Por que algo como a ética precisa estar incrustrado nas leis profundas do universo que regem das pedras às nuvens de poeira cósmica por todos os cantos do universo? Por que algo de definição tão abstrata e subjetiva e inerentemente egoísta como "o bem" precisa estar previsto no grande Projeto da Existência?
Sou ateu. Até um tempo atrás, eu diria ser agnóstico. Politicamente correto e cientificamente prudente. Afinal, honestamente, se por um lado não podemos provar a existência de deus, também não podemos provar sua inexistência. Mas decidi pular do muro, e escolhi o lado: ateu declarado.
Mandei às favas a prudência lógica? Bem, ainda que seja muito improvável que uma hipótese surgida em nossa precária cultura com a função de acalmar nossos anseios afetuosos esteja correta acerca da existência de um criador, não, não mandei às favas a prudência lógica. Continuo admimtindo a possibilidade teórica de que exista um deus por aí, de qualquer tipo que seja. Minha escolha pela bandeira ateísta se deve contudo à idéia de que é preferível errar nesse sentido: ainda que eventualmente exista um deus, continua sendo preferível a visão ateísta das coisas.
Se existe um deus por aí, as religiões certamente não estão muito preocupadas com isso. Religiões dizem respeito a valores humanos, a esperanças e carências humanas, e não à interpretação da realidade e ao entendimento das forças superiores, quaisquer que venham essas a ser. Sempre têm mais força nas religiões palavras escritas ou ditas por um homem de importância na mitologia ou hierarquia religiosa do que as manifestações da própria natureza, que, se deus existe, não são outra coisa se não a própria manifestação de deus.
Newton acreditava em deus e escreveu seus Principia buscando entender a obra do criador. Newton nesse sentido foi de uma religiosidade mais sóbria que a de qualquer papa que já vi por aí. Bíblia pra que, se deus está em toda a parte e podemos fussar no mundo e descobrir sua estrutura e seus desígnios?!
Estamos melhor sem deus. Sem deus, a vida está por nossa conta e devemos admitir isso. A felicidade continua sendo desejável pela simples razão de que nos sentimos bem estando felizes e seria estúpido agir contra isso, principalmente se não há uma eternidade pós-vida pra reconsiderar a coisa toda. Desejos abstratos como a paz mundial e o bem de todos continua tendo seu lugar, com bases lógicas, mas sem deus por perto pra receber nossas preces covardes, somos forçados a reconhecer que a concretização ou não desses desejos depende só da gente. E a inexistência de forças sobre-humanas lutando eternidade afora facilita também a tarefa: se há um inimigo, não é o diabo ou um anti-cristo que seja, mas outros homens ocupando o mesmo aqui-e-agora que a gente neste ponto da história. Identificando o inimigo fica mais fácil combatê-lo.
Portanto, se você leva a sério seus valores religiosos, por questões práticas, para obter o melhor desse mundo, deixe de lado sua crença em deus e comece a agir como se só houvesse essa vida para fazer tudo o que interessa. Se deus existir, ele entenderá.
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