Sunday, February 25, 2007

PETAR


Minha barraca tem goteiras,
Onde pinga sem pará;
As Marinas que aqui reclamam,
Não reclamam como lá.

Nossas cavernas têm mais pedras,
Nossas várzeas mais odores,
Nossas bagagens têm mais breja,
Nossa breja mais amores.

No mato, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha barraca tem goteiras,
Onde pinga sem pará.

Minha barraca tem isopores,
Que tais não encontro eu cá;
No mato - sozinho, à noite -
Mais presunto encontro eu lá;
Minha barraca tem goteiras,
Onde pinga sem pará.


Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute as margarinas
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as barracas,
Onde pinga sem pará.

No mato, na trilha, na lama,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha perna tem picadas,
Onde coça sem pará.

Meus amigos têm mais risos,
Que tais não encontro eu cá;
No mato - na trilha, na lama -
Mais mosquitos encontro eu lá;
Minha perna tem picadas,
Onde coça sem pará.

Não permita Deus que eu morra,
Nem que eu venha a escorregá;
Sem que desfrute os jantares
Que só o Demo me dá;
Sem qu’inda aviste as barracas,
Onde pinga sem pará.

Wednesday, February 14, 2007

Identidade

O sono vai longe já então as palavras são poucas, mas não poderia deixar de mencionar aqui esse dia em que pessoas fantásticas aparecem trazendo essa sensação de que há algo de muito positivo na vida.

Ando pela Paulista me perguntando quantas outras pessoas não estão lá escondidas sem que eu saiba de seus sonhos grandiosos e altruístas, ou de suas histórias mundanas, vivas e engraçadas. Essas pessoas precisam se conhecer, precisam descobrir que existem...

Frequento casas... comprimento as pessoas... e meses depois, anos depois!, descubro que por trás daqueles educados cumprimentos há todo um mundo de histórias ricas, vivas, profundas e divertidas...

"ah, eu tocava em uma festa... dava pra ganhar até 100 dólares, e olha que tinha dia que eu tocava em até três festas! É, é... dava pra juntar um dinheirão! Aí eu peguei tudo e montei um kibutz!"...

Eu tenho sono, mesmo... E nem adianta escrever também... O dia hoje foi tão rico de pessoas ricas, que eu poderia passar horas aqui escrevendo e escrevendo e não esgotaria todos os pensamentos e sensações.

Thursday, February 08, 2007

Falta de educação

Ontem, confesso, gastei um tempinho trocando mensagens inúteis em uma das comunidades do Orkut como forma de matar o tempo amorfo que não me divertia nem motivava. De repente, num dos momentos mais amistosos da conversa, eis que alguém resolve mandar uma mensagem de desprezo e com final ofensivo, dessas que terminam com imperativos indigestos e anti-higiênicos. Foi uma grande falta de educação. É falta de educação agredir verbalmente as pessoas como forma desesperada de tentar defender a razão (que assim, ironicamente, se esvai mais rapidamente). Mas, fiquei pensando, também é falta de educação usar sozinho o carro em dias que eu poderia utilizar o transporte público sem maiores transtornos. Também é falta de educação eu não conseguir conversar mais que dois minutos em uma entrevista para emprego sem utilizar gírias ou gagejar. Também é falta de educação eu não ter idéia de onde fica a Groenlândia quando a mencionam nas reportagens sobre aquecimento global. E também é falta de educação eu não conseguir entender os gráficos que aparecem no jornal nas reportagens de economia ou do que quer que seja. Diferentes faltas de educação, e eu não saberia decidir aqui qual é a mais importante...

Educação. Acabo de ler uma reportagem no Estadão mencionando que as notas no ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) vão mal. O pior desempenho desde 2002. O Ministério da Educação, num prestativo esclarecimento científico, informou que não é possível comparar os resultados de anos diferentes do ENEM porque a "prova é voluntária e a amostra termina por ser diferente". Mas foram mais de 3.000.000 de alunos voluntários. Se com uma amostra de uns poucos milhares de eleitores já se tem uma boa margem de certeza em pesquisas eleitorais num universo de dezenas de milhões de eleitores, duvido que os três milhões de alunos não sejam amostra mais que suficiente. São tantos alunos, que ainda que destoassem completamente do restante, por si só já representam uma séria preocupação, e garanto que eles são uma ótima representação amostral de si próprios.



