Sunday, September 13, 2009

Percepções...

Ah, vai entender... As pessoas são assim, paradoxais, cheias de contraste, conflitantes numa perspectiva mais amplas, e é isso mesmo que significa dizer que são muito humanas.

Dou aulas de inglês para a Aline duas vezes por semana. É perto de um shopping, e também é perto do metrô Barra Funda. Tipicamente, as aulas terminam entre as 18:30 e as 19 horas. Ainda é cedo demais, segundo meu gosto, para desfrutar dos prazeres do transporte público. Assim, vou para o shopping, tomo um sorvete. Cinema, livraria. Pessoas diferentes andando pra lá e pra cá. Fico observando.

Aí pensei, outro dia, no óbvio. A praça de alimentação é sempre nos andares superiores. Claro: compras, nem sempre fazemos, mas alimentar-nos é algo forçosamente rotineiro mesmo que não muito disciplinado. Assim, com a praça de alimentação lá em cima, pelo menos as pessoas passam em frente às lojas, e de repente despertam interesse por algo.

Mas aí pensei numa outra coisa... Imagine que o mesmo efeito fosse procurado por meio de uma "regra". Suponha que a praça de alimentação fica no primeiro andar, logo na entrada. Mas existe uma regra que diz que você só pode comprar comida se primeiro subir as escadas e passar em frente as vitrines das lojas, até o último andar. O que você faria? Soa algo revoltante, inaceitável e sem sentido, não é? Mas veja só que curioso... A configuração dos shoppings atuais é uma artimanha para te fazer passar em frente às vitrines, mas não parece algo revoltante. Quando você entra no shopping, você passa pelas vitrines porque a praça de alimentação está lá em cima, não há outra opção, e nada de revoltante nisso. O fato de essa configuração ter sido uma deliberação ocorrida no passado não desperta o mesmo tipo de indignação que uma regra abstrata despertaria no nosso shopping imaginário com a praça de alimentação no térreo.

Daí a conclusão: não associamos muito fortemente as características físicas do nosso ambiente ao processo deliberativo que deu origem a ele. A pessoalidade é sentida quando se percebe a abitrariedade da imposição, não quando esta é camuflada por meio de coerções físicas inertes. Não sei se é uma tendência primitiva de entender separadamente ambiente natural e ambiente social, ou se é um indício de baixa consciência política do cidadão moderno... É claro que, neste momento, penso em coisas muito mais relevantes do que a posição da praça de alimentação de um shopping...

1 comment:

Mel said...

Concordo.
Mas fato é que o processo inverso ocorreu comigo há alguns anos.
No shopping santa cruz, não só você tem que subir uns 4 andares pra chegar na praça de alimentação, mas as escadas rolantes estão dispostas de tal forma que você tem que passar na frente de TODAS as lojas do shopping antes de chegar lá... isso te obriga a pensar no quanto toda a caminhada é estúpida e sem sentido e te leva a xingar os arquitetos daquele lugar idiota.