Sunday, August 12, 2007

Dia dos Pais



Pensei em fazer aqui alguma piada sarcástica, dessas que tão frequentemente faço no papel de pseudo-traumatizado que vez ou outra fico achando que sou na verdade um pseudo-desencanado. Morrendo de medo da segunda hipótese, deixei a idéia de lado. E vários outros pensamentos também.

Mas a mente humana (ou, para todos os efeitos, ao menos a minha mente, já que não posso garantir nada pelas outras) é teimosa demais e não pára de saltar de um assunto a outro. Faz considerações sem fim. Imagina, sonha, relembra, pondera, teoriza, interpreta, reinterpreta, tetrapreta e planeja.

Eram tantos assuntos, e tão diversos, tão sem respeito pela distinção entre aqui e agora, ontem e muito além do amanhã, que eu não saberia recapitular meus pensamentos de agora há pouco em algumas míseras linhas.

E, no entanto, sempre há um mágico fio condutor que de alguma forma une nossos devaneios mais díspares. Pensei em como meu pai sempre buscou criar a mim e aos meus irmãos. Para muitas coisas as respostas (sob o olhar de um adulto) eram tão simples; tenho certeza de que ele as tinha. Nunca as deu. Nos deixava procurando, nos ajudava a lidar com os percalços dos caminhos... Mas encontrar as respostas era algo que ficava por nossa conta. Isso até nos assuntos mais triviais. Às vezes ele se sentava ao meu lado, conversava, ouvia e falava. Mas sempre orientando a buscar o caminho, nunca dando direções definidas e prontas.

Meu Deus! O quão difícil deve ser fazer isso! Às vezes ficamos loucos de vontade de fornecer respostas prontas aos outros, principalmente quando vemos pessoas próximas em momentos de crise pronunciadas. E se de adulto para adulto a postura que meu pai adotava já demandava um enorme sangue-frio, imagine com crianças... com os próprios filhos!

Fiquei pensando nisso e pensando que, se meu pai aguentou fazer isso com os próprios filhos, posso aguentar e me segurar com relação às pessoas do meu convívio que às vezes desafiam a palpites mais intrometidos. E então pensei: como sou arrogante... como se EU tivesse alguma resposta definitiva para algo... Nunca há como saber. Preciso retomar minhas perguntas também.

O fato é que saber deixar que os outros encontrem as próprias respostas torna-se muito mais natural quando vemos as pessoas por compelto, além do que uma crise momentânea faz parecer. Quando enchergamos nelas todo o potencial adormecido que, para acordar, precisa reencontrar a fé em si e sua fonte interior de poder e controle. Isso não pode vir de fora. De fora o máximo que podemos fazer é inspirar esse reencontro, e às vezes eu gostaria de se melhor nessa tarefa de inspirador.

Lembrei de vários momentos com meu pai e tive saudades. Preciso ir vê-lo logo.

E, voltando a mente a toda aquela salada de pensamentos variados que antes poderiam inspirar até um certo desespero, um incômodo tenso e ansioso, de um modo muito natural e indescritível tudo o que senti foi uma serena paz.

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