Qualquer um que já viu as questões do ENEM sabe que, ainda que obter um desempenho altíssimo exija sim uma razoável "língua afiada" por estudos recentes, obter um mínimo de desempenho na prova exige apenas o domínio das habilidades básicas necessárias para interagir com a sociedade atual. Capacidade de interpretar informações escritas e dispostas em forma de gráficos; fazer uso matemático básico de informações fornecidas; conseguir expressar-se por meio da linguagem escrita.

Não é pedir muito. Num primeiro momento, seria de se esperar que pessoas desprovidas dessas habilidades não são capazes de interagir devidamente com o mundo moderno estruturado na economia da informação. Num segundo momento, você percebe que é exatamente isso o que está acontecendo. Num terceiro e desesperador momento, nota que são tantas as pessoas nessa situação de inanição cultural que forma-se toda uma sociedade marginal estruturada em formas cada vez mais arcaicas em termos de relações de trabalho, dinamismo cultural e autonomia social.

Não quero dizer que só a educação das escolas é cultura. Claro que não. Mas é um dos tipos de cultura que faz muita falta. E aqueles que discordarem de mim aqui torcendo o nariz muito provavelmente é porque nunca estiveram em uma escola capaz de apresentar-lhes devidamente esse ferramental básico.

O que fazer? Eu não sei, sinceramente. Reconheço uma tendência muito forte no Brasil, ou pelo menos aqui em São Paulo, que conheço melhor, a pedir mais verbas. Ah, mais verbas! Novos laboratórios, salas de aula reformadas, computadores. Quem sabe, até, melhores salários para professores com motivação revigorada? Sinceramente, sou cada vez mais cético quanto a isso tudo. Não que essas coisas não sejam boas, são muito bem vindas sim. Mas por si só não garantem nenhuma mínima revolução na educação e, mais ainda, é possível a promoção de grandes saltos qualitativos na educação sem nada disso. As maiores mentes que a história da humanidade já registrou até hoje foram produtos de leitura, livros, giz e conversa cara-a-cara. Isso, ainda bem, não tem ficado mais caro com o aumento do petróleo, não é ameaçado pelo aquecimento global, pelas loucuras do Bush ou pelas lulices do Inácio. Depende de uma profunda epidemia de motivação e confiança, e o resto está aí... Mas... como?!

Em tempo: a segunda das fotos neste post foi retirada do site do Committee for the Relief of Poor Children in Vietnam, uma ONG interessante; vale a pena uma olhada no site.

Wednesday, February 07, 2007

Estabilidade de grupos sociais

Comunidade. Fonte: http://www.newah.org.np/photogallery.html
Todos sabem que advogados e economistas têm um vocabulário todo próprio e inacessível aos leigos. Até aí, nenhum problema, pois toda especialidade acadêmica costuma criar seu léxico próprio em cativeiro promovendo uma especiação acelerada.

Acontece que nessas duas áreas citadas é comum a intromissão dos não-iniciados em qualquer discussão (talvez devêssemos também incluir aqui também a medicina). Talvez por isso mesmo a insistência no uso acentuado da linguagem técnica ocorra nessas áreas, como uma forma de fechar o grupo contra intromissões externas que poderiam causar um ruído inadequado.

Uma das idéias que está por trás dessa especulação é a de que um grupo, para ser estável, precisa ser o agente principal de sua plasticidade. Da mesma forma que um organismo precisa ser o agente principal de suas alterações como resposta às mudanças do ambiente, também os grupos sociais precisam fazer surgir de seu interior as adaptações necessárias. Caso o grupo seja aberto demais, poderia progressivamente ligar-se a outros pólos formadores de opinião ou geradores de inconsistências até perder sua estabilidade temporal.

