Thursday, July 19, 2007

Pela Paulista

Eu andava pela Avenida Paulista olhando as vitrines, olhando os detalhes da calçada... Olhando o horizonte. E vez ou outra olhando as pessoas, desviando delas. Olhando os rostos. Olhando os olhares. Passei por um moço que tocava violino em busca de algumas moedas. Tocava mal, mesmo para ser um tocador de rua. Desprezei sua musicalidade pensando que ele deveria estar pedindo moedas em algum outro lugar, com aquele som, e me perdi em pensamentos inúteis sobre a geografia da mendigagem. Os malabaristas de semáforo da Vila Olímpia e das proximidades da Av. Brasil são muito mais treinados e emperequetados do que os moleques aqui da Vila Prudente ou de algum canto insignificante da Av. do Estado. Fui ao cinema, lá no HSBC, ver um desses filmes que falam sobre coisas da vida sem precisar de hollywoodianismos explosivos e nos deixam com a sensação de que nos fizemos um pouquinho mais humanos ao descobrirmos todos aqueles sentimentos em nós. Assim já todo mais humano desviei do mendigo que se escondia do frio no chão quase à porta do cinema e fui ler a engraçada lousa com trechos de Dostoiévski clamando para os leitores deixarem Dan Brown pra lá por ser pura bobagem. Tiraria uma foto daquilo, para por no meu Blog, se tivesse a máquina... Na volta, com o andar já mais automatizado pelo treinamento de horas atrás, os pensamentos se permitiam voar longe, buscando saudades e heroísmos às vezes quase utópicos. A atenção colapsa de repente naquele instante presente: por pouco não atropelo o violinista, que estava agachado guardando seu instrumento... Desvio buscando esconder de todos que quase causara um constrangedor incidente alí, e ao desviar observo na parte interna da tampa do case de seu violino uma foto com uma mulher segurando ao colo um lindo bebê, ambos sorridentes e olhando apaixonados para quem tirou a foto. E aquelas notas mal tocadas que ressoaram de repente em minha memória ganharam uma espécie de cadência ritmica toda especial. E naquela noite ele não tocaria mais, e eu não teria mais a honra de deixar-lhe uma moeda.

1 comment:

Paulo Roberto said...

Hahahaha "...todo mais humano desviei do mendigo que se escondia do frio no chão quase à porta do cinema e fui ler a engraçada lousa... "

- Ah, que belo filme sobre a vida dos infelizes da 2 Guerra... - pulinho sobre o mendigo - ...deviam passar fome aquelas pessoas.

Hehehe