Monday, June 18, 2007

Ela tinha...


Lá estava, sentada ao balcão com um certo ar de estrangeireza ainda que nada em suas carnes ou seus panos contrariasse a brasileirice. É que ela tinha qualquer contraste evidente ainda que não imediatamente descritível, dessas diferenças cuja existência todos notam mas poucos se atrevem a esmiuçar. A pele... ah, a pele! Ela tinha uma pele cuja textura era macia até de olhar! O aroma se sentia ao longe mas nunca, nunca poderia ofender ao olfato. Também de exata medida eram seus lábios, com uma exatidão de volumes e traços tal que nem mesmo o homem vitruviano lhe daria um par justo. Ela tinha aqueles olhos de um verde profundo, mas não um verde liso, monocromático... Perdiam-se naquelas tonalidades toda uma constelação de pequenas manchas e detalhes que horas e horas da admiração mais devota jamais desvendariam em toda sua astrologia. Ela tinha em si todas essas cores na escolha dos adornos. Ela tinha as orelhas mais perfeitas, dessas de sussurar de perto. Dessas de roubar segredos. Ela tinha em seu contorno as curvas que diluem as agudezas da vida, e que a apatia retilínea dessas letras jamais reproduzirá. Ela tinha uma voz... não era uma voz comum... Era uma voz que parecia transportar ao nosso mundo todas as vibrações de algum além onde nada é imperfeito ou frio. Foi com essa voz que, de repente, disse ela que tinha um outro compromisso com alguém menos estranho, e antes que eu pudesse terminar essas notas, adeus.

1 comment:

Karina Tambellini said...

Ahhhhh, poxa.

Tão bonito, tão triste, tão verdade.