Saturday, August 25, 2007
Noções de direito
E assim são os processos, muitas vezes, liminar atrás de liminar, vamos vendo a árvore crescendo, o que ela parece se tornar... E, ainda assim, se a decisão final for a de cortá-la, em nada há que se comover com o peso das liminares anteriores. Basta cortá-la de uma vez.
Wednesday, August 22, 2007
Extemporâneo
Tuesday, August 14, 2007
Favela-Bairro
(na foto acima: Favela Real Parque, São Paulo)
Uma visão da implantação do Favela-Bairro em Acari, segundo Leticia Freire. Clique aqui para ler o texto na íntegra.
Os trechos selecionados (opinião minha):
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Para selecionar as áreas a serem atendidas foi elaborado um “ranking” de todas as favelas da cidade, baseado em critérios eminentemente técnicos, conforme o grau de dificuldade para se “chegar à condição de bairro”.
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A primeira etapa consiste na realização do concurso público e licitação dos escritórios de arquitetura interessados, que possuem autonomia para a elaboração dos projetos. Nessa etapa atuam basicamente duas coordenações: a Coordenação de Projetos, que estabelece as exigências, avalia e fiscaliza os projetos a serem executados, e a Coordenação de Participação Comunitária, que dirige o trabalho dos agentes comunitários que atuam na área como ponte entre a prefeitura e a comunidade. Definida a área e a proposta urbanística, membros da Gerência do Programa Favela-Bairro agendam, através da Associação de Moradores, uma assembléia na comunidade, com a finalidade de apresentar aos moradores o plano de intervenções e a equipe que o executará. Nessa assembléia, os moradores votam a aprovação do projeto, podendo sugerir modificações de acordo com as necessidades da comunidade.
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Na segunda etapa, tem início a execução do plano de intervenções aprovado, quando a favela é “invadida” por engenheiros, arquitetos, trabalhadores, fiscais, tratores e britadeiras. Durante essa etapa se intensifica a atuação dos agentes comunitários, que, diariamente na área, passam a acompanhar a realização das obras e fazer um trabalho de conscientização e mobilização dos moradores no sentido de que eles assumam o papel de co-responsáveis pela intervenção, colaborando e fiscalizando o processo.
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Com o término das obras, começa a etapa de regularização fundiária da favela, possivelmente a mais lenta de todas, visto que somente a partir de 2001 foram tomadas medidas importantes em nível local e nacional visando ao estabelecimento de mecanismos e políticas de regularização fundiária de longo alcance. Sendo essa questão da alçada da Secretaria Municipal de Urbanismo (SMU), essa secretaria é convocada a atuar junto a SMH na instalação do Posto de Orientação Urbanística e Social (POUSO) na área, cuja função é executar todo o processo de regularização urbanística. Contando com uma equipe básica formada por um engenheiro ou arquiteto, uma assistente social e um ou mais agentes comunitários, constituiu-se ao mesmo tempo num “ponto de referência dos moradores e ponto de vigília da prefeitura”.
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As maiores críticas têm sido em relação aos seus fracos reflexos no que refere aos indicadores de educação e renda das populações atendidas, assim como ao fato de ser implantado de modo desigual nas localidades.
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os moradores permanecem excluídos do processo de elaboração do plano de intervenção em sua localidade
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No que se refere aos moradores durante o processo da intervenção urbana, as agentes comunitários são as primeiras pessoas a lhes informarem sobre a intervenção. Antes mesmo do início das obras, elas passavam em cada casa da comunidade para divulgar, orientar e “preparar” os moradores para tal, função que lhes demanda um maior poder de tradução para convencer os mais “desacreditados”. Identificadas pelo uso de uma camiseta e crachá, são elas a quem os moradores recorrem para tirar dúvidas, fazer reclamações e sugestões sobre a intervenção na comunidade. Mas o que não estava previsto é que, conforme vão se tornando confiáveis, os moradores passavam a atribuir-lhes os mais diferentes papéis. Era comum, por exemplo, moradores entrarem na sala das agentes para desabafar um problema de ordem pessoal ou afetiva, pedir conselhos ou até relatar brigas com cônjuges ou vizinhos na expectativa de que mediassem o conflito, ajudando em sua resolução.
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Aos moradores que estavam nessa situação, eram dadas duas opções: a prefeitura comprava-lhes um outro imóvel na comunidade pelo mesmo valor avaliado ou ela lhes pagava o valor correspondente para que os próprios comprassem um imóvel onde desejassem – opção que era escolhida pela maioria.
