Monday, September 07, 2009

Mito #1: Você usa apenas 10% do cérebro


(Este post é a parte 2 de uma tradução dividida em 4 partes do artigo original que pode ser visto aqui em inglês.)

Fato: Você usa todo o seu cérebro.

Este mito dos 10% circula há um bom tempo. Não se sabe ao certo como esta mentira se originou, mas ela vem ganhando força ao longo do último século por meio de interpretações errôneas das descobertas da neurociência e citações jogadas tanto por cientistas quanto por pessoas comuns. A verdade é que usamos a totalidade de nossas mentes todos os dias.

Digamos, por exemplo, que enquanto você lê este artigo você está comendo um sanduíche. Conforme você lê, os lobos frontais do seu córtex cerebral estão engajados em pensar e raciocinar. Você está desfrutando de seu delicioso sanduíche graças aos lobos parietais, os quais são responsáveis pela sensação de sabor, textura e cheiro dos alimentos. Os lobos ocipitais ajudam você a processar as palavras que você vê nesta página, e os lobos tempoaris o ajudam a processar o que você escuta, como o barulho do sanduíche sendo mastigado.

Ao mesmo tempo, você acabou de piscar graças à sua área motora, e é devido ao cerebelo que você é capaz de segurar o sanduíche em uma mão bem como fazer tudo o mais que você faz que requer coordenação e movimento.

Sem ter que pensar sobre isso, você está respirando, digerindo seu sanduíche e fazendo o sangue circular graças ao tronco cerebral. Seu metabolismo e funções hormonais tais como as que controlam os níveis de água e açúcar no seu corpo estão agora mesmo sendo controlados pela sua glândula pituitária. E se você por acaso está em um ambiente frio, o hipotálamo é reponsável pelo fato de que você está tremendo um pouco.

Você vai se lembrar de ter lido isso graças ao hipocampo, cujo trabalho é transferir a memória de curto prazo para a memória de longo prazo. Ele também permite que você lembre que o ponto-chave deste exemplo elaborado é que você usa muito mais que 10% de sua mente.

7 comments:

Mel said...

Mas fato é que esse exemplo rebuscado não prova que eu uso mais de 10% do meu cérebro... só que todas as áreas trabalham ao mesmo tempo.
Agora ele teria que provar que elas estão atingindo mais de 10% de seu potencial enquanto trabalham ao mesmo tempo...
Ou então, esse post é tão falacioso quanto qualquer outro.

Axel Pliopas said...

Tá, concordo. Talvez raciocínio mais claro para desmistificar essa babaquice dos 10% seja o seguinte: quem ou como já foi medido o "potencial de referência"? Pra começar, o que está por trás da afirmação dos 10% é que o cérebro está com parte de seu potencial adormecido, não usado. Por que então 10%? Quem mediu? Por que não dizer que usamos apenas 1%? Ou eventalmente apenas 50% ou 90%? Nunca ouvi falar em um método para avaliar o "potencial máximo de referência". A idéia original é a de que "somos capazes de mais". O que é verdade, sim, mas não quer dizer que há áreas em nosso cérebro adormecidas. Quer apenas dizer que nosso cérebro é plástico pra caramba e pode-se moldar em novas formas.

Essa é só uma linha de raciocínio. Agora uma EVIDÊNCIA de que a idéia dos 10% é ridícula é a de que pessoas que desenvolvem novas habilidades não revelam estar usando áreas do cérebro que antes estavam desligadas. Ou seja, antes não havia nada "adormecido" que passou a ser utilizado. O processo de aprendizado alterou as mesmas áreas de sempre de modo a dar conta das novas atividades.

Isso, por um lado, quebra o mito dos 10% bem nas canelas. Por outro lado, é uma notícia ainda melhor: não há, por princípio, um batente superior. Estamos sempre usando nossa atual capacidade cerebral máxima, mas podemos trabalhar a melhora dessa capacidade tanto quanto o tempo, paciência e recursos permitirem.

