Friday, November 21, 2008

Companhia


Fui dias atrás até o Shopping Central Plaza, a uns dois ou três quilômetros aqui de casa. Fui de trem. Mas, estando com um tempinho livre e excesso de ócio acumulado nas veias, resolvi voltar a pé. Normalmente é uma caminhada solitária, não muito boa em termos de paisagem e infra-estrutura (faltam até mesmo calçadas apropriadas, em vários trechos da Avenida do Estado), mas sempre excelente pelos méritos espirituais que toda boa caminhada traz. Mas dessa vez não foi realmente uma caminhada solitária...

Quando vi, um vira-lata vinha me acompanhando... Às vezes pensamos estar sendo seguidos por cachorros quando na verdade nossos caminhos apenas apresentam um pequeno trecho coincidente, não sendo essa sobreposição de trajetos de modo algum um imperativo de ligação entre os caminhantes. Mas, dessa vez, eu não tinha dúvidas: o cachorro estava me acompanhando. Eu mudava meu caminho, ele mudava o dele. Eu atravessava a rua, ele me olhava, verificava a segurança da operação, e atravessava também. E sempre me olhava.

Não sei até agora o que foi que chamou a atenção dele. Se foi o fato de eu estar cantarolando velhas músicas do Vinícius de Moraes, se foi a esperança de conseguir alguma ajuda de um raro mamífero bípede a aparecer desmotorizado por aquelas bandas, ou se algo estava significativamente diferente com meus odores nesse dia. Fato é que o cachorro me seguiu. E seguiu por todos os quilômetros, até em casa.

A vontade de adotá-lo como meu mais novo animal de estimação foi enorme. Dei a ele, na calçada em frente de casa, uma justa retribuição pela escolta, contabilizada em forma de leite. Decidi não adotá-lo por razões práticas. Meia hora depois de nos termos despedidos, caiu mais uma dessas fortes pancadas de chuva que têm acontecido ultimamente. Nunca mais vi o cachorro, e me arrependo de ter sido tão racional em rejeitá-lo.

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