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OBS minha: (isso é um puta de um problema, até onde sei... pois essas pessoas usam o dinheiro para outros fins e acabam indo morar em outras favelas)
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Quando iniciamos o trabalho de campo, era ostensiva a presença do narcotráfico. Conforme diziam antigos moradores, enquanto “antes era tudo discreto” e os traficantes respeitavam mais os moradores, “hoje eles acham que sabem de tudo” e tentam controlar inclusive as associações de moradores. Uma vez que, para a prefeitura, a associação de moradores é a instituição a quem se confere representatividade e poder de negociação junto à população, ao tentar obter o seu controle, o narcotráfico acaba interferindo também na implantação do programa nas localidades. Um exemplo disso foram as mudanças ocorridas numa das localidades em relação ao que seria construído num terreno onde algumas casas foram removidas.
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No plano de intervenção do programa apresentado em assembléia aos moradores, previa-se para essa área a construção de uma praça de lazer. Entretanto, o controle do tráfico exercido sobre a associação de moradores fez com que seu presidente fosse coagido a atender a um pedido do “dono da favela” – assim é chamado o chefe do tráfico -, solicitando então aos fiscais do programa uma mudança no projeto “em nome da comunidade”. Assim, ao invés da praça, construiu-se ali uma quadra, que, apesar de ser oficialmente destinada à livre utilização dos moradores para fins de lazer, tornar-se-ia na prática uma área de controle e uso exclusivo para a realização das festas e “bailes” promovidos por traficantes. Certamente, esse tipo de negociação ocorria nos bastidores, sem que os moradores tivessem conhecimento ou participação no processo decisório. Orientados a “não se meterem nisso”, os agentes comunitários, por sua vez, sentiam-se totalmente impotentes diante de tais situações.
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Acompanhando o processo de implantação do Programa Favela-Bairro em Acari, através da atuação das agentes comunitárias, pudemos observar e descrever o trabalho de fabricação de uma rede de relações, assim como a multiplicação das “pontes” – a que liga a prefeitura às agentes comunitárias através de uma organização não-governamental, a que liga os moradores à prefeitura através das agentes, e a que liga as agentes aos moradores através dos “representantes de rua” – analisando os efeitos produzidos por cada uma delas. Como diz Latour (2001) em relação às disciplinas científicas, essas alianças constituem precisamente aquilo que torna o fluxo sanguíneo do programa mais rápido e com uma taxa mais elevada de pulsação.
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constatamos que os planos de intervenção nunca são transpostos exatamente da maneira como esperada pela prefeitura nas localidades, mas estão sujeitos a uma série de transformações durante o processo de sua implantação, resultante das ações de diversos atores (humanos e não-humanos), previstos ou não, tais como: prefeitura, moradores, organizações não-governamentais, agentes comunitários, fogos, engenheiros, ruas, fiscais, empreiteiras, associações de moradores, escritórios de arquitetura, tráfico de drogas, polícia, mapas, sentimentos, operários, máquinas, cimento, memória, britadeiras, relatórios…
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Outros links relacionados:
A cidade como integração dos bairros e espaço de habitação, por Elisabete França e Gloria Bayeux
Favela-Bairro: êxito ou fracasso das políticas públicas de urbanização?, por Luíza Duarte
Manifestação contra a violência policial em Acari (RJ)
Sunday, August 12, 2007
Dia dos Pais
Pensei em fazer aqui alguma piada sarcástica, dessas que tão frequentemente faço no papel de pseudo-traumatizado que vez ou outra fico achando que sou na verdade um pseudo-desencanado. Morrendo de medo da segunda hipótese, deixei a idéia de lado. E vários outros pensamentos também.
Mas a mente humana (ou, para todos os efeitos, ao menos a minha mente, já que não posso garantir nada pelas outras) é teimosa demais e não pára de saltar de um assunto a outro. Faz considerações sem fim. Imagina, sonha, relembra, pondera, teoriza, interpreta, reinterpreta, tetrapreta e planeja.
Eram tantos assuntos, e tão diversos, tão sem respeito pela distinção entre aqui e agora, ontem e muito além do amanhã, que eu não saberia recapitular meus pensamentos de agora há pouco em algumas míseras linhas.