Alguns dirão que isso que acabei de dizer é o mesmo que dizer que usamos "apenas uma fração do potencial de nosso cérebro", qualquer que seja esse potencial. Mentira. Trata-se de um romantismo de interpretação. É o mesmo que olhar para 15.000 fuscas e dizer "esse aço todo tem potencial de ser um belo navio cargueiro"! E daí? De que adianta afirmar isso? É "verdade", mas a afirmação vale para um simples romantismo. Lote os fuscas de carga e os jogue na água para ver o que acontece...

Em um sentido tão apelativo para a palavra "potencial", que significa que "o material está ali, e poderia ser arranjado de forma conveniente para se atingir este objetivo fantástico", podemos dizer que golfinhos usam apenas 1% se seus cérebros e poderiam ser treinados para disputar o próximo Nobel em física quântica. Eles têm neurônios suficiente para isso, estes só não estão ligados da forma mais conveniente. Nesse sentido amplo, isso é verdade. Mas e aí, você toparia investir todo seu excedente financeiro pelos próximos 20 anos em ações de uma empresa que promete treinar golfinhos para disputar o Nobel?

Historicamente, o mito dos 10% reflete o gosto popular por afirmativas de forte conotação positiva. Pacotes culturais que dizem "você é melhor do que parece, mesmo que você seja uma pessoa sensata e com uma visão muito clara de sua atual mediocridade". São irracionalidades difíceis de combater porque um de seus mais fortes "argumentos" implícitos residem em ser emotivamente agradáveis.

Mel said...

O importante é que vc disse "tá, concordo".

Axel Pliopas said...

!!!!

E tivemos aqui um exemplo clássico da racionalidade feminina em 100% de seu potencial. De sacanear. =P

Mel said...

Não foi 100%.
Foi só 10%.
E isso mostra que vc não manja nada de potenciais.
Pronto, acabei com a sua teoria! \o/

Mel said...

Mas, vamos lá.

"A idéia original é a de que "somos capazes de mais". O que é verdade, sim, mas não quer dizer que há áreas em nosso cérebro adormecidas."

Concordo. Aliás, essa idéia de termos áreas do cérebro especializadas já caiu por terra faz tempo. Temos áreas que respondem mais a certos estímulos, mas, se por um acidente perdermos uma área, outras vão dar conta do que ela fazia.

Isso significa que vc nunca vai ter uma área adormecida mesmo, quer vc use 10% do seu potencial cerebral ou 100%. Ou seja, o que vc disse não prova nada.

"Agora uma EVIDÊNCIA de que a idéia dos 10% é ridícula é a de que pessoas que desenvolvem novas habilidades não revelam estar usando áreas do cérebro que antes estavam desligadas."

Isso não é evidência de nada. Muito menos em CAPS. Isso só prova que os neurônios de pessoas que desenvolveram novas habilidades fizeram novas conexões.

Por que fizeram novas conexões? Por que não as fizeram antes? Por que não usaram esse potencial antes? Quer dizer que tinham esse potencial de fazer novas conexões e não o estavam utilizando?

Esse exemplo serve mais de contra-exemplo do que de exemplo propriamente dito.

" É o mesmo que olhar para 15.000 fuscas e dizer "esse aço todo tem potencial de ser um belo navio cargueiro"! E daí? De que adianta afirmar isso? É "verdade", mas a afirmação vale para um simples romantismo. Lote os fuscas de carga e os jogue na água para ver o que acontece..."

Como eu disse antes, acontece SIM de um cérebro fazer mais conexões e, depois disso, ser capaz de fazer coisas que não fazia antes. Se seus fuscas tivessem cérebro, eles boiariam.

Talvez usemos mais do que 10% do potencial do nosso cérebro. Talvez menos. Mas a sua argumentação ainda não me convenceu de nada.

Olga said...

Tô com ela e não abro.