Tuesday, February 06, 2007

Advogado do diabo

Pôr do sol no atol de Bikini
Defender a energia nuclear? Fazer testes atômicos parecerem uma coisa boa, principalmente para o meio-ambiente? Pois é... Essa é uma das coisas impressionantes que se vê no livro A Vingança de Gaia, escrito pelo simpático velhinho James Lovelock.

Na página 92 da mais recente edição brasileira, Lovelock escreve:

"A vegetação e os animais silvestres não percebem a radiação como perigosa, e qualquer ligeira redução que possa provocar em sua longevidade é bem menos perigosa que a presença de pessoas e seus animais de estimação."

Acho essa defesa contundente, irônica e sóbria. Não pude evitar esboçar um sorriso ao lê-la. Sim, é verdade, nós, nossos animais de estimação ou as dendríticas extensões de nossa civilização são as maiores ameaças ao mundo natural... E quando testes nucleares traumatizam uma determinada região impedindo que os humanos se aproxime, em pouco tempo esse lugar se tornará um refúgio seguro para a vida selvagem, por piores que sejam as conseqüências da radiação remanescente.

De qualquer modo, não é de se estranhar o porquê de a palavra "nuclear" despertar tanto desespero. Basta assistir o vídeo abaixo para viajar ao passado, ao período dos testes nucleares...



Ainda assim, com todos os horrores das bombas atômicas, fotos de locais de testes submarinos, como o atol de bikini, apresentam-se hoje como argumentos a favor de Lovelock. Basta ver a profusão de vida natural envolvendo os destroços de uma embarcação, abaixo.

Vida marinha no oceano de Bikini
É claro que James Lovelock não está defendendo as armas atômicas em seu livro; isso seria loucura. Ele é enfático, aliás, ao observar que

"Estamos certos em temer as armas nucleares. Talvez sua única virtude foi terem amedrontado tanto os líderes das superpotências que a Guerra Fria nunca esquentou." (pág. 98)

O que ele faz é analisar friamente o exemplo mais extremo conhecido do emprego da energia nuclear para concluir que a radioatividade não é algo tão diabolicamente perigoso como nos habituamos a pensar. O objetivo final da argumentação é convencer da viabilidade do emprego maciço de usinas nucleares para produzir o suprimento energético de nossa civilização. É a única tecnologia livre de emissões de gases estufas capaz de produzir energia na magnitude demandada atualmente.

Tubarões no atol de Bikini

Monday, February 05, 2007

Por que eu não gosto de poesias

Hum.... Antes de entrar nos detalhes, um esclarecimento: gostar eu até gosto. Um texto bem estruturado, nada trivial, e que fala de coisas também que todos poderiam perceber mas até então ninguém tinha realmente se dado conta. Ótimo, parece legal, não é? Mas, com o tempo, passei a ter um enorme receio com relação a essa minha admiração. Até chegar ao dia de hoje, em que penso ser melhor não gostar mesmo de poesia, deixe-a de lado. Sim sim, deixe-a de lado, os riscos são muito grandes e não valem a pena.

Que risco? O risco natural em toda pessoa de tomar o autor pela própria obra. Textos são sempre portadores de um espírito nobre subjacente, mas isso é por exigência da coerência interna, e coerência é um requisito fundamental à nobreza. Sim, é claro que uma obra reflete muito de seu autor, mas não por transposição direta das qualidades! Essa é a falácia! Um texto bem construído revela... a capacidade de criação de bons textos por parte do autor, E NADA MAIS! Como engenheiro, eu jamais poderia clamar a rigidez de uma enorme estrutura que projetei como tradutora de alguma mística força colossal em meu próprio corpo, ou talvez em minha alma. O que fica exposta é minha capacidade de criar grandes estruturas, só isso.

Os abismos mais profundos da alma... Fazer inferências sobre esse domínio oculto a partir de umas poucas (ou muitas, tanto faz) palavras rabiscadas? Não! Nem mesmo as atitudes do dia-a-dia são realmente capazes de revelar com clareza o que se passa nas profundezas de uma pessoa... Tantas coisas são feitas em dissonância com os eus profundos que, por fim, nem o que se faz é o que se é. Creio que as atitudes devem ter prioridade sobre os escritos na interpretação do alheio, mas nem elas bastam.

