Friday, March 21, 2008

A normal life



Ontem à noite não consegui dormir. Também, devo admitir, num dado momento desisti de tentar. Era melhor eu tomar fôlego para combater meu sono com muito mais momentum depois de umas horinhas inúteis pela madrugada. Assisti alguns episódios de Heroes, segunda temporada. Achei depois num blog por aí uma bem humorada síntese de alguns personagens, mas este não é o foco aqui. O que me chamou a atenção enquanto o sono não vinha foi pensar num ponto que, de uma forma ou de outra, é recorrente na série e afeta a vida de todos: a busca por uma vida normal.

O que diabos é uma vida normal? Segundo a mãe de Claire, num dos episódios, vida normal seria ela ir para a faculdade, se casar, ter uma casa... A série traz um mundo em que pessoas normais começam a se descobrir portadoras de super-poderes. Mas não custa muito para que essas pessoas comecem a sentir esses poderes como um fardo. O policial que tenta usar sua habilidade de ouvir pensamentos para desvendar casos complicados se atrapalha, perde o emprego e a mulher. Outros que rapidamente são tomados pelo desejo de "salvar o mundo" com seus super-poderes (não importando muito a identificação de uma precisa ameaça para que esse desejo se instale) acabam de uma forma ou de outra se transmutando na própria ameaça. É curioso que o único personagem que não hesita nem por um instante em aceitar o destino da diferenciação mutante - pelo contrário, a deseja com todo o fervor - é o grande vilão da série: Sylar. Ter super-poderes priva as pessoas de uma vida normal, esta desejável pela paz que lhe é inerente. Desejar ter super poderes passa a ser uma espécie de egoísmo exacerbado que só poderia levar ao mau-caratismo.

Outra coisa curiosíssima é a postura do Takenzo Kensei, que séculos depois se torna Adam. Ele conheceu o mundo antes da Revolução Industrial. Viu duas guerras mundiais, epidemias, fome, aquecimento global, poluição e explosão urbana em todos os cantos. Ao contrário do desejo egoísta de Sylar, Tanekzo Kensei é um vilão do tipo "altruísta". Está tomado pela idéia de que eliminar a humanidade da superfície da Terra é a única coisa boa que pode ser feita ao planeta. No lugar dele, depois de perambular quatrocentos anos por aí vendo tudo isso, quantos pensariam da mesma forma?

Assombroso é que, migrando cada vez mais para o mundo de fora do seriado, as duas coisas se entrelacem tão fortemente: os problemas que tanto desprezo inspiraram no coração de Takenzo Kensei têm uma ligação íntima com a busca obcecada por uma "vida normal". Podemos ver geleiras derretendo na televisão e praias devastadas por um vazamento de petróleo, mas quantos diante dessas imagens sentem qualquer impulso de se livrar do próprio carro e explorar formas de vida que demandem menos energia? Somos presos à esta "vida normal" e nos é consideravelmente alheia a anomalia agregada dessas normalidades amontoadas. Na vida real a inexistência de super-poderes na esfera individual cria a coerência necessária para ações conjuntas que produzem super-poderes no nível do coletivo. Mãos nucleares, cura ilimitada, voo ou telecinese, isso parece se aprender a controlar depois de pouco tempo de prática, caso ocorra. Agora os assombrosos super-poderes da vida normal, este ainda estão fora de controle.

12 comments:

Mel said...

Primeiro: Shame on you.

Segundo: Hiro Nakamura também tem paz e usa seus poderes indiscriminadamente.

Aparentemente, só os neuróticos sofrem.

O que faz muito sentido, não?

f4binhuu said...

velhu. ótima idéia...
um blog sobre tudo, não soh de um assunto
:D

Saulo said...

Falando em Heroes, eu acho que o autor dessa série se mataria depois de assistir a um capítulo daquela novela da Record.

Ótimo texto. ;)

Anonymous said...
This comment has been removed by the author.
canal101 said...

kkkk não so o autor de heroes o J. Abrams autor de lost também daria um tiro na cabeça se visse aquela merda de novela kkk belo artigo cara , vou visitar aki mais vezes... abraços

http://canal101.blogspot.com/

Daniel Augusto said...

Gostei da matéria...^^"

deu vontade até de assitir heroes...


bye

Euzer Lopes said...

Depois eu volto pra comentar.
Gravei o último episódio da série e confesso: achei esta temporada um lixo.
Não pelo que foi apresentado. Sei que a culpa foi da greve dos roteiristas.
Até onde eu vi, ficou com cara de "falta alguma coisa".
Espero que a terceira temporada seja por mim encarada como uma "segunda temporada parte 2"

Fashionista Butterfly said...

Caramba, apesar de não acompanhar a série Heroes concordo que você apresentou um raciocínio muito legal! Parabéns.
Beijo*

Anonymous said...

prefiro o Naruto do que esses enlatadinhos

Nath_ said...

hauahuahua

Não acredito que eu escrevi CÉU com S..

Juro pra você que to com vontade de chorar.. Tenho horror a erros de português. :)

Pode ter certeza que foi erro de digitação! ;)

Nath_ said...

ahahahahaah

Entendo...
Mas mesmo assim eu odeio sair como burra. Saio corrigindo todos os meus amigos...rs

tédio é uma coisa chata demais, eu podia estar na rua a essa hora, mas estou eu aqui no vicío..hehehehe

Vai dormir.. é o melhor remédio pra dor de cabeça.. ;)

Anonymous said...

Great work.