Tuesday, December 25, 2007

Solidão


Não estou me sentindo sozinho agora. Mas estou pensando na solidão. Na impossibilidade de compor uma definição direta e sucinta para a solidão que lide apenas com a proximidade física. A solidão afinal, ou sua cura, não é um fenômeno ligado a outras pessoas. Nasce e morre dentro de cada um. A solidão enquanto sentimento que goza de realidade física, é isolada, solitária dentro de cada um. Não é um isolamento físico, por si só, que produz a solidão, e nem mesmo a proximidade de outros que a cura (muitas vezes o efeito neste último caso é precisamente o contrário!). Coisa misteriosa essa sensação de que a vida não aconteceu a pleno se não foi dividida... Na fenomenologia do espírito com vocação para a solidão as coisas vão do mundo inanimado à experiência, dessas são diluídas à alma em sensações das mais diversas, e finalmente condensam-se numa história que se conta a um olhar alheio. E só é real aquilo que completa o ciclo.
Eu não entendo porque é que não serve um olhar qualquer, um ouvido qualquer... Seria tão mais barato combater a falta de ar carente vergonhosa da solidão se qualquer ouvido bastasse... Sugeriria a todos os sozinhos que providenciassem uma estátua a lhes ouvir as histórias. Ou, caso alegassem a necessidade de sangue quente pulsando por dentro da pele, poderíamos pensar em realocar todos os surdos por aí... Que serviriam de remédio contra as solidões do mundo sem incorrerem no risco de envenenarem-se da natureza alheia, protegidos que já estão dentro de suas próprias mentiras.
Equilibrio. Nada de extremos. Não há nada de errado em bastar-se a si, a saborear sozinho os sabores da própria vida. Não é condenável ser sozinho o expectador da própria arte. Mas equilíbrio. Vez ou outra é bom sim ser platéia da arte alheia e deixar que saibam dos teus rabiscos.

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