Monday, August 03, 2009

Mentes com entropia variável


Eu morro de inveja da pseudociência. Ela congrega um povo com uma criatividade escabrosamente gigante. Um pseudo-cientista é um bolsista da Loucura, de Erasmo, que cansou do resto do mundo e foi praticar seus dons ali onde eles encontram a um só tempo expressão máxima e glamour. Um hospício, claro, oferece à Loucura um vasto e livre terreno de trabalho. Mas cadê o glamour? A ciência "mainstream" oferece todo o glamour, com prêmios nobel, revoluções que alteram a história da humanidade e tudo o mais. Mas é um trabalho, convenhamos, muito limitado. Cientistas não engolem qualquer coisa. Já um pseudo-cientista...

Quisera eu, em minhas aspirações de escritor, ter a desinibição desse povo! Recentemente (bem recentemente mesmo, coisa de dez minutos atrás) encontrei essa aqui: Meditation and Entropy. O artigo começa explicando tudo com calma... Bem didático. Aliás, se tem uma coisa que caracteriza um bom pseudo-cientista, é a didática. Sua didática tem o estratagema da eloqüência assertiva, que precisa ser elevada o suficiente para esconder suas outras características sempre presentes: a lógica subversa, a extrapolação ao gosto do freguês e por cima de qualquer fronteira de razoabilidade e a degeneração da especificidade de conceitos. Essa última característica, aliás, é fundamental ao pseudo-cientista, e é talvez seu traço mais fácil de identificar. Energia, vibração, força, campo... Todos esses conceitos, de difícil e restrita definição na ciência tradicional, tornam-se palavras místicas capazes de justificar qualquer coisa que se queira. Um outro traço comum é a evitação da matemática. A matemática é inerentemente rígida em conceitos, e o único jeito de fazer um uso desvirtuado da matemática seria apresentá-la apenas aos que não a entendem, mas aí o ataque daqueles que a entendem seria mais enérgico e teria uma argumentação mais contundente. Mas cuidado com uma artimanha! O pseudo-cientista faz sempre o melhor que pode... Ciente de que a ausência de matematismos tende a depor contra eles, pseudo-cientistas não tardaram a enfeitar seus livros com formulinhas... ...da ciência tradicional, claro.

Assim, quando falam sobre ondas, acham muito bonitinho escrever que vê é igual a lambda vezes éfe. Parabéns pra eles. Agora uma boa equação para a relação entre freqüência do humor e sucesso no trabalho, mesmo que fosse uma complicada equação vetorial fazendo uso de gradientes e derivadas parciais, que seja, nunca vi. Em resumo: pseudo-cientistas apresentam equações matemáticas da ciência tradicional, mas raramente, ou nunca, apresentam de forma matemática suas idéias particulares, pois isso seria detalhá-las demais e facilitar o trabalho de denúncia de seus abusos. Sem contar que, para seus propósitos dogmáticos, é um passo completamente desnecessário, uma vez que seu público-alvo não quer perder tempo com matemática e sim partir direto para o alívio de alívio de certas carências emocionais e vazios existenciais.

Tantas considerações motivadas pelo post ao qual me referi acima... Então vamos a ele! Numa livre tradução, começa assim:

O estado de meditação pode ser interpretado em termos de entropia. Entropia em física é uma medida da desordem. Eu creio que todos nós temos uma espécie de entropia mental, de uma forma ou de outra.

E termina assim:

No estado desperto, quando a entropia da mente é conscientemente diminuída, existe menos desordem; a mente se torna calma e transparente.

Extendendo a lógica, pode-se dizer que quando a entropia se aproxima de quase zero a mente tende a estar livre de pensamentos. Uma mente livre de pensamentos é livre de distrações e conflitos; e um estado de calma e quietude nos envolve.


Eis outra coisa que eu invejo nos pseudo-cientistas: a cara-de-pau hipócrita com que conseguem dizer asneiras dessa e ao mesmo tempo se deixarem envolver num estado de calma e quietude. Uma coisa é certa, em termos que todos nós aceitamos: pseudo-ciência é ciência de elevada entropia. Medite a respeito...

2 comments:

Mel said...

Pera só um minutinho que eu vou encaminhar esse post pro Jessé...

... e ver se ele me dá mais ou menos nota pela resposta negativa que eu dei à pergunta da prova: "a entropia do universo pode ser diminuída?"

Aparentemente, encontraram um jeito... oO

Anonymous said...

mas é isso ae, tem coisas que a matemática não consegue mensurar. Se você nunca teve a mente calma para saber o que é a paz ou talvez entropia 0, é hora de pisar no freio e olhar para dentro de si. paz e luz