Saturday, January 15, 2011


Você já sentiu alguma curiosidade sobre fenômenos sociais bizarros? O que você faria se, por exemplo, sentisse alguma curiosidade sobre as verdadeiras guerras empreendidas por torcedores de futebol? Biblioteca? Google? Entrevistas? Um pouco de conversa de bar para colher idéias?

A abordagem de Bill Buford é mais direta. Ele passou alguns anos frequentando torcidas organizadas, envolvendo-se nas brigas, conhecendo as pessoas dentro e fora dos campos. O resultado disso é um livro surpreendente, ao mesmo tempo repugnante e encantador, asqueroso e envolvente. Surpreendente, para dizer o mínimo.

Inúmeras vezes os detalhes de violência narrados causam náusea. Muitas vezes você tem certeza de que Bill Buford é só mais um doido varrido. Quem, com algum resto de saudável lucidez tiquetaqueando na cachola, se enfiaria no meio de uma multidão violenta em marcha de encontro a outra multidão, igual, tão ensandecida quanto, vindo pela mesma rua? Ou contra a polícia, que seja?

Não há nenhum argumento para defender Bill. Aceito que ele seja um louco e não vou transformar minha empatia pelo livro em nenhuma espécie de defesa desse semi-suicídio. Mas é fato de que muitos loucos, por atitudes nada defensáveis, acabam deixando legados interessantes. É o caso aqui.

Ver de perto como pessoas comuns são tomadas pelo espírito de multidão, o momento exato em que a pura e simples aglutinação de pessoas em um mesmo espaço sofre uma transformação de estado e ganha um espírito único... isso está nesse livro, e de uma maneira que nenhuma reflexão sociológica sobre o assunto, nenhuma análise distante, é capaz de superar.

Em tempo: Bill Buford resolveu ficar longe da violência. No mesmo espírito investigativo, passou um tempo em um restaurante aprendendo sobre o dia-a-dia dos cozinheiros e etc., e hoje é a isso que se dedica, a gastronomia!

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