Thursday, November 12, 2009

O caso Uniban

O que havia de errado com o vestido da Geisy? Lembrando que estamos no país do biquíni, não consigo entender. Certo, biquinis são usados na praia, não em sala de aula. Certo, alguns dizem que ela teve uma atitude provocativa. E daí? Que atitude provocativa justifica a comoção de centenas de pessoas a uma atitude hostil, como aconteceu? Até onde eu entendo, a multidão saiu do controle. Em que condições estamos mais propensos a seguir a multidão?

O que me assusta sobre multidões é que é preciso um número assombrosamente de idiotas pró-ativos para inflar um verdadeiro caos em centenas. Quanto ao resto, para que a chama pegue é preciso apenas uma estupidez normal e mediana em cada um. E, assim como na idiotice individual, a idiotice coletiva tem suas blindagens também, de modo que a presença de uma ou algumas almas iluminadas de bom senso em geral pouco pode para resgatar o povo à sandice.

Antes que critiquem: ter ou não sido um fenômeno de multidões não deve inocentar ninguém. Há vídeos que mostram quem foram os principais responsáveis e uma medida deveria ser tomada para puní-los.

Em segundo lugar: assombra mesmo é a atitude da "universidade". Uso aspas porque a atitude unilateral e antiquada em nada justifica uma denominação tão prepotente para a instituição. Ontem vi na TV um senhor, aparentemente um professor, dizendo que a tal aluna deveria ser expulsa duas vezes. Dizendo que a Uniban é uma instituição séria, que deveriam olhar para as aulas ao invés de olhar para as badernas que acontecem. Concordo em parte. Concordo com esta última parte, e acho que quem deveria começar a dar o exemplo é a própria Uniban. Que a Uniban se preocupe com o que tem que se preocupar uma universidade: com suas aulas, com sua qualidade de ensino, com sua aspiração de centro de liberdade de pensamento e expressão. Não há como concordar com a primeira parte. Expulsar a aluna? Por causa dos outros? Depois emitir um comunicado dizendo que estão voltando atrás com a expulsão por conta da opinião pública? Isso só mostra que a Uniban, enquanto instituição, ainda não sabe pensar. Deixa-se primeiro levar pelos impulsos estúpidos de sua multidão interna. Depois assusta-se e recua de suas frágeis conclusões frente à opinião da sociedade, porém sem bem entender quem está certo nessa história toda. Não deve causar espanto que uma universidade tão incapaz de lidar com as próprias decisões não tenha conseguido proporcionar um mínimo de clima de tolerância e bom convívio.

Quem já esteve em multidões entende: a grande maioria dos que estavam ali aos gritos, hostilizando a Geisy, não parou pra pensar e formar uma opinião a respeito daquele momento, daquela atitude. Juntou-se aos gritos das pessoas em volta. Quiseram bagunçar também. Viram outros gritando e gritaram junto. Compraram a opinião alheia sem pensar, sem analisar, sem saber de onde ela tinha se originado, sem ponderar sobre onde tudo isso ia parar. Mas não é qualquer multidão que aceita seguir a estupidez. Havia algo de especial na multidão da Uniban para que ela fosse mais suscetível à ignorância?

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