E, no entanto, sempre há um mágico fio condutor que de alguma forma une nossos devaneios mais díspares. Pensei em como meu pai sempre buscou criar a mim e aos meus irmãos. Para muitas coisas as respostas (sob o olhar de um adulto) eram tão simples; tenho certeza de que ele as tinha. Nunca as deu. Nos deixava procurando, nos ajudava a lidar com os percalços dos caminhos... Mas encontrar as respostas era algo que ficava por nossa conta. Isso até nos assuntos mais triviais. Às vezes ele se sentava ao meu lado, conversava, ouvia e falava. Mas sempre orientando a buscar o caminho, nunca dando direções definidas e prontas.
Meu Deus! O quão difícil deve ser fazer isso! Às vezes ficamos loucos de vontade de fornecer respostas prontas aos outros, principalmente quando vemos pessoas próximas em momentos de crise pronunciadas. E se de adulto para adulto a postura que meu pai adotava já demandava um enorme sangue-frio, imagine com crianças... com os próprios filhos!
Fiquei pensando nisso e pensando que, se meu pai aguentou fazer isso com os próprios filhos, posso aguentar e me segurar com relação às pessoas do meu convívio que às vezes desafiam a palpites mais intrometidos. E então pensei: como sou arrogante... como se EU tivesse alguma resposta definitiva para algo... Nunca há como saber. Preciso retomar minhas perguntas também.
O fato é que saber deixar que os outros encontrem as próprias respostas torna-se muito mais natural quando vemos as pessoas por compelto, além do que uma crise momentânea faz parecer. Quando enchergamos nelas todo o potencial adormecido que, para acordar, precisa reencontrar a fé em si e sua fonte interior de poder e controle. Isso não pode vir de fora. De fora o máximo que podemos fazer é inspirar esse reencontro, e às vezes eu gostaria de se melhor nessa tarefa de inspirador.
Lembrei de vários momentos com meu pai e tive saudades. Preciso ir vê-lo logo.
E, voltando a mente a toda aquela salada de pensamentos variados que antes poderiam inspirar até um certo desespero, um incômodo tenso e ansioso, de um modo muito natural e indescritível tudo o que senti foi uma serena paz.
Consegui
Descobri que cantar pedalando ajuda a distrair do frio, mas não é uma prática recomendável em trechos muito povoados.
Foi uma viagem científica. Constatei que, se a distância é psicológica, o frio definitivamente não é!
Novos recordes, a missão
Conecte-se
Tempos atrás jurei para mim mesmo não comprar livros novos até terminar ao menos boa parte das leituras que tenho pendentes em minha estante. Andando pela Livraria Cultura do Shopping Villa-Lobos esses dias, matando o horário de almoço, acabei quebrando minha promessa (para a alegria sarcástica de Eduardo Giannetti, claro). Temi pela indigestão de minha consciência, mas por fim vi que fora uma sábia decisão. Linked, de Albert-László Barabási, é um livro excelente.
O que é que neurônios, internet, atores de cinema, a sociedade e cadeias tróficas em diferentes ecossistemas têm em comum? Todos são sistemas passíveis de descrição por redes ou grafos. Entender as propriedades gerais desses grafos leva, portanto, a um entendimento simultâneo de diversos aspectos de todos esses diferentes sistemas.
É impossível deixar de sugerir uma visita à home-page do autor , cheia de links para artigos interessantíssimos (recomendados, contudo, para serem lidos após a leitura do livro).
Friday, August 10, 2007
Quero voar
Esta é a chamada aproximação por instrumentos. O piloto olha apenas para os instrumentos do painel e, sem ter nenhuma visibilidade para fora da aeronave, sabe o tempo todo aonde o avião está.
Quero voar.
Fazendo uma hélice
O vídeo acima fala por si só. É uma maravilha...
O que me resta comentar, antes que venham as indignações alheias, é a distinção entre "a hélice" e "o hélice", tal como escrevi no post abaixo. No meio naval, sei lá eu por qual razão histórico-cultural, hélice é masculino. O navio tem um hélice, enquanto o avião tem uma hélice... Vai entender...
Cavitação e desafios tecnológicos
O que é isso? É um modelo de hélice de navio sendo ensaiado em laboratório, em um chamado Túnel de Cavitação. Os filamentos de gás que saem das pontas das pás e também da região central constituem o próprio fenômeno de cavitação, e não são formados por ar, mas sim por água. Isso mesmo, água na fase vapor.
Mas... como a água se vaporiza assim? A água vai para a fase vapor por dois caminhos: mudanças de temperatura, ou mudanças de pressão. No caso acima, o que ocorre é uma mudança de pressão por conta do funcionamento do hélice.
Em um laboratório, como o mostrado na foto abaixo, o desafio é medir todas as propriedades de um pequeno hélice a fim de entender quando e como a cavitação ocorre. Um bom hélice é capaz de funcionar sob condições extremas sem desenvolver cavitação. Afinal, para vaporizar a água muita energia é consumida, logo um hélice cavitando joga fora muita energia do motor que poderia ser aproveitada para produzir movimento.
Medidas de pressão, temperatura, rotação, torque e tração, além de registros de vibração e gravação de imagens do fenômeno, são ingredientes básicos de um bom trabalho desse tipo. Pode parecer apenas uma brincadeira quando você está no laboratório com modelos de hélice de apenas dez centímetros de diâmetro, mas quando você pensa nas hélices reais, de mais de oito metros de diâmetro e funcionando a quase 100 rotações por minuto, dá para se ter uma idéia da violência dos fenômenos em questão.
O vídeo abaixo mostra exatamente isso... O hélice de um navio de 278,8m de comprimento... Trata-se de um "pequeno" hélice de 8,35m de diâmetro. Para movimentá-la é necessário um motor com 74700 HP de potência. É muita potência... É o suficiente para me lançar ao espaço a mais de 4000 km/h em apenas um segundo. (que comparação mais inútil).
Thursday, August 09, 2007
Resumindo
Friday, August 03, 2007
Thursday, August 02, 2007
Uma velha história
- Foi tão triste gente... Minha vó morreu uma semana antes da FUVEST!
- Nossa, tadinha! Mas... ela tava prestando o que?
A gente faz do seu jeito!
Noite de domingo. Fome. Barganhei um lanchinho e minha irmã, cheia da grana, cedeu. Deixamos o carro no estacionamento e subimos. Primeiro susto: uma fila enorme. Olho para a cozinha, e estão todos movimentados. Tudo funcionando rápido, todos trabalhando, muitos lanches saindo direto da chapa. A chama alta sob o exaustor. Alta até demais! Fumaça, muita fumaça... As pessoas cmoeçam a tossir, um extintor desesperado tenta fazer algo a respeito. Eu fico é feliz. Que vão embora todos pra eu ir pra frente lá na fila e ser logo atendido. Um primeiro comentário indignado surge:
- Quem foi que pediu bem passado?
E vem a gerente:
- Não poderemos continuar com as vendas dadas as condições, desculpem...
Tento salvar meu estômago:
- Oi, desculpe... Eu não ligo pra fumaça, e tem uns lanches já prontos lá...
Não tem jeito. Nada. Chamo minha irmã e vamos embora.
No estacionamento, surge o Rafael, buzinando. Que coincidência. Aviso ele do infortúito:
- Cara, desencana... Você não vai comer hoje aqui não... A cozinha tá meio que pegando fogo.
- Sério? É incêndio então? Eu vi a fumaça lá de fora mas, sei lá, achei que fosse só mais vapor, já que está um dia tão frio!
Delay?
Dava pra começar a filosofar aqui sobre a cultura da blogagem, mas não me considero um blogueiro. Também dava pra falar sobre privacidade, internet mas... tô com sono, no momento. E, no fundo, vou continuar contando no blog o que der na telha e terei que me virar pra achar outros assuntos quando o blog for mais rápido que eu!
Ponderando
Diante de qual risco você abriria mão dos seus sonhos? Quando o risco do prazer justificaria a monotonia de ficar no chão?
I fly because it releases my mind from the tyranny of petty things . . .
Antoine de Saint-Exupéry
The man who flies an airplane ... must believe in the unseen.
Richard Bach
The air up there in the clouds is very pure and fine, bracing and delicious. And why shouldn't it be? —it is the same the angels breathe.
Mark Twain, ‘Roughing It,’ Chapter XXII, 1886
E, um achado excepcional das minhas fuchicações pela net:
Rotina
- Fala Adrí, beleza?
- Opa, beleza!
- Vou te fazer uma pergunta que venho fazendo já há cinco anos!
- Diga...
- Vai almoçar pela USP hoje?
- Ah, vou sim... mas pensei que fosse outra pergunta...
- Qual?
- ... "passou de física?"