Talvez, no momento, eu tenha uma raiva não só das poesias em particular, mas das expressões artísticas em geral e, por que não dizer também... Das expressões em geral. Sim...

Há um deserviço histórico prestado por tudo o que é expressão, da poesia nobre até a conversa corriqueira de uma caminhada fora de hora. É a invenção do marketing pessoal. É o anúncio daquilo que poderíamos ser porque gostariam que fôssemos ainda que não o sejamos, mas sem a clara exposição de todos esses poréns. Minha raiva maior é pela banalização da realidade não articulada.

As fotografias enfeiaram todas as paisagens do mundo. É preciso agora um profissional para enquadrar qualquer cena simples e capturar suas belezas escondidas. Os olhares leigos já não se sentem autorizados, preparados e, para todos os fins, dispostos a procurar nas cenas suas luzes eternas.

As músicas cujas melodias são um tratado de ritmica e harmonia e afins enfeiam e humilham as cantorias de porta de bar, as desafinações dos gritos entre amigos... Falham em criar essa alegria expontânea e incontida e esquecem assim de onde nasceram.

São os argumentos que fazem a justiça e a nobreza de um advogado, não sua conduta! (Essa última exigiria um enorme trabalho para ser realmente conhecida, e quem quer trabalho?)

E as poesias então?! Como fotografias bem tiradas, revelam luzes escondidas... Mas são muito mais poderosas em seu ofício destrutivo. Destroem não só paisagens. Destroem o lado invísível de sorrisos e olhares, aniquilam sentimentos, corroem os atos mais simples até lhes tirar toda essência.

É o Vício talvez? É o que nos faz humanos? Nos vendemos a pequenos prazeres até acreditar que a melhor garrafa é a do melhor rótulo?

Chega um dia em que cansa olhar por dentro. Chega uma hora em que o óbvio é aquilo que se anuncia com estridência e nunca aquilo que ali onde está, dia após dia, simplesmente é.

A poesia cega. Talvez eu até goste das poesias em si... Mas, responsáveis que são por essa cegueira, deixe-as em paz num canto não lido onde sejam inofensivas.

Rimas, métricas, aliterações, assonâncias e outros sei lá mais quais recursos são como ornamentos caros de quem um dia será lembrado pela aparência exótica que brilhou noite afora e não por nenhuma das piadas que contou ou risos que viveu. Imagens assim são vampirescas afinal, consomem o significado circundante para si. Quem entende Nietzsche além da estranheza daquele bigode? Ou Einstein além daquele penteado bizarro? Ou Mário de Andrade além daqueles óculos horríveis. Napoleão terá talvez afetado mais o mundo pela coragem toda fashion de liderar com um chapéu daqueles do que pelo mundo reestruturado que idealizou, tentou mas não conseguiu... A dor que dói mais que chorar deixa de existir sem as lágrimas. E o mesmo destino sombrio tem a felicidade que não explode em sorrisos e fica serena relaxando em um olhar.
Eu não acredito na existência daquilo que só é quando anunciado. Eu não acredito que o que é real seja tão pequeno que não possa ser visto.

Mas o mundo é o que é eu acreditando ou não. E esse texto é o que é seja ele o que pensei ou não.

Saturday, February 03, 2007

Mas então...

e escrever o que aqui?

Ah, dane-se!

Dane-se mesmo.

Não é hora de falar nisso.

Nem tempo de pensar nisso.

Dane-se.

Friday, February 02, 2007

Previsões...

Acabei de ler em uma reportagem do Estadão sobre Meio-Ambiente que as previsões sobre o aquecimento global no relatório de 2001 do IPCC foram conservadoras demais. E eu estou tendendo para uma postura alarmista também, ainda mais sendo que estou no meio da leitura do "Vingança de Gaia" de James Lovelock. Mas deixemos meu alarmismo de lado e, pelo menos por enquanto, também o de Lovelock... Vamos fazer algo mais engenheiresco e burocrático: ver gráficos.

