Tuesday, February 06, 2007

Advogado do diabo

Pôr do sol no atol de Bikini
Defender a energia nuclear? Fazer testes atômicos parecerem uma coisa boa, principalmente para o meio-ambiente? Pois é... Essa é uma das coisas impressionantes que se vê no livro A Vingança de Gaia, escrito pelo simpático velhinho James Lovelock.

Na página 92 da mais recente edição brasileira, Lovelock escreve:

"A vegetação e os animais silvestres não percebem a radiação como perigosa, e qualquer ligeira redução que possa provocar em sua longevidade é bem menos perigosa que a presença de pessoas e seus animais de estimação."

Acho essa defesa contundente, irônica e sóbria. Não pude evitar esboçar um sorriso ao lê-la. Sim, é verdade, nós, nossos animais de estimação ou as dendríticas extensões de nossa civilização são as maiores ameaças ao mundo natural... E quando testes nucleares traumatizam uma determinada região impedindo que os humanos se aproxime, em pouco tempo esse lugar se tornará um refúgio seguro para a vida selvagem, por piores que sejam as conseqüências da radiação remanescente.

De qualquer modo, não é de se estranhar o porquê de a palavra "nuclear" despertar tanto desespero. Basta assistir o vídeo abaixo para viajar ao passado, ao período dos testes nucleares...



Ainda assim, com todos os horrores das bombas atômicas, fotos de locais de testes submarinos, como o atol de bikini, apresentam-se hoje como argumentos a favor de Lovelock. Basta ver a profusão de vida natural envolvendo os destroços de uma embarcação, abaixo.

Vida marinha no oceano de Bikini
É claro que James Lovelock não está defendendo as armas atômicas em seu livro; isso seria loucura. Ele é enfático, aliás, ao observar que

"Estamos certos em temer as armas nucleares. Talvez sua única virtude foi terem amedrontado tanto os líderes das superpotências que a Guerra Fria nunca esquentou." (pág. 98)

O que ele faz é analisar friamente o exemplo mais extremo conhecido do emprego da energia nuclear para concluir que a radioatividade não é algo tão diabolicamente perigoso como nos habituamos a pensar. O objetivo final da argumentação é convencer da viabilidade do emprego maciço de usinas nucleares para produzir o suprimento energético de nossa civilização. É a única tecnologia livre de emissões de gases estufas capaz de produzir energia na magnitude demandada atualmente.

Tubarões no atol de Bikini

3 comments:

Gabriela Martinez said...

O livro parece bom. Neste momento, estou lendo "Quando Nietzsche Chorou", que é muito legal! Já leu?
Beijos

Descharth said...

emprego nuclear em atividades construtivas... Uma radiação pode até não ser tão nociva como a pintam ( não tenho base para concordar ou não) mas com certeza o impacto de uma bomba é devastador.
Imagine o que não fariam os loucos ditadores na posse do urânio enriqucido,mesmo que pra gera energia?
Perigosa abordagem,desastrada defesa.
melhor seria desenvolver a tecnica do hidrogenio.

Anonymous said...

Interessante a colocacao do autor, mas concordo que eh uma abordagem perigosa a cerca do tema...Acho que nao da para ser advogado do diabo a cerca de um assunto tao polemico!

Mesmo assim eh sempre bom ter esse pessoal "do contra", pois polemicas geram discussoes produtivas!