Sunday, December 17, 2006

Correr

É difícil de explicar. Mas correr, andar por aí, ir longe a pé ou de bicicleta... São coisas de que preciso. Sinto muita falta disso quando nos períodos mais chatos a faculdade engole meu tempo e impede que isso aconteça, e me sinto muito bem quando finalmente consigo colocar a prática em dia. Revigorado.

Há muitos comentários possíveis sobre os benefícios físicos do exercício, embora haja um bom número de razões contrária a essa prática em uma cidade poluída como São Paulo, próximo a rodovidas, etc... Mas isso compõe apenas parte da brincadeira.

São as cenas. É incrível como o cenário muda quando você vai a pé. Parece que ele explode em detalhes. As casas ganham profundidade, detalhes nos jardins... Há tempo para comprimentar as pessoas com um breve sorriso quando olhares eventualmente se cruzam... Não é só uma questão de velocidade, pois mesmo andando devagar de carro, duvido que a experiência se reproduza nesta condição.

E quanto aos lugares onde normalmente passamos apenas de carro, quando finalmente os atingimos a pé, muda algo no sentimento que temos com relação ao espaço ao nosso redor.

Passo por bairros não muito apresentáveis, próximo a uma esquina dois vizinhos conversam sobre a insegurança da região. Vou seguindo pelas vielas, travessinhas... Ninguém nas ruas perigosas. Como diria um amigo meu, "aqui não tem nenhum assaltante não, eles não saem na rua com medo de serem roubados!". Crime mesmo é que as pessoas fiquem em suas casas sempre ou só saiam se puderem de algum modo continuar fechadas num certo espaço. É isso. Carro é isolamento sobre rodas, e a maior humilhação daqueles que dependem dos ônibus não é em si o desconforto da lotação, mas a privação deste espaço particular em que o contato com os outros é licitamente revogado. Crentes de que a modernidade de algum modo lhes diz respeito também, essas pessoas não se intimidam com as limitações da condição e criam o isolamento dos corpos colados.

Será que correr de tudo isso é só meu isolamento? Que meu sentimento de que ver tantos desses lugares diferentes e sentir a conexão entre esses ambientes ao mesmo tempo contíguos e distantes é apenas minha mentira pessoal para legitimar meu tipo de isolamento preferido?

Não é uma pergunta fácil, mas creio que gastar muito tempo investigando aqui uma resposta seria um sintoma de que a verdade pende para o lado que me desagrada. Vou ficando por aqui então, e talvez vá correr mais um pouco hoje.

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