O gráfico acima, que se não me engano está presente também no livro "Bilhões e Bilhões" de Carl Sagan, registra a concentarção de CO2 na tmosfera tal como medida em uma estação em Maula Loa (longe de tudo, no meio do Pacífico... de forma a estar longe das influências de grandes centros poluidores). Juntando esse gráfico com estimativas realizadas a partir de vários métodos sobre a concentração de CO2 na atmosfera no passado (até aproximadamente 1000 anos atrás), temos o gráfico abaixo.

A conta é rápida... Estamos com algo em torno de 360 ppm sendo que a média histórica era de aproximadamente 280 ppm. Um aumento de aproximadamente 30% em meros 200 anos de Revolução Industrial, e o ritmo dessa mudança está aumentando ao invés de diminuindo! Em termos de tempo geológico, uma mudança dessa magnitude em tão pouco tempo pode facilmente ser comparada a uma explosão. Colocamos a Terra em combustão, literalmente.

Thursday, February 01, 2007

Brothel in Auschwitz

Pra quem já ouviu falar de Auschwitz mas nunca teve uma noção da dimensão do horror, olhe atentamente a foto acima. É uma imagem aérea do complexo. É gigante... Cada pequeno retângulo na foto é um galpão...



E se a foto acima, ao traduzir as dimensões esconde o horror, basta rever uma das imagens em zoom do que era feito por lá:



Pronto, agora já relembramos do que se trata Auschwitz e recapitulamos suas dimensões. O que poucos sabem, é pouco citado e parece até não estar totalmente esclarecido, são os diversos fatos estranhos que pipocaram na história de Auschwitz ao longo de sua existência. Uma delas refere-se a um bordel que foi criado por lá, como uma espécie de bons tratos a presos "especiais". Eu ainda não consegui entender o que seriam os presos especiais, mas parece que eram não-judeus presos no complexo e que desempenhavam tarefas como cuidar dos outros presos, etc. Algo assim.

Achei em um site as seguintes informações:

"A Brothel (Start: 41:19; Length: 6:16): Himmler established a brothel in Auschwitz to provide incentives to relatively privileged prisoners (e.g., those who supervised others or whom the Nazis considered more valuable). Little is known about the women who worked in the brothel, but it is thought they were already inmates at the camp. In autumn 1943 Höss was removed as camp commandant, but his family so liked living there that they stayed on after his departure. He would return in 1944."

Eu fiquei sabendo disso ontem, vendo um documentário na TV Cultura enquanto tentava dormir. Acabei não dormindo e prestando uma sonâmbula atenção até o final. Chamou a atenção a estranheza dos fatos... A bizarrice do bordel, e o fato da família do tal Höss achar que o conforto do local era tão grande que em quiseram acompanhar o chefe-de-família quando esse foi transferido. Realmente, não te soa algo como a última palavra em resorts de férias uma temporada em Auschwitz? O quão distante essas pessoas eram do horror que se passava lá dentro? Não é possível que fossem todos monstros. Não é possível que a cultura alemã na qual estavam mergulhados fosse tão fria, tão desumanizadora... E, ainda assim, aconteceu. Aconteceu e com requintes absurdos, como esse bordel e essa família que achava o lugar o máximo...

EMB-712 Tupi

Tupi PT-NXS
Faz tempo já... Eu devia ter uns 12 anos na época. Mas lembro do paciente dono do November X-Ray Sierra, PT-NXS, um Tupi. Quando eu ficava horas e horas em volta do avião, e ele aparecia, lá ia ele abrindo a cabine, ligando os instrumentos para me explicar como funcionavam, e eu achando aquilo tudo o máximo. Eventualmente, quando ia fazer um vôo, eu ia junto. Ia praticar órbitas em torno de antenas NDB (ou, para todos os fins práticos, em cima da rádio Anchieta de Itanhaém mesmo, que se bem me lembro é a 1390 na faixa AM...), e lá ia eu de co-piloto, conferindo proas, frequencias, tempo das pernas de aproximação e afastamento...

Cabine do PT-NXS

A foto da cabine desse avião vai acima, tirada de um álbum alheio que encontrei na net. Lembro da sensação de flutuar sobre a pista por dezenas de metros na hora do pouso, a centímetros do chão, com a buzina de estol gritando forte na cabine e nada do avião pensar em descer... Até que finalmente todo o metal da estrutura era sacudido pelo contato com o solo, o barulho dos rolamentos e algumas dezenas de vibrações diversas reverberando pela cabine; mover-se pelo ar é tão mais perfeito que deslizar pelo solo...

PT-NYJ, avião do vôo mais recente entre São Paulo e Jundiaí
Não poderia faltar aqui uma foto do November Yankee Jouliet. Fiz um vôo neste avião no final de 2006, até Jundiaí. Fiz o vôo inteiro, da inspeção pré-vôo até o check de abandono e, cabe incluir, o cheque do vôo também... O vôo foi uma maravilha em todos os sentidos que podem ser abordados num passeio como esse. Fizemos um toque em Jundiaí. Minha aproximação e pouso não foram perfeitas, longe disso, mas fiquei muito contente de ver que mesmo com tanto tempo sem voar, corrigi meus erros sem intervenção do instrutor.

Os erros: foi uma arredondada um tanto quanto brusca. Vínhamos afundando rápido na final e conforme o solo se aproximou puxei o manche num movimento não muito delicado. Isso deu ao avião uma vontade de ver como estava o tempo na estratosfera, e tive que corrigir rapidamente esse desespero sem contudo jogá-lo contra o chão... Fiquei com a impressão de que se tivéssemos feito algumas manobras durante o vôo antes deste pouso as coisas teriam corrido melhor, pois eu poderia afinar um pouco mais minha mão nos comandos. Mas tudo bem, em breve estarei nos céus de novo.

Um pouco de azar e muita sorte


Sim, na parte da manhã eu iria para a USP. De carro, por que não?! Fui. Entrei no carro, mal havia colocado a chave no contato e ele estava funcionando. Depois, iria ao Campo de Marte, numa reunião lá com uns amigos. Encostei a chave no contato e pronto: carro funcionando. Mas o tanque de gasolina tinha apenas uma vaga lembrança de qual era sua missão existencial, então resolvi abastecer um pouco. Parei num posto próximo ao Terminal Tietê. Carro abastecido, combustível pago... Chave no contato. E nada. Absolutamente nada. Meus amigos apareceram, empurramos o carro: um pouco de velocidade, chave na ignição, embreagem pisada, engata primeira, solta a embreagem... Pronto, pegou no tranco.

Fomos ao Campo de Marte. Na hora de ir embora... Nada do carro funcionar. Empurramos, rimos um pouco, primeira engatada, solta a embreagem... Carro funcionando.

Próxima parada: Pizza Hut do Shopping Center Norte. Na hora de ir embora, a já tradicional manobra de emurrar o carro e pular pra dentro ganhou um complicador: tinha de desviar dos outros carros manobrando no estacionamento, sinalizar desesperadamente para que saíssem da frente, e tudo isso lutando para continuar ganhando embalo... Pronto, funcionou.

Finalmente, estou em frente de casa... Deixo o carro na rua já no jeito para aproveitar a descida, já que eu teria que desligá-lo para poder abrir o portão. Portão aberto.... Empurra, empurra... pula pra dentro, embreagem, primeira... e nada. NADA! Nem uma luzinha do painel deu o menor sinal de vida, nem o menor sinal de vida vindo do motor, nada... Aparecem umas boas almas, empurramos o carro ladeira acima, e agora são seis mãos empurrando o carro ladeira abaixo... Pulo pra dentro, e nada...

Por fim, jogamos o carro pra dentro da garagem. Literalmente. Sem que ele funcionasse, o único jeito de vencer a rampa que sobe para minha vaga foi garantir um embalinho extra na hora da empurrada...

Mas, por fim, foi muita sorte. O carro poderia ter decidido não funcionar em qualquer lugar da cidade, e esperou para me sacanear bem em frente de casa. Um tanto quanto sarcástico, eu diria...