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Que a ciência tenha uma relação íntima com o ócio, não é lá muita novidade. Tem que ser assim. Ainda que a necessidade seja tipicamente associada com as grandes invenções, não pode ser sozinha a responsável pelas grandes manifestações do intelecto humano. Assim fosse, a humanidade assistiria um progresso infinitamente mais rápido, acontecendo a passos largos onde quer que a necessidade se pronunciasse. O que vemos é o contrário. As nações do mundo que desfrutam de melhores condições de vida, portanto aquelas em que necessidades menos e menos urgentes são as únicas presentes, são as mais inventivas. É o ócio o ingrediente final, decisivo.
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Curioso mesmo é o caso da economia. Ou, mais precisamente, da ciência econômica. Aqui parece que ócio não é suficiente. Faz-se necessária também uma boa dose de tédio. Adam Smith começou a escrever "para passar o tempo", durante sua tediosa viagem pela França. Particularmente durante a parte mais chata da viagem, em Toulouse. David Ricardo, embora precocemente um expert em negócios e profundo conhecedor do mercado financeiro da época, apenas aos vinte e sente anos foi ler A Riqueza das Nações, e apenas acidentalmente. Estava entediado durante as férias maçantes que passava na estação inglesa de Bath, e encontrou na leitura uma forma de passar o tempo. E o que dizer de Marx, então, que à toda análise parece satisfazer os requisitos de um entediado-chato em tempo integral?
Não é sem pertinência que, em defesa de sua classe, brinca o professor Todd Buchhlolz: "Como a ciência econômica parece dever mais ao tédio do que qualquer outra disciplina, talvez os estudantes não devessem reclamar se os seus professores ocasionalmente retribuem o favor ou celebram a fundação."
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1 comment:
Eu so queria dizer que é muita sacanagem dizer "na parte mais chata da viagem, em Toulouse". Toulouse é muito legal, viu??
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