Friday, January 16, 2009

Conceitos de beleza

A essência de toda arte é ter prazer em dar prazer.
Mikhail Baryshnikov

Pense grandes pensamentos, mas viva as pequenas emoções.
H. Jackson Brown

The art of pleasing consists in being pleased.
William Hazlitt

Variety of mere nothings gives more pleasure than uniformity of something.
Jean Paul Richter
The essence of all art is to have pleasure in giving pleasure.

Frequentemente escuto opiniões críticas a diversos tipos de expressões artísticas... Textos, músicas, etc... O fenômeno que vou comentar aqui acontece em todas as áreas, mas tenho a impressão de que é mais pronunciado no meio musical... Você já ouviu comentários do tipo:

- Nossa, uma droga o solo daquele cara! Guitarrista mesmo é o Joe Satriani, Kiko Loureiro...

(se não gostou dos nomes acima, troque pelos que você considera "realmente" bons).

- Cara... não vi nada de mais nessa música aí... Tudo simples, eu poderia ter feito bem mais que isso! (comentário típico de quem estudou música por muito tempo e toca muito bem algum instrumento)

- Ah meu, para com isso! Isso não é nada elaborado, é uma porcaria! Banda X, artista Y, Sei-Lá-Quem Z são muito melhores! (comentário típico de quem "tem cultura e erudição" e está acima da arte mundana...)

Escuto essas críticas todas e não tenho autoridade para dizer que essas pessoas estão "erradas"... Mas como minha tendência estética mais à flor da pele é a de criticar somente os críticos, e mais nada, vamos lá...

Algo elaborado demais, como uma música muito difícil de ser tocada, que exige anos de prática em um determinado instrumento, que só um punhado de virtuoses no mundo consegue executar... é necessariamente algo belo? Algo simples, que, uma vez feito, qualquer criança consegue rapidamente aprender a tocar, é inerentemente "inferior"? Creio que trata-se aqui de uma simplificação grotesca da realidade, ou ao menos de um fechar de olhos que priva um número grande de espectadores do mundo de espetáculos realmente maravilhosos. Defendo que o grande mérito artístico está em encontrar a beleza na simplicidade. Você pode ver uma música e pensar: "é muito simples, posso tocá-la já, de ouvido!". E talvez seja o caso... Mas se ela for BELA... então quem a escreveu é realmente um gênio... É preciso treinamento e prática para fazer coisas elaboradas. Mas é preciso um golpe de mestre para esculpir beleza em idéias simples...

Outro ponto de minhas concepções estéticas em que normalmente estou em discordância com a maioria das pessoas em minha volta é o seguinte: nada obriga à apreciação da arte de forma "ranqueada", hierarquizada de acordo com referências mundiais. A arte é um veículo para experiências de felicidade ou de exacerbação de perspectivas emocionais... Diminuir a suscetibilidade às manifestações artísticas apenas para criar uma imagem de "elevada erudição e elevado gosto estético" é então não mais que uma forma muito eficiente de deixar a própria vida muito sem graça às custas de uma imagem que só vai ser valorizada por outros chatos à altura. Beethoven, Mozart, e tantos outros, escreveram obras fenomenais, sublimes... Mas não é por conta da magnitude do feito desses que não vou me divertir até não poder mais com um batuque improvisado no vagão de trem, na volta pra casa (coisa que aconteceu semanas atrás)...

Críticas à arte, a qualquer forma de arte, dizem respeito à qualidade do trabalho artístico em si, enquanto tal... Mas na medida em que a função da arte é a promoção de alguma espécie de estado subjetivo, é profundamente reveladora a completa desconexão entre a arte em si, e a experiência subjetiva dela derivada. Arte elaborada e elevada pode levar a experiências deploráveis e medíocres, ao mesmo tempo que arte "medíocre e deplorável", sob a ótica de critérios esclarecidos e objetivos, pode levar aos mais invejáveis extremos emocionais.

Entre uma elevada erudição cheia de conceitos clássicos e hábil na arte de uma avaliação precisa e aguda dos detalhes da arte, e uma experiência emocional intensa frente ao prazer da expressão artística, fico com essa última, sem hesitar nem um pouco!

Não se iludam... Não estou defendendo a baderna sobre eventos organizados... Estou defendendo que a avaliação da complexidade é algo separado da avaliação da qualidade, e que esta última deve ter como foco principal o resultado final, que é a emoção humana (própria e dos outros ao redor). Paralelamente, estou defendendo que fechar os olhos a um enorme número de expressões artísticas existentes por aí por uma pretensa preferência a algo "superior" não traz benefício algum, apenas limita substancialmente as oportunidades viáveis para uma boa dose de divertimento e reduzem, portanto, as chances de uma vida feliz. Muito estudo e preparo pode levar a resultados assombrosos... Mas não é um simples acaso o fato de que as pessoas ligadas aos maiores feitos da criatividade humana compartilhavam um traço comum: eram apaixonadas pelo que faziam!

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