Wednesday, July 29, 2009

Manifesto contra a seriedade


Há quem diga por aí que eu sou "totalmente miscível": consigo me enturmar com as mais diferentes pessoas. Isso não quer dizer que eu necessariamente goste de todas elas. Descobri que eu realmente não gosto de gente séria. Levou um tempo para que a descoberta fosse feita, porque eu nasci com esse defeito congênito de achar que acho tudo interessante, de demorar para reconhecer minhas próprias rejeições, de ser legal demais. Finalmente, está claro: gente séria eu não agüento.

Alguns ficarão horrorizados com isso, como se eu estivesse defendendo a avacalhação do mundo. E aí já incorrem em um primeiro engano. Não, seriedade e competência são coisas que definitivamente não estão associadas. Há muita gente séria demais na manutenção da própria incompetência, aliás. Posso defender esse ponto de vista de um modo meio filosófico-dogmático ou então neurologicamente mesmo. Qualquer livrinho for dummies sobre mente e cérebro que se acha por aí hoje em dia vai deixar claro que o alicerce da mente é emocional. Aprende-se melhor coisas vividas sob contrastes emocionais do que coisas vistas com indiferença fria.

Além do mais... se é para tratar seriamente de algo, tratemos, e alguém me diga, seriamente: que razão haá para não rir de tudo, desde que não se cause com isso prejuízo aos outros? Note que todas as razões que se podem apresentar aqui são (1) subjetivas e (2) apoiadas no estereótipo da seriedade. Razões como "rir muito é besta", ou "certas gracinhas são meio idiotas" não depõe contra a piada, depõe contra o sério. Dizem apenas "EU sou uma pessoa séria demais para ser feliz assim". Quem diante das opções "rir ou agir séria e rabugentamente" escolhe a segunda opção claramente não consegue colocar o bem-estar pessoal acima das imposições da manutenção de uma falsa imagem perante o mundo. Que sofra com isso até o fim dos dias.

As pessoas mais competentes que já conheci são também as mais divertidas. Há, é claro, vários tipos de humor. Há os humores risonhos e os fatalísticos, mas estes últimos não devem ser confundidos com seriedade, jamais. Uma consideração seca e fria, em tom exageradamente catastrófico e feita a rosto grave, que denote por absurdo a inadequação de alguma coisa, convenhamos, é uma ótima piada. Gente séria é ponderada e diz coisas pertinentes, lógicamente pertinentes, apenas.

E aqueles que não se contém dentro de toda sua carapacenta seriedade e soltam comentários como "ai, que coisa idiota!" diante de alguém feliz fazendo alguma piadinha ou alguma gracinha? Idiota por que? Qual a razão para não ter sido feliz nesses segundos que se passaram? Muitas vezes, argumentam, a piada não foi original, seguiu a linha de sempre, foi pouco criativa. Ora, eis aqui evidências de um traço que costuma estar muito presente na peçonhenta seriedade: o elitismo estético. Como se só se fosse encontrar prazer ao escrever os que escrevem grandes clássicos. Como se só encontrassem prazer ao cantar os grandes tenores. Como se só encontrassem prazer na pintura os grandes gênios da arte. Por isso é que Nietzsche disse que "a maturidade de uma pessoa consiste em encontrar novamente a seriedade que tinha quando era uma criança a brincar". Uma criança brincando leva a brincadeira muito a sério e com competência, nem por isso com chatice e sem humor.

Não vou rejeitar os chatos seriões da minha vida só porque descobri que os odeio. Vou continuar dando atenção a eles, pois interagir com eles é sempre uma forma de lembrar que há uma boa razão para não ser como eles. E, por outro lado, nunca vi nenhuma boa evidência de que a vida é uma coisa muito séria.

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