Thursday, February 08, 2007

Falta de educação

Ontem, confesso, gastei um tempinho trocando mensagens inúteis em uma das comunidades do Orkut como forma de matar o tempo amorfo que não me divertia nem motivava. De repente, num dos momentos mais amistosos da conversa, eis que alguém resolve mandar uma mensagem de desprezo e com final ofensivo, dessas que terminam com imperativos indigestos e anti-higiênicos. Foi uma grande falta de educação. É falta de educação agredir verbalmente as pessoas como forma desesperada de tentar defender a razão (que assim, ironicamente, se esvai mais rapidamente). Mas, fiquei pensando, também é falta de educação usar sozinho o carro em dias que eu poderia utilizar o transporte público sem maiores transtornos. Também é falta de educação eu não conseguir conversar mais que dois minutos em uma entrevista para emprego sem utilizar gírias ou gagejar. Também é falta de educação eu não ter idéia de onde fica a Groenlândia quando a mencionam nas reportagens sobre aquecimento global. E também é falta de educação eu não conseguir entender os gráficos que aparecem no jornal nas reportagens de economia ou do que quer que seja. Diferentes faltas de educação, e eu não saberia decidir aqui qual é a mais importante...

Educação. Acabo de ler uma reportagem no Estadão mencionando que as notas no ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) vão mal. O pior desempenho desde 2002. O Ministério da Educação, num prestativo esclarecimento científico, informou que não é possível comparar os resultados de anos diferentes do ENEM porque a "prova é voluntária e a amostra termina por ser diferente". Mas foram mais de 3.000.000 de alunos voluntários. Se com uma amostra de uns poucos milhares de eleitores já se tem uma boa margem de certeza em pesquisas eleitorais num universo de dezenas de milhões de eleitores, duvido que os três milhões de alunos não sejam amostra mais que suficiente. São tantos alunos, que ainda que destoassem completamente do restante, por si só já representam uma séria preocupação, e garanto que eles são uma ótima representação amostral de si próprios.



Qualquer um que já viu as questões do ENEM sabe que, ainda que obter um desempenho altíssimo exija sim uma razoável "língua afiada" por estudos recentes, obter um mínimo de desempenho na prova exige apenas o domínio das habilidades básicas necessárias para interagir com a sociedade atual. Capacidade de interpretar informações escritas e dispostas em forma de gráficos; fazer uso matemático básico de informações fornecidas; conseguir expressar-se por meio da linguagem escrita.

Não é pedir muito. Num primeiro momento, seria de se esperar que pessoas desprovidas dessas habilidades não são capazes de interagir devidamente com o mundo moderno estruturado na economia da informação. Num segundo momento, você percebe que é exatamente isso o que está acontecendo. Num terceiro e desesperador momento, nota que são tantas as pessoas nessa situação de inanição cultural que forma-se toda uma sociedade marginal estruturada em formas cada vez mais arcaicas em termos de relações de trabalho, dinamismo cultural e autonomia social.

Não quero dizer que só a educação das escolas é cultura. Claro que não. Mas é um dos tipos de cultura que faz muita falta. E aqueles que discordarem de mim aqui torcendo o nariz muito provavelmente é porque nunca estiveram em uma escola capaz de apresentar-lhes devidamente esse ferramental básico.

O que fazer? Eu não sei, sinceramente. Reconheço uma tendência muito forte no Brasil, ou pelo menos aqui em São Paulo, que conheço melhor, a pedir mais verbas. Ah, mais verbas! Novos laboratórios, salas de aula reformadas, computadores. Quem sabe, até, melhores salários para professores com motivação revigorada? Sinceramente, sou cada vez mais cético quanto a isso tudo. Não que essas coisas não sejam boas, são muito bem vindas sim. Mas por si só não garantem nenhuma mínima revolução na educação e, mais ainda, é possível a promoção de grandes saltos qualitativos na educação sem nada disso. As maiores mentes que a história da humanidade já registrou até hoje foram produtos de leitura, livros, giz e conversa cara-a-cara. Isso, ainda bem, não tem ficado mais caro com o aumento do petróleo, não é ameaçado pelo aquecimento global, pelas loucuras do Bush ou pelas lulices do Inácio. Depende de uma profunda epidemia de motivação e confiança, e o resto está aí... Mas... como?!

Em tempo: a segunda das fotos neste post foi retirada do site do Committee for the Relief of Poor Children in Vietnam, uma ONG interessante; vale a pena uma olhada no site.

2 comments:

Leandro Luz said...

Partindo de dempenhos como esse, do ENEM, chegamos nos pontos que vc colocou no início do texto, como o cara q te encheu de desaforos e tal. Gostei do blog.

Anonymous said...

É sinceramente educação é uma das coisas que mais atraza esse pais, a condição das escolas do nordeste não é digna de aprendisagem, e o fogo é q por mais que nos esforçamos para tentar contornar a situação, sempre acaba do mesmo geito, abraços

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