falhou". Não, eu não fico criticando ou tirando sarro dos americanos como muita gente por aí. E também nada de ficar achando que o sistema de defesa deles é algo como se vê nos filmes em que americanos vencem alienígenas. É fato eles não estavam preparados para o que aconteceu. Mas também é admirável a estrutura tecnológica que, sim, os norte-americanos têm instalada para controle do espaço aéreo e possível intervenção (interceptação de alvo por caças ou mesmo mísseis). Mas nesse contexto todo, o que me interessa é ver como as ações, sempre, invariavelmente, passam por pessoas. Em um dado momento, os militares tiveram autorização para abater aviões sequestrados. A ordem não foi passada adiante pelo receio de que, no meio de toda a confusão, aeronaves não-sequestradas fossem acidentalmente abatidas.

Computadores. Radares. Jatos supersônicos. Mísseis nucleares. Satélites. Rede integrada de informações.

E por trás de tudo, a guerra entre bom-senso, equívocos e as piores das intenções.

A guerra mais séria vivida pelo mundo é a guera das decisões.

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