Friday, July 17, 2009

O mais humano dos anseios


Em 1916 um marinheiro britânico viu uma garrafa boiando no Atlântico Norte. Recolheu-a, abriu-a e leu a última mensagem enviada do Lusitania antes de seu afundamento, com 1.198 passageiros a bordo: "Ainda no convés, com umas poucas pessoas. Os últimos já partiram. Estamos afundando depressa. A orquestra continua a tocar, bravamente. Alguns homens perto de mim estão rezando com um padre. O fim está próximo. Talvez este bilhete seja..." E terminava aí.

O Lusitania, bem o sabe esta vasta internet, foi torpedeado no correr do sétimo dia de maio de 1915. Afundou em meros 18 minutos, próximo ao litoral sul da Irlanda. Dezoito minutos entre a explosão e o afundamento, e alguém procura uma garrafa e deixa uma mensagem...

No famoso mito da caverna, presente na obra "A República", de Platão, o chocante não é a descoberta de que há um mundo além do mundo de sombras... O perturbador é que o sortudo que faz essa descoberta decide voltar à caverna e tentar convencer todos os outros de que há mais no mundo, por mais impossível que seja a tarefa...

Há algo mais humano do que esse desejo de comunicar ao outro? Ainda que além de todas as possibilidades, ainda que além da nossa própria existência? Nossa voz parece carregar em si um pouco de nossa própria vida, eis que uma garrafa jogada ao mar salva um pouco o náufrago, ainda que a água esteja subindo rápido demais.

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