Tuesday, June 14, 2011

Bom dia, São Paulo!

Sete e meia da manhã: trânsito. Todos os motoristas praticam incansavelmente a seqüência de engatar primeira, andar, frear e recomeçar tudo de novo. Vez ou outra, porém, os cálculos saem errados. Um carro encosta no outro. Não amassou. Nem riscou, na verdade. Sim, fez barulho. Mas com a moderna geração de peças plásticas toda a evidência da barbeiragem se dissipou em barulho e em... e em raiva. Do carro da frente desce um homem aparentando pouca idade, pouco auto-controle e pouca vontade de buscar entendimento. Começa a xingar. Com a mão aberta, dá uns tapas na lataria do outro carro. Diz que é trabalhador e pergunta se estamos de brincadeira (sim, o tempo verbal está certo; eu estava dentro deste segundo carro). Tentativas de iniciar um contato amistoso se perdem no vácuo da inteligência alheia. Ele tinha melhores argumentos: abriu o porta-malas do Escort e empunhou uma marreta, dessas de 5 kg. Circulou nosso carro com insinuações de uma destruição iminente. O que falar? A comunicação verbal não se mostrara viável. Ir embora? O trânsito está parado, ele alcançará nosso carro a pé e poderá fazer o test drive da marreta. Esperar. Ficar olhando para ele enquanto ele enumera as várias manobras complexas que sabe fazer com aquele poderoso martelo. Esperar ele se cansar de falar (o que deve acontecer rápido, já que ele não tem muita prática nessa arte). Finalmente acontece. Ele entra no carro (dele). Avança. Entre os dois carros se instala um providencial e indiferente caminhão tanque. Avançamos na medida em que o trânsito perdido. Incomodado com o fim precoce da querela, o tubarão martelo selvagem havia estacionado logo ali na frente. Esperou passarmos para dar um último enorme ponta-pé na porta enquanto desfilava uma patética lista de xingamentos comuns. Idiota: chutou a coluna de baixo. Um ponta-pé daqueles, dado à meia-altura da porta, teria feito um senhor estrago. Acertando a coluna, o único estrago que pode ter acontecido foi no próprio pé do animal. Um cara com essa disposição tão pró-ativa para confusões e brigas... Mais cedo ou mais tarde vai arrumar confusão maior. E se ele tivesse no porta-luvas uma arma? Teria nos ameaçado? Por conta de um esbarrão que nem chegou a riscar nenhum dos dois carros? Dez para as oito. Começa um novo dia em São Paulo!

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