Tuesday, January 08, 2008

Acerto irônico

James Lovelock escreveu em seu livro "A Vingança de Gaia" uma enfática observação sobre os perigos da energia nuclear:

"A vegetação e os animais silvestres não percebem a radiação como perigosa, e qualquer ligeira redução que possa provocar em sua longevidade é bem menos perigosa que a presença de pessoas e seus animais de estimação."

Pois bem... Na revista Galileu deste mês saiu uma reportagem entitulada "A Terra sem os humanos", que discute o que aconteceria com toda a interferência que o homem criou sobre a Terra daqui a milhões de anos, caso sumíssemos hoje. A energia elétrica sumiria, construções sem manutenção começariam a ruir. Pastos voltariam a ser ocupados por florestas... Enfim. Especulações ludicamente interessantes. Eu creio que a reportagem se inspirou num grande livro lançado há pouco tempo, que trata exatamente deste tema... Mas não me lembro o título ou o autor, então vou deixar esta comparação para depois.

De qualquer forma, o interessante mesmo na reportagem não são estas especulações sobre o futuro, mas sim interessantes observações sobre o presente. Quando Lovelock ironizou o temor humano pela energia nuclear enfatizando que o que é realmente ruim para a natureza são os humanos e não a radiação, citou como exemplo os testes submarinos da bomba de hidrogênio. A despeito de toda a radiação liberada em uma região de quilômetros, hoje são áreas de rica diversidade natural, e esta diversidade é protegida pelo fato de que os elevados níveis de radiação presente afugenta os humanos. Pois bem... A reportagem da Galileu cita um outro exemplo.

Pripyat, uma cidade próxima a Chernobyl, Ucrânia, e que foi evacuada após o famoso acidente.

A área em volta de Chernobyl revela como a natureza retoma seu lugar de comando rapidamente. "Eu realmente esperava ver um deserto ali", diz Chesser. "Fiquei bem surpreso quando entrei na zona de exclusão e vi que se trata de um ecossistema próspero."
[...] Os porcos selvagens são de 10 a 15 vezes mais comuns na zona de exclusão de Chernobyl do que fora dela, e seus predadores estão fazendo um retorno espetacular. "Eu nunca vi um lobo na Ucrânia fora da zona de exclusão. Vi muitos dentro dela", diz Chesser.

Maravilha! A radiação é algo bom pro mundo, especialmente quando acidentes acontecem, pois então ela cria bolsões em que nos excluimos e onde, finalmente, a natureza reencontra um pouco de paz para seu livre desenrolar. Onde mais seriam convenientes alguns acidentes nucleares? É melhor eu ficar quieto antes que ambientalistas extremistas telefonem pro Osama pra montar alguma bizarra joint